Andrew Francesco era uma criança como outra qualquer: agitada, feliz e atlética. Até que aos cinco anos uma psiquiatra infantil o diagnosticou como hiperativo e orientou seus pais a tratá-lo com ritalina. Conforme foi crescendo, Andrew continuou a causar agitação em sala de aula, então passou a receber altas doses de antipsicóticos e outros medicamentos com efeitos calmantes. Expulso de uma escola para a outra, ele se tornou um adolescente frustrado, infeliz e às vezes ameaçador. Seus pais chegaram ao ponto de esconder dele as facas de cozinha.
Quando a mãe de Andrew morreu, aos 54 anos, muitos relacionaram o fato ao estresse de criar o menino. O jovem morreu poucos anos depois, aos 15 anos, vítima de complicações no cérebro causadas por um dos medicamentos contra transtornos comportamentais que tomava, o Seroquel.
A angustiante história é relatada no livro "Overmedicated and Undertreated", (Supermedicado e Subtratado, em inglês), escrito pelo pai de Andrew, Steve Francesco, um experiente empresário do setor farmacêutico.
No livro, Francesco usa sua experiência pessoal e profissional para mostrar como o lucro gerado pela venda de medicamentos é colocado acima da saúde e bem estar das pessoas.
O principal tema do livro é o fato de crianças com distúrbios mentais ou comportamentais terem se tornado uma mina de ouro para a indústria farmacêutica. Ele mostra como os medicamentos psiquiátricos infantis vendem bilhões de dólares por ano e como o mercado cresceu de forma alarmante.
Nos Estados Unidos, país de origem de Andrew, essa situação é bastante crítica. Um levantamento feito em dezembro de 2012, pela Jama Network, organização especializada em pesquisa e artigos científicos, revelou que entre 1993 e 2009, o número de prescrições de antipsicóticos para crianças cresceu 7 vezes no país.
E a situação pode piorar ainda mais, pois o setor farmacêutico americano está tentando usar a primeira emenda, sobre liberdades civis, para obrigar a Justiça a liberar a venda de todos esses medicamentos sem a necessidade de prescrição médica.
No livro, Francesco alerta que cerca de 80% dos medicamentos psiquiátricos infantis vendidos nos Estados Unidos já podem ser comprados sem prescrição. Se todos forem liberados, tornará crianças como Andrew ainda mais vulneráveis.
Para Steven E. Hyman, psiquiatra e ex-diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA, a medida mistura ciência e lógica de mercado e pode ter efeitos alarmantes no desenvolvimento das crianças.
“As crianças não são pequenos adultos, seus cérebros ainda estão em desenvolvimento”, alerta Hyman.
Fonte: Opinião e Notícia - New York Times - Site Saúde Curiosa
Comentários
O que as crianças precisam, é de atenção e limite. Se estas crianças tentam chamar nossa atenção, na verdade estão implorando por um não, por mais limite, pela nossa atenção...Este relato foi feito a mim, por uma menina de 13 anos, hiperativa, filha da minha namorada.
Não existe criança hiperativa, existe criança feliz ou mal educada....