O Globo
21/02/20 - No verão da geosmina, o Rio pode ter o carnaval do sarampo. A ameaça de disseminação da doença durante a maior festa popular da cidade é real. No dia 13, a Secretaria estadual de Saúde anunciou a primeira morte por sarampo depois de 20 anos. A vítima foi um bebê de 8 meses, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Ele teria contraído a doença antes dos 6 meses, idade mínima para se vacinar. O que não exime de responsabilidade as autoridades de saúde, incapazes de impedir a circulação do vírus.
A preocupação com o carnaval é maior devido à facilidade de propagação e ao crescimento do número de casos. Nas primeiras sete semanas de 2020, foram registrados 64 casos na cidade, a maioria nas zonas Norte (28) e Sul (18). Isso representa 65% do total de ocorrências do ano passado. Ou seja, ainda no primeiro semestre o Rio poderá ultrapassar 2019.
De acordo com especialistas, o grau de contágio do sarampo é cinco vezes maior do que o do novo coronavírus (Covid-19), que já infectou mais de 74 mil pessoas, sendo hoje a maior preocupação em termos de saúde pública em todo o mundo. “O sarampo pode ser transmitido pelas gotículas no meio do bloco, na escola de samba”, afirma o epidemiologista Roberto Medronho, da UFRJ. Ou seja, um potencial explosivo num carnaval que, em 2019, reuniu 7 milhões de foliões no Rio, número que deve ser ultrapassado este ano.
Obviamente, o problema não é o carnaval, mas o desleixo das autoridades de saúde que deixaram a situação chegar a esse ponto, em vez de combater a doença, para a qual existe vacina. O ressurgimento do sarampo — que em 2016 foi considerado erradicado do país pela Organização Pan-Americana de Saúde — não ocorre apenas no Brasil, mas também na Europa e nos Estados Unidos. A questão é que falhou-se na tentativa de bloquear o avanço da doença. Os primeiros surtos foram registrados na Região Norte, mas hoje há transmissão ativa do vírus em pelo menos oito estados de diferentes regiões.
O Rio é um caso particular. O estado que ostenta o segundo maior PIB do país sempre apresentou os piores índices de vacinação da Federação. Não admira que a doença tenha avançado, mesmo com a melhora desses índices nos últimos meses. Em 2020, é o estado que apresenta o segundo maior número de casos (92, até 8 de fevereiro), atrás apenas de São Paulo.
A única forma de conter o sarampo é imunizando a população — ao menos 95% do público-alvo, segundo especialistas. Vacinas não faltam. Sabe-se da existência de movimentos antivacina e do poder das fake news que se disseminam pelas redes. Mas contra isso há antídotos. Vontade política, agilidade, informação são alguns deles.
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