Covid-19 cai nos países ricos e emergentes viram novo foco

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Enquanto mundo desenvolvido começa a sair das medidas adotadas para conter a epidemia, número de casos continua crescendo nos países em desenvolvimento, que são menos preparados para enfrentar as crises na saúde e na economia.

Por Naoyuki Toyama, Kazuhiro Kida e Kazuya Manabe — Nikkei, de São Paulo e Tóquio

Enquanto os EUA e a Europa se preparam para reativar suas economias, os novos casos de coronavírus crescem rapidamente em vários grandes países em desenvolvimento. As novas infecções nos países emergentes ultrapassaram as registradas no grupo de países ricos, quando o número de novos casos confirmados alcançou 50 mil, na última sexta-feira.

Os países em desenvolvimento se apressam em reativar suas economias apesar da fragilidade dos sistemas de saúde, o que gera temores de uma explosão de infecções. Epidemias severas da covid-19 em países altamente endividados poderão continuar obstruindo a economia global.

O índice Nikkei examinou casos de coronavírus empregando dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). O número de novas infecções nos países desenvolvidos caiu mais de 40% desde o início de abril, mas o vírus continua a se propagar nas economias emergentes.


Na Rússia, os novos casos ultrapassavam a marca de 10 mil há mais de uma semana, com uma série de contaminações nos hospitais e instalações militares. Quase dois terços, ou 64%, das infecções têm ocorrido em hospitais, de acordo com uma instituição de pesquisa afiliada ao governo.

Com o número de novos casos também superando a marca de 10 mil por dia, o Brasil já é o sexto país com o maior número de mortos no mundo, atrás dos EUA, Reino Unido, Itália, Espanha e França. As favelas de São Paulo e outras cidades grandes se tornaram incubadoras de covid-19, com muitos ignorando as orientações de ficar em casa.

O risco também está crescendo na África. Até agora houve mais de 40 mil casos confirmados e cerca de 1.300 mortes causadas pelo coronavírus no continente, segundo a OMS. Se não forem tomadas medidas para evitar a propagação, nada menos que 44 milhões de pessoas poderão ser infectadas e até 190 mil pessoas poderão morrer na África nos próximos 12 de meses. A OMS alerta que a pandemia parece especialmente forte na África do Sul e em Camarões.

Nos países em desenvolvimento — onde os sistemas de saúde pública são mais frágeis do que nos países desenvolvidos — a pandemia tem maior probabilidade de levar ao colapso os sistemas de assistência médica e a mais mortes.

Segundo a OMS, os gastos médios com assistência médica, como parcela do Produto Interno Bruto (PIB) nos países emergentes são de 3%, muito mais baixos que os 8% observados nos países desenvolvidos. Na Rússia, Brasil, Irã, Índia e no México, onde o coronavírus está se disseminando rapidamente, as despesas com saúde, como percentual do PIB, ficaram abaixo da média mundial de 6%.

No Brasil, a assistência médica gratuita é garantida pela Constituição. Mas não há número suficiente de hospitais públicos para atender à demanda. Enquanto os hospitais que prestam serviços aos ricos têm sobra de leitos nas Unidades de Terapia Intensiva, os pobres, que dependem de hospitais públicos, estão morrendo em grande número — muitos antes de receber tratamento adequado.

No Irã, o coronavírus representou um baque a mais para um sistema já fragilizado pelas sanções econômicas impostas pelos EUA. A escassez de respiradores, máscaras e aventais de proteção em hospitais elevou a taxa de mortalidade.

Apesar de enfrentarem uma escalada das infecções, muitas economias emergentes estão suspendendo as ordens de ficar em casa e reabrindo atividades. A Índia, que introduziu um confinamento nacional em março, autorizou a retomada da atividade econômica em algumas áreas do país onde o número de casos é pequeno.

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, chamou a covid-19 de “só uma gripezinha” e diz aos cidadãos que a paralisação econômica devido ao coronavírus vai acabar com a economia e os empregos.

Na quarta-feira passada, o governo russo discutiu o abrandamento das restrições sobre as atividades, dependendo do número de novos casos em cada região. Em Moscou, construtoras e indústrias manufatureiras poderão voltar a funcionar a partir de hoje.

Os países em desenvolvimento têm poucas alternativas a não ser tentar restabelecer a atividade, devido à sua fragilidade fiscal e econômica. Ao contrário dos países desenvolvidos, eles não podem oferecer grande ajuda em dinheiro ou outro tipo de auxílio, o que significa que a insatisfação da opinião pública pode se acirrar rapidamente. O Irã, por exemplo, atenuou as restrições à atividade econômica apesar de os especialistas advertirem sobre a precocidade da medida.

Os déficits públicos estão explodindo nos países em desenvolvimento por meio de uma combinação entre determinações para que a população permaneça em casa e o aumento dos gastos dos governos, o que afasta investidores estrangeiros. O valor das moedas desses países está caindo em decorrência disso, o que eleva suas dívidas externas. Mais de 100 países já solicitaram empréstimos emergenciais ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

A pandemia deverá prosseguir se a explosão de contaminações nos países pobres não puder ser evitada. Isso poderá resultar em calotes generalizados da dívida pública, o que jogará a economia mundial num estado de caos ainda maior.

Isso chama a atenção para a necessidade urgente de ajudar sistemas de assistência médica claudicantes e dar respaldo à economia mundial. (do Valor Econômico)

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