UOL 
Jornalista: Giulia Granchi


06/04/20 - O plasma sanguíneo de pessoas curadas da covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, será testado em pacientes que estão usando ventilação mecânica ou que estão próximos à necessidade do aparelho.

O estudo da eficácia do método será feito por consórcio entre três hospitais paulistas: Hospital Sírio-Libanês, Hospital das Clínicas e o Hospital Israelita Albert Einstein. O protocolo foi autorizado pela Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) no último sábado (6) à noite.

"Estamos estudando a entrada do Hospital Aliança, em Salvador, no projeto. Quanto mais hospitais diferentes usando o mesmo protocolo, melhor para a comparação e comprovação da eficácia — ou a falta dela — na técnica", explica Luiz Vicente Rizzo, diretor-superintendente de pesquisa da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein ao UOL VivaBem.

Como funciona o tratamento

De acordo com Rizzo, a técnica de transferir a "imunidade" de um indivíduo curado de doença infecciosa para outro que está no processo dessa doença há mais de 100 anos. "Foi usada durante muito tempo no tratamento de coqueluche, tétano, durante as epidemias de Sars e Mers e ocasionalmente em pacientes com ebola", aponta.

Os pesquisadores esclarecem que o plasma — parte líquida do sangue — de quem se recuperou tem anticorpos chamados de "neutralizantes", que podem ser úteis para compensar incapacidade do sistema imunológico do indivíduo doente e antecipar sua melhora.

"Pacientes que se recuperaram de uma doença têm anticorpos permanentes gerados pelo sistema imunológico que ficam no plasma sanguíneo, o componente líquido do sangue. Para transformar isso em medicamento, o plasma é coletado e devidamente testado para assegurar que tenha um bom nível de anti-SARS-CoV-2. Quando injetado em um novo paciente, o plasma convalescente - fornece "imunidade passiva" até que o sistema imunológico do paciente possa gerar seus próprios anticorpos", explica Nelson Tatsui, diretor-técnico do Grupo Criogênesis e hematologista do HC-FMUSP.

Expectativas dos médicos é melhora mais rápida

"Nossa maior expectativa com o tratamento é que o paciente se recupere melhor e de forma mais rápida, o que contribuiria para que leitos e aparelhos que auxiliam na respiração atendessem mais pessoas", esclarece Rizzo.

O protoloco do Einstein, especificamente, focará em 30 pacientes, podendo ter o número aumentado conforme o andamento. "A expectativa é de cerca de uma centena apenas no nosso hospital", informa.

Quem pode doar

O diretor-superintendente de pesquisa do Einstein explica que agora, o hospital está na fase de reunir doadores. "Estamos ligando para quem deixou seu nome como possível voluntário e vendo quem está disponível."

Os escolhidos serão os que seguirem os critérios:
- Ter mais do que 18 e menos do que 60 anos
- Ter mais do que 55 kg
- Não ter mais o vírus
- Não ter nenhuma outra infecção transmissível
- Possuir os anticorpos neutralizantes
"Alguns pesquisadores acreditam que mulheres não poderão ser doadoras por produzirem um anticorpo potencialmente perigoso para doenças pulmonares durante a gravidez. No entanto, há maneiras de certificar que as voluntárias não tenham, acreditamos que não será um impedimento", infica Rizzo.

Interessados em doar podem entrar em contato com banco de sangue do Hospital Albert Einstein.

Como é feita a coleta

Para a segurança dos voluntários, a coleta é feita na casa de quem se dispôs a doar sangue — assim, o indivíduo não se coloca em risco indo ao hospital.

De acordo com o especialista do HC-FMUSP, um dos melhores métodos de coleta de plasma destes indivíduos convalescentes é a tecnologia de aférese. "É um procedimento no qual um componente sanguíneo é separado e removido do organismo através da utilização de um equipamento automatizado. Essa tecnologia está presente nos melhores bancos de sangue do mundo", comenta.

No caso do novo coronavírus, Nelson acredita que é possível atender até 3 pacientes com apenas uma coleta. "A maior vantagem da Aférese é a possibilidade de retirar de um único doador uma quantidade suficiente para atender 2 a 3 pacientes graves de covid-19. Portanto, considerando a gravidade da situação e ausência de um tratamento específico, estes dados preliminares demonstram um grau aceitável de racionalidade para o uso de plasma convalescente", finaliza.

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