Crescimento das healthtechs promete revolucionar setor da saúde

Foto: Shutterstock

Com investimentos que ultrapassam a marca de 90 milhões de dólares somente no primeiro trimestre de 2021, as healthtechs ganham cada vez mais espaço no mercado

POR MIRIAM BOLLINI | Consumidor Moderno

O setor da saúde está atravessando um período turbulento desde o início da pandemia de Covid-19. De um lado, a doença cria uma tensão contínua e sobrecarrega todos os envolvidos com o setor e, de outro, as inovações tecnológicas que já vinham acontecendo são aceleradas, principalmente com o crescimento das healthtechs.

Isso porque algumas tecnologias relacionadas à saúde que, aparentemente, demorariam algum tempo para serem adotadas, foram aceitas rapidamente e se tornaram realidade. É o caso da telemedicina – o atendimento médico remoto – que permite um menor deslocamento das pessoas e muda a relação paciente vs profissional da medicina.

E, para fomentar esse mercado tão escalável, o ano de 2021 começou com aportes financeiros em volumes excepcionais para as startups que oferecem soluções aliadas à tecnologia para o segmento da saúde, a definição clássica para as healthtechs. No Brasil, os investimentos somaram 90 milhões de dólares em negócios inovadores de saúde somente no primeiro trimestre do ano, segundo o último relatório do Distrito sobre healthtech, de março de 2021. Essa cifra corresponde a 85% do total investido em todo o ano de 2020.

A expectativa é que este ano se encerre com mais de 200 milhões de dólares investidos em healthtechs no País.

Mas, afinal, qual o diferencial dessas startups?

Segundo Tiago Ávila, líder do Distrito Dataminer, braço de inteligência de mercado da plataforma Distrito, as soluções trazidas pelas startups descomplicam e trazem agilidade para setores historicamente complexos e de lentas mudanças.

“A tecnologia, unida a processos mais leves que seguem a premissa de ‘errar rápido’ para aprender a entregar a melhor solução, faz com que essas empresas inovadoras sejam vistas como uma saída importante em um momento delicado na saúde, no qual a velocidade de tomada de decisão precisa ser alta e o distanciamento social força e abre portas para o uso intensivo de mais tecnologia”, esclarece.

E são muitas as vertentes de atuação das healthtechs. Desde Big Data e analytics para análise de altos volumes de dados para aplicações voltadas à área da saúde, até o desenvolvimento de prontuário eletrônico para aumentar a eficiência dos atendimentos.

Por isso, ainda de acordo com o relatório do Distrito, já foram mapeadas no Brasil 747 healthtechs até março de 2021, com o aumento de 28 novas companhias em um comparativo apenas com o mês anterior.

Desse total, 24% das startups do setor oferecem soluções ligadas à gestão, seguidas por modelos de acesso à informação, com 16%.  Em terceiro lugar, ficam as healthtechs ligadas à criação de marketplaces de saúde, com 13%.

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Fonte: Distrito

 

E a relação das soluções oferecidas por essas startups estão intrinsecamente ligadas com a mudança nos hábitos e estilo de vida da sociedade e do papel da tecnologia para ela.

Veja que dado interessante: segundo a ONU, atualmente existem cerca de 705 milhões de pessoas com mais de 65 anos de idade no mundo, contra 680 milhões de crianças entre 0 e 4 anos. Fazendo essa relação, hoje existem mais avós do que netos. E por isso, com a expectativa de vida aumentando, e com idosos cada vez mais saudáveis, produtivos e conectados, é normal que surjam tendências voltadas para esse público, inclusive em healthtechs.

Mas, ainda de acordo com o relatório do Distrito, existem no Brasil apenas 24 startups voltadas à terceira idade. É o caso da Nilo Saúde, que nasceu em 2020, com o propósito de entregar soluções em saúde de maneira digital e acessível, com foco em pacientes a partir dos 50 anos.

