VAZIO NA ASSISTÊNCIA Isabella Wanderley (esq.), líder da operação nacional, acredita que as opções para tratamento da obesidade no sistema público são ineficazes sem a inclusão dos fármacos. (Crédito:REUTERS )
Multinacional dinamarquesa cresce com vendas de medicamentos para perda de peso e projeta triplicar faturamento da linha até 2025.
Brasil tem 50 milhões de adultos obesos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Ou seja, 22% da população com mais de 18 anos no País tem o índice de massa corporal (que mede a concentração de gordura) igual ou superior a 30 kg/m2. Foi neste universo que a gigante dinamarquesa Novo Nordisk mergulhou em 2016, quando estabeleceu o tratamento da obesidade como pilar para o crescimento do seu negócio. O movimento é uma aposta da companhia para reduzir sua dependência do portfólio de medicamentos para diabetes, que respondem por 80% das vendas da multinacional, mas estão mais suscetíveis à pressão sobre preços com o acirramento da concorrência. E a estratégia foi tão certeira que a farmacêutica já projeta triplicar as vendas do portfólio para obesidade até 2025, ano em que pretende alcançar US$ 3,7 bilhões em faturamento nessa linha — sobre US$ 1,2 bilhão de receita no ano passado. Por aqui, com 75% da população dependente do Sistema Único de Saúde (SUS), a maior avenida para expansão está no setor público. Por isso, a Novo Nordisk estabeleceu tratativas com o governo para firmar canais de distribuição de seus medicamentos para perda de peso.
O documento de protocolo clínico e diretrizes para tratamento da obesidade, publicado em 2020 pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS, só oferece dois caminhos pelo sistema público: os programas de prevenção à obesidade e, na outra ponta, a cirurgia bariátrica. Nem mesmo as drogas mais comuns nos tratamentos para perda de peso — e também mais baratas que as da Novo Nordisk —, como orlistate e sibutramina, são indicadas pelo órgão. Isabella Wanderley, gerente geral e vice-presidente da Novo Nordisk Brasil, enxerga um vazio assistencial com a não inclusão dos tratamentos farmacológicos. “Falta um fator nessa equação, já que as duas intervenções não estão entregando o resultado esperado”, afirmou à DINHEIRO. Em artigo publicado em 2018 na revista Panamericana de Salud Pública, especialistas estimam que 11% dos custos com doenças crônicas no SUS (R$ 3,45 bilhões naquele ano) eram atribuíveis ao atendimento de quadros de obesidade.
Com uma demanda estratégica no setor privado, a líder da operação nacional da Novo Nordisk explica que o pipeline de lançamentos para tratamento de obesidade inclui um medicamento de nova geração que já aguarda aprovação da Anvisa. Hoje, a empresa oferece apenas o Saxenda no Brasil, um fármaco que prolonga a sensação de saciedade. O produto é vendido por cerca de R$ 670 a caixa com três canetas, mas, como a indicação é de aplicação diária, o tratamento pode chegar a R$ 1,3 mil por mês. A nova droga, caso liberada, deve ser lançada até o ano que vem no País. Ela apresenta resultados superiores no emagrecimento dos pacientes e é de aplicação semanal. Lançada em junho passado nos Estados Unidos sob a marca Wegovy, a caixa com quatro canetas, suficientes para o tratamento mensal, custa US$ 1,7 mil, o equivalente a mais de R$ 8 mil. Com a cadeia de custos e impostos aqui, o preço deve ser ainda maior. No mercado americano o novo produto eclipsou o Saxenda e se tornou a grande aposta da companhia para aumentar sua penetração nesses tratamentos.
Com o reforço em portfólio, a multinacional dinamarquesa, que faturou US$ 50,3 bilhões em 2021, vem numa crescente de vendas e aumentando sua fatia no mercado global. No Brasil, a performance foi igualmente poderosa. A farmacêutica saiu de 25ª para se tornar a oitava maior em participação no varejo para o setor privado de saúde entre 2018 e 2021, conforme ranking da IQVIA.
INOVAÇÃO O mercado nacional reserva um horizonte promissor para a Novo Nordisk graças ao acordo firmado em agosto de 2021 com o Ministério da Saúde para fornecimento de 11,8 milhões de doses de insulina — contrato de R$ 120,1 milhões (R$ 10,17/unidade) — que garante o suprimento do SUS até abril de 2023. A multinacional ganhou espaço após o fim do contrato anterior, estabelecido com o laboratório ucraniano Indar, que, segundo o Ministério da Saúde, foi finalizado ainda no ano passado. Com a guerra no leste europeu, a empresa pode não conseguir brigar por essa fatia de mercado tão cedo.
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A planta produtiva da dinamarquesa no Brasil, que fica em Montes Claros (MG), produz canetas e doses de insulina para o setor público daqui e para outros mercados. A vice-presidente da operação explica que o Brasil é um dos dez maiores mercados da farmacêutica (presente em 168 países), por isso a empresa investiu mais de R$ 100 milhões em pesquisa no País nos últimos cinco anos, o que para o segmento não é muito. Globalmente, a empresa investiu US$ 5 bilhões. De toda forma, a inovação é o único caminho para a dinamarquesa emagrecer a população e engordar sua presença no Brasil.
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