Jornalista: Marcos de Moura e Souza
Valor Econômico
09/01/20 - Uma empresa brasileira que desde o ano passado produz nos EUA medicamentos à base de cannabis adquiriu um laboratório em Belo Horizonte onde espera começar a operar nos próximos meses. A produção desses medicamentos no Brasil foi autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no fim do ano passado.
A empresa se chama EaseLabs e tem como sócio fundador o advogado Gustavo de Lima Palhares. Ele não revela o valor da operação, mas diz que a projeção conservadora é que em 2021 o faturamento seja de R$ 190 milhões. “O laboratório tem uma área produtiva de 1.450 metros quadrados e inicialmente nosso volume de produção será de 3.600 frascos por hora”, afirmou Palhares ao Valor.
O plano é produzir medicamentos feitos com cannabis nas formas de gotas e cápsulas.
Reconhecido e usado em vários países no tratamento de dores crônicas, de quadros terminais, de epilepsia, insônia, ansiedade, entre outros problemas, produtos à base de cannabis se converteram nos últimos anos em um negócio global bilionário, com empresas com ações negociadas em bolsa e grandes investidores. Em alguns mercados, como nos EUA, Canadá e Uruguai, além de remédio a planta pode ser comercializada para uso recreativo.
No Brasil, até as novas regras entrarem em vigor, os medicamentos só podem ser adquiridos quando importados diretamente por famílias dos pacientes. São aquisições, em geral, caras e cheias de burocracia.
Com a mudança aprovada pela Anvisa, empresas poderão passar a produzir e a vender esses medicamentos no Brasil. O uso recreativo continua proibido, assim como o cultivo.
“O nosso insumo vem de cultivos nos EUA”, diz Palhares. A EaseLabs tem um contrato com uma empresa americana - de capital aberto, segundo ele - que produz os medicamentos da marca brasileira em solo americano.
Um projeto que vinha sendo estudado por Palhares era o de criar uma área de cultivo própria no Uruguai. Mas, diz o advogado, a regulamentação no Brasil permite que os insumos para remédios de cannabis venham somente de um conjunto de países que adotam boas práticas no ramo de insumo farmacêutico.
O Uruguai não faz parte desse grupo, diz ele. “A gente tem um projeto de cultivo no Uruguai, mas isso ainda não está definido.”
No Brasil, o laboratório mineiro deve começar a passar por obras de adaptação a partir da próxima semana. “A regulamentação entra em vigor em março e nosso cenário é iniciar a produção neste primeiro semestre”, diz.
Além de produtos à base de cannabis, a EaseLabs planeja produzir fitoterápicos tradicionais, sem a cannabis.
Palhares não divulga o faturamento da EaseLabs em 2019 nem o investimento que fará na nova unidade. Além dele, a companhia tem, segundo diz, capital de um grupo de investidores e de pessoas do setor farmacêutico.
Além da sede em Belo Horizonte, a empresa tem escritório em São Paulo e em Montevidéu.
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