( UOL )

Jornalista: Raul Galhardi

19/11/19 - As dificuldades de um parto prematuro são vividas por milhares de mulheres no país. "Tive de esperar nove dias para poder pegar meu filho no colo pela primeira vez e ele ficou três meses internado. Vê-lo tão pequeno e indefeso através de uma caixa de acrílico ligado a fios e respiradores foi a pior experiência da minha vida", relata a escritora Marina Barbieri, 32, que teve um filho parto prematuro há cerca de um ano.

Francisco, filho de Marina, nasceu com 30 semanas de gestação e pesando 1,5 kg, o que o enquadra como um prematuro extremo (nascidos entre 24 e 30 semanas). Chiquinho, como é carinhosamente chamado, apresentou alguns problemas como icterícia, hérnia inguinal bilateral e apneia.

É considerado prematuro (ou pré-termo) todo o bebê que nasce com menos de 37 semanas de gestação, o que no Brasil corresponde a 10,9% dos nascidos vivos, de acordo com dados do Sinasc (Sistema de Informações Sobre Nascidos Vivos) de 2017.

Desses, 12,4% ficam com sequelas, sendo a dificuldade motora a mais comum, com 40,1% dos casos. Em seguida, aparecem os problemas respiratórios (34,4%); a dificuldade visual (21,4%); e as dificuldades nutricionais e alimentares, com 14,5%, conforme pesquisa realizada entre outubro de 2016 e junho de 2019 pela Associação Brasileira de Pais, Familiares, Amigos e Cuidadores de Bebês Prematuros (ONG Prematuridade.com). O tempo médio de internamento do recém-nascido é de 51 dias e, para motivar a discussão sobre a questão e ajudar mães e pais a enfrentá-la da melhor maneira, nesse mês ocorre a campanha Novembro Roxo e 17/11 foi considerado "O Dia Mundial da Prematuridade".

Quais os problemas mais comuns?


Quanto mais desenvolvido for o bebê prematuro, menores serão os riscos de adquirir deficiências graves e sequelas. Entre os problemas normalmente desenvolvidos, as complicações respiratórias são as mais comuns porque os pulmões são os últimos órgãos a se formarem. Muitas vezes se faz necessário o uso do CPAP (equipamento que gera pressão nasal) para ajudar o recém-nascido a respirar.

Problemas cardíacos também podem ocorrer, bem como no trato gastrointestinal, obrigando por vezes suspensão de dieta e alimentação intravenosa e em alguns casos intervenção cirúrgica. A retinopatia é outra doença que costuma acometer prematuros com menos de 32 semanas. A condição ocorre por causa do crescimento desorganizado dos vasos sanguíneos que chegam à retina, o que pode afetar a visão e até causar cegueira em casos mais graves.

Nos prematuros mais extremos pode acontecer ainda hemorragia intracraniana. Em grande parte dos casos, são sangramentos pequenos que são reabsorvidos espontaneamente pelo organismo, sem consequências graves. Eventualmente podem chegar a danificar o tecido cerebral.

Fatores que levam ao parto prematuro

A melhor forma de reduzir a chance de um parto prematuro é realizar um pré-natal adequado —para identificar precocemente problemas e tomar as devidas precauções. Estão em maior risco as mulheres que já passaram por um parto prematuro; grávidas de gêmeos ou múltiplos ou com histórico de problemas de colo do útero. Outros fatores que aumentam a possibilidade do bebê nascer com menos de 37 semanas de gestação são:
- Uso de drogas
- Diabetes
- Hipertensão arterial ou pré-eclâmpsia
- Infecções do trato urinário
- Sangramento vaginal
- Obesidade
- Distúrbios de coagulação
- Gestações muito próximas (menos de 6 a 9 meses entre o nascimento de um bebê e nova gravidez)
- Gravidez fruto de fertilização in vitro
- Idade abaixo de 17 anos e acima de 35.

Embora não existam pesquisas científicas que o tornem uma causa, o estresse costuma ser associado como um fator indireto. "Ele pode liberar hormônios e estimular contrações", explica Romy Schmidt Brock Zacharias, coordenadora médica materno infantil da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.

Cesarianas programadas sem motivo médico também podem causar partos prematuros, já que há uma margem de erro nas gestações, gerando o risco do bebê não estar completamente formado no momento da intervenção cirúrgica.

No caso de Marina, que chegou a ficar 20 dias internada, dois deles na UTI, a prematuridade ocorreu devido à pré-eclâmpsia. "Meu pré-natal estava perfeito, mas de uma hora para outro comecei a inchar. Fiquei monitorando a pressão em casa e um dia tive uma intuição de ir para o hospital. Quando cheguei, a pressão estava tão alta que me internaram imediatamente. Dois dias depois tiveram de realizar o parto", conta.

Hoje, ela ainda faz tratamento psicológico devido ao trauma, mas diz que já está bem melhor. "Eu me sentia culpada pelo meu corpo não ter conseguido segurar o meu filho. A maternidade me lembrava do que a prematuridade me roubou, mas agora já consigo ir a chás de bebês", confidencia.

Francisco também está bem e, segundo os médicos, não apresenta sequelas. A experiência inspirou Marina a escrever um livro, que deverá ser lançado em meados do ano que vem. "Não tenho ainda um nome definido, mas por enquanto deve se chamar 'Mãe de UTI'", revela.

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