Depois de sucessivos problemas com a divisão de consumo, a fabricante de cosméticos Coty anunciou ontem uma baixa contábil de US$ 3 bilhões das marcas que comprou da Procter & Gamble (P&G) há quatro anos; e um plano de reestruturação orçado em US$ 600 milhões. A Coty, que no Brasil é dona das marcas Monange, Bozzano, Risqué e Paixão, comprou 43 marcas da P&G há quatro anos por US$ 12,5 bilhões, em um pacote que incluiu Koleston, CoverGirl, OPI e Wella.
A empresa analisou o valor dessas marcas e decidiu fazer uma baixa contábil, de US$ 3 bilhões, cujos efeitos são esperados para este ano. Os executivos da Coty dizem que a integração das marcas da P&G levou mais tempo e foi mais complexa do que o esperado. Nesse meio tempo, a maior divisão de marcas da Coty, responsável por 40% das vendas e que inclui grifes populares como Max Factor, começou a perder mercado para nova marcas. Desde a compra das 43 marcas da P&G, em julho de 2015, a ação da Coty na bolsa de Nova York caiu 58,7%. O papel registrou ontem a maior queda do índice S&P 500, de 13,51%.
A Coty, controlada pela JAB Holding Company, anunciou ontem corte de funcionários, redução de portfólio e de número de locais onde atua. O plano vai custar US$ 600 milhões e será implementado até 2023. A empresa também informou que programas anteriores somam US$ 160 milhões. O novo plano tem como meta fortalecer as marcas, expandir margens e cortar despesas. A empresa – que disputa o mercado de cosméticos com L’Oréal, Unilever, Natura &Co, Estée Lauder, P&G e Beiersdorf, dona da Nivea – pretende reestruturar e reduzir sua dívida de US$ 7,38 bilhões, segundo dados do terceiro trimestre fiscal, encerrado em março deste ano.
Pierre Laubies, presidente da Coty, disse que nos últimos meses o foco foi estabilizar as operações e identificar um caminho para a recuperação da companhia. “Nosso plano nos permitirá construir um negócio melhor nos próximos quatro anos, enquanto nos preparamos para o crescimento”. Em teleconferência com analistas, o executivo afirmou que a prioridade agora não é ganhar participação de mercado, mas parar o movimento de “erosão”. Laubies assumiu o comando em novembro de 2018 após renúncia de Camillo Pane. Ele trabalhou na Jacobs Douwe Egberts (JDE), que fabrica as marcas de cafés Pilão e L’OR e que também pertence à JAB Holding.
No plano de reestruturação divulgado ontem, a fabricante de cosméticos planeja atingir fluxo de caixa livre de US$ 1 bilhão até o ano fiscal de 2023 e obter margem operacional entre 14% e 16%. Em relação às finanças, foram renegociados contratos com bancos para flexibilizar prazos de pagamentos e obtida linha de crédito superior a US$ 2 bilhões. É projetado um índice de alavancagem de dívida líquida sobre lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) abaixo de 4 vezes no exercício fiscal de 2023.
Para reduzir custos tributários, a empresa criará uma sede em Amsterdã (Holanda), que funcionará a partir de janeiro de 2020. Além disso, serão criadas equipes comerciais regionais nas Américas, Ásia-Pacífico e Europa, Oriente Médio e África com unidades de marketing para as divisões de luxo e de consumo. A divisão profissional manterá sua própria unidade, com foco em salões de beleza.
No ano fiscal de 2018, a receita líquida total cresceu 0,4%, a US$ 9,4 bilhões. O prejuízo caiu 60% no prejuízo, para US$ 168,8 milhões. No terceiro trimestre fiscal de 2019, encerrado em março, a receita atingiu US$ 1,99 bilhão, com recuo de 3,7%, em base anual. Os dados incluem as divisões de luxo, com produtos da Gucci e Tiffany, e profissional, como Wella. O Brasil é um dos principais mercados da companhia. A Coty é a vice-líder em tintura para cabelo e a terceira colocada em desodorantes. O mercado brasileiro ajudou a impulsionar o avanço de 11% na receita líquida do terceiro trimestre fiscal, para US$ 541 milhões, na região que abrange Ásia, América Latina, Oriente Médio e África.
Fonte: Jornal Valor Econômico – São Paulo
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