Em hospitais privados, onde a exigência por excelência técnica anda lado a lado com a pressão por humanização, compliance e eficiência financeira, o papel do DHO vai muito além de estruturar treinamentos. O DHO precisa moldar cultura e comportamento humano com ciência, propósito e impacto. 

A neurociência organizacional mostra que comportamento sustentável nasce de significado, não de controle. E o que oferece significado coletivo dentro de um hospital? Uma visão clara, inspiradora e compartilhada.

 O cérebro da equipe precisa de direção

Profissionais da saúde atuam em ambientes emocionalmente intensos. Quando não têm clareza sobre o propósito institucional, o cérebro opera em “modo de sobrevivência”, ativando estruturas como a amígdala — responsável pela vigilância, medo e reatividade.

Isso gera mais conflitos, resistência a mudanças, falhas de comunicação e queda no desempenho assistencial. Já quando a visão é clara, emocionalmente conectada e coerente com a prática diária, ela ativa regiões cerebrais ligadas à motivação, empatia e planejamento — como o córtex pré-frontal e o sistema de recompensa dopaminérgico. 

O resultado? Melhor colaboração, menor desgaste emocional, mais foco em segurança e mais engajamento.

Os sintomas de uma visão que não funciona

Você provavelmente já viu (ou viveu) isso:

  • Técnicos de enfermagem dizendo “cada um faz de um jeito”
  • Falta de padrão entre plantões e setores
  • Conflitos entre áreas clínicas e administrativas
  • Alta rotatividade na recepção ou nas equipes de apoio
  • Profissionais dizendo: “só cumpro o protocolo, não sei o propósito disso” 

Esses sinais indicam que a cultura está fragmentada. E sem uma visão forte, o cérebro coletivo da organização se dispersa.

O que uma visão bem construída provoca no comportamento

Quando uma visão organizacional é clara, coerente com os valores da equipe e repetida nos rituais do hospital, ela provoca:

  • Aumento da empatia entre áreas (graças à liberação de ocitocina)
  • Redução de estresse e ambiguidade (pela desativação do sistema de ameaça)
  • Alinhamento espontâneo a comportamentos de excelência (por reforço da rede de recompensa)
  • Integração entre propósito profissional e institucional (construindo cultura)

Ou seja, visão não é frase bonita na parede. É engenharia comportamental.

Exemplo prático: transformação em um hospital privado

Um hospital de alta complexidade em São Paulo tinha uma visão técnica e genérica: “Ser referência em medicina avançada”. Após escuta ativa com lideranças e linha de frente, o DHO redesenhou essa visão para:

“Salvar vidas com acolhimento, excelência e integridade todos os dias.”

A nova visão passou a ser usada no onboarding, nos programas de liderança e nas rodas clínicas. Casos reais de pacientes passaram a ser contados nas reuniões administrativas.

O resultado em 8 meses:

  • Clima organizacional melhorou 34%
  • Turnover da enfermagem caiu 22%
  • NPS de acompanhantes subiu 48%
  • As falhas por erro de comunicação entre equipes foram reduzidas significativamente

Não foi mágica. Foi neurociência aplicada à cultura.

 

Por que isso funciona?

Porque o cérebro humano precisa saber:

  • Para onde está indo
  • Por que aquilo importa
  • E qual seu papel no todo

Sem essas respostas, o cérebro busca segurança nos atalhos: resistência, rotina mecânica e autoproteção.

Já com uma visão inspiradora, clara e repetida com coerência, o cérebro se conecta ao propósito — e o comportamento muda. As pessoas se engajam não porque foram cobradas, mas porque faz sentido.

Como o DHO pode fazer isso acontecer

  1. Envolva a equipe assistencial e de apoio na construção da visão. Pergunte: “O que a gente quer entregar para o paciente e para nós mesmos todos os dias?”
  2. Traduza a visão para atitudes práticas. Como essa visão aparece na recepção? No centro cirúrgico? Na liderança?
  3. Reforce a visão em todas as comunicações internas e rituais. Seja no onboarding, na SIPAT ou nas reuniões clínicas.
  4. Use histórias reais. O cérebro aprende melhor por narrativas do que por bullet points. Um caso de sucesso vivido pela equipe tem mais poder de transformação do que qualquer slide.
  5. Integre a visão com o projeto de acreditação, segurança e humanização. Isso evita discursos soltos e constrói coerência institucional.

 

Reflexão para quem lidera DHO no hospital:

O seu hospital tem uma visão?

Mas ela vive nas atitudes da equipe ou só mora no crachá?

O seu DHO opera para cumprir processos — ou para moldar propósito e comportamento?

Você pode ter os melhores protocolos e os piores resultados se o cérebro das pessoas não estiver com você.

Desenvolvimento humano na saúde exige ciência, não só boas intenções.

A neurociência organizacional nos mostra que visão estratégica molda cultura, melhora clima e protege o paciente.

 

E isso começa pelo DHO — com coragem de provocar, clareza para estruturar e constância para sustentar.

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Márcia Souza
Psicóloga, Neurocientista e Especialista em DHO com foco em Cultura Organizacional e Aprendizagem Corporativa na Saúde

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