Além de ser registrado pela Anac, o equipamento precisa ser homologado pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e ter a operação autorizada pelo Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo) para realizar entregas | Divulgação
O Brasil possui duas das três principais condições para que o delivery por drones se desenvolva no Brasil, diz Ricardo Bacellar, líder do setor automotivo da KPMG do Brasil. As condições foram elencadas em pesquisa da KPMG do Brasil sobre como a utilização de veículos autônomos pode alavancar os serviços de entrega de mercadorias.
Uma das condições apontadas é o aumento das compras on-line. “Um sintoma forte disso é a chegada da Amazon no Brasil”, diz o líder da KPMG. A gigante do varejo eletrônico norte-americana chegou no País em 2012 apenas com vendas de livros digitais, e hoje, já vende livros físicos e eletrônicos. Para Bacellar, o aumento do número de itens mostra que a varejista está testando a receptividade do mercado brasileiro e obtendo bons resultados. “O que o estudo mostra é que a quantidade maior de volume de compras on-line aumentam, naturalmente, a demanda por entregas.”
A segunda condição é tecnologia disponível. “Temos tecnologia de drones totalmente disponível no Brasil”, afirma Bacellar. Uma prova disso é que esses equipamentos já são muito utilizados na agricultura de diversas maneiras.
“Mas quando falamos de centros urbanos, tem a questão da legislação, que tem que ser trabalhada”, continua o líder, indicando a terceira condição, que na sua opinião ainda não é atendida no País. Segundo Bacellar, a legislação atual não considera que, com o delivery por drones, a quantidade desses equipamentos circulando em espaços urbanos, de várias transportadoras, e carregando pacotes, será grande. “Isso é um risco a ser administrado, e não existe legislação para isso.”
O uso de drones já é regulamentado pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Pelo regulamento, o transporte de mercadorias por meio dos veículos é permitido, desde que o operador siga as regras vigentes, afirma a assessoria de imprensa.
Mas a regulamentação para uso de drones no País não permite, por exemplo, que os equipamentos voem sobre pessoas não anuentes, exemplifica Emerson Granemann, CEO da MundoGEO, empresa especializada em eventos no setor. A distância mínima é de 30 metros horizontais, inviabilizando as entregas automáticas utilizando os veículos. Segundo a assessoria de imprensa da Anac, se a operação do drone estiver fora das normas, é necessário que o operador apresente à ANAC seu projeto para que este seja aprovado.
Além de ser registrado pela Anac, o equipamento precisa ser homologado pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e ter a operação autorizada pelo Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo) para realizar entregas.
Conforme o Decea, a autorização de acesso ao espaço aéreo por aeronave não tripulada sobre áreas povoadas ou aglomerações de pessoas não anuentes é condicionada às certificações de todo o sistema, em especial à de aeronavegabilidade, que devem ser obtidas pelo operador junto às agências reguladoras.
“Hoje o Decea já está preparado para receber as solicitações de voo e analisar conforme prevê a ICA 100-40 de ‘Aeronaves não tripuladas e o Acesso ao Espaço Aéreo Brasileiro’, uma vez que a operação tenha sido certificada e autorizada pelos demais órgãos competentes”, finaliza a nota enviada pela assessoria de imprensa do Departamento.
Benefícios
“O mercado estuda isso (uso de drones para delivery) como uma alternativa viável no sentido de baratear e aumentar a eficiência logística de entrega”, diz Ricardo Bacellar, da KPMG. Ele acrescenta que esses equipamentos permitem pulverizar mais as rotas de entrega, sem necessidade de mão de obra, e criar modelos logísticos com prazos de entrega diferentes de acordo com a estratégia de vendas. “O drone vai muito mais rápido. Traça uma reta e vai por cima. A redução de custo e a eficiência são muito maiores.”
“É inegável que os drones, quando usados de forma maciça, vão proporcionar entregas mais rápidas”, pontua Emerson Granemann, da MundoGEO. Ele lembra que diversos testes de entregas utilizando os veículos já foram realizados no Brasil. Em um deles, realizado no bairo Alphaville, em São Paulo, a entrega chegou ao destino – um condomínio com droneporto – em três a quatro minutos. De motocicleta, a entrega demorou de 20 a 25 minutos.
Entrega
Mas o drone não levou o pacote à porta da casa do cliente, como muitos podem pensar. O objeto pousou em um droneporto, localizado no condomínio, e o último trecho da entrega foi realizado de bicicleta. Samuel Salomão, CEO da startup de desenvolvimento de sistemas aéreos não tripulados (UAS), SMX Systems, afirma que ideia de que os drones vão permitir que as encomendas cheguem na porta – ou na janela, no caso de prédios – das pessoas é uma “utopia”. “O que vai acontecer no Brasil e no resto do mundo é a utilização do drone como um meio de agilizar a logística.”
A tendência é que os equipamentos façam parte de uma combinação de modais a fim de aumentar a eficiência da entrega. “Os drones não vêm para substituir nenhum modal, vêm para somar”, ressalta Emerson Granemann, CEO da MundoGEO.
Operação
Quando a operação de entrega por drones começar no Brasil, o CEO da MundoGEO prevê que serão estabelecidas linhas por onde os equipamentos poderão trafegar, evitando aeroportos, penitenciárias, etc. E os equipamentos serão dotados de inteligência que “enxerga” outros veículos aéreos não tripulados para manter uma distância segura entre eles.
EMPRESA DE RIBEIRÃO PRETO REALIZA TESTES
A empresa SMX Systems realiza voos de teste para entrega com drones desde janeiro do ano passado. O objetivo é reunir informações úteis sobre esse tipo de operação até que de fato comece a acontecer. Os testes foram realizados com empresas do setor farmacêutico e do e-commerce. A empresa, que desenvolve sistemas aéreos não tripulados (UAS) para o transporte e entrega de cargas leves, como medicamentos e suprimentos médicos, pediu autorizações especiais ao Decea para a realização dos testes.
“O setor precisa de alguns pontos para tornar a entrega com drones realidade”, diz Samuel Salomão, CEO da SMX Systems. Para ele, a entrega com drones só vai se tornar viável quando a legislação permitir o voo sobre pessoas não anuentes. “Esse é o ponto regulatório que limita fazer a logística.” No entanto, isso só vai acontecer quando for comprovado que os drones são seguros o suficiente para sobrevoar pessoas.
Na visão de Salomão, a tecnologia já é segura. “O que não tem para os reguladores são dados que comprovem isso. Estamos fazendo cada vez mais voos de teste para demonstrar em números que é seguro.” Para o CEO, a parceria com empresas farmacêuticas e do e-commerce para os testes também comprovam que existe demanda para a entrega por drones. “Se há a necessidade na sociedade de melhorar a qualidade de vida das pessoas, os reguladores vão olhar para o assunto com mais atenção.”
Apesar dos entraves, Salomão estima que o delivery com drones deverá se tornar realidade dentro de um ano.
Fonte: Folha de Londrina
Comentários