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O Globo 

07/03/20 - A ameaça representada pelo coronavírus tem permitido algumas demonstrações de competência do setor público. Até agora, o Ministério