Os atendimentos digitais contam com horários mais longos, focando na saúde de maneira integrada e longitudinal, que visam desenvolver não só a saúde física do paciente, mas também a saúde mental e emocional.

O atendimento inicia-se quando a empresa envia um link para o paciente, que começa a chamada de vídeo no horário agendado para a consulta, bastando clicar e conversar com o profissional através de vídeo ou WhatsApp. Além disso, a startup conta com um time multidisciplinar de cuidado com geriatras, gerontólogos, psicólogos e enfermeiros para cada membro.

Novidades do mercado de healthtechs

Como o mercado de saúde amparado pela tecnologia não para de crescer, diversas iniciativas estão surgindo para atender e disputar a corrida pela fidelização dessa nova maneira de vivenciar a saúde.

A rede de drogarias Raia Drogasil, por exemplo, fechou um contrato para a compra de 50,75% de participação acionária da healthtech Healthbit Performasys.

O plano da rede é investir em negócios que contribuam com a sua estratégia de crescimento e acelerem a sua jornada de transformação digital, desenvolvendo soluções de saúde e prevenção de doenças para funcionários e beneficiários de companhias e operadoras de saúde.

Já o grupo de medicina diagnóstica Sabin criou uma plataforma de saúde digital para oferecer acesso simples e eficiente à saúde através da conexão entre pacientes e médicos. O negócio já nasceu com 60 mil clientes do cartão de saúde do Sabin e, segundo estimativas, pode gerar uma receita adicional de até R$ 100 milhões entre dois e cinco anos.

Outro exemplo é a rede de franquias Docctor Med, que comprou a healthtech Dr. Mob, que desenvolveu um software com processos 100% em nuvem que será utilizado pela Docctor Med para facilitar o acesso à saúde à população que não possui planos.

Isso será feito por meio de clínicas digitais que acompanharão os pacientes desde o pré até o pós-consulta. A Docctor Med ainda pretende investir mais de R$ 2 milhões nos próximos dois anos para consolidar a sua rede de clínicas no mercado brasileiro. Atualmente, a franqueadora conta com 54 unidades em operação em 15 estados do Brasil.

O que esperar em um futuro próximo?

De acordo com Tiago Ávila, nos últimos meses percebeu-se um crescimento de atenção em relação à telemedicina, IoT (Internet of Things ou Internet das Coisas) e Inteligência Artificial.

“O que antes era visto com certo receio por hospitais, clínicas e profissionais de saúde, hoje começa a ser mais aceito, pelo fato de que percebem redução dos custos, mais eficiência nos processos, velocidade em resultados e análises a partir do poder dos dados organizados e, principalmente, um movimento muito forte em relação à customização da saúde a partir da inteligência artificial”, exemplifica.

Por isso, há de se esperar, em um futuro bem próximo, um movimento mais aberto à tecnologia, com o paciente em um novo lugar: o de escolha e acompanhamento ativo de seu próprio tratamento.

Confira abaixo os três tópicos mais relevantes dessa medicina do futuro:

  • Telemedicina: a pandemia despertou a necessidade de uso dessa tecnologia, que desmistificou o médico como uma figura rara e distante levando-o ao patamar de orientador e conselheiro para o monitoramento e autocuidado;
  • IA e IoT para desvendar dados: essas tecnologias ajudam os médicos a avaliar diagnósticos e tomar decisões, mitigando erros e aumentando a velocidade. Não se trata da substituição do ser humano pela máquina, mas sim de um trabalho em conjunto para se chegar a um melhor resultado;
  • Paciente como protagonista: o desejo de acesso em tempo real aos serviços de healthcare levou a uma rápida reorientação do setor, com foco no consumidor final, em que o paciente quer ter voz ativa e participar das decisões relacionadas à sua própria saúde. Por isso, soluções envolvendo a experiência do cliente/paciente estão se tornando prioridade.
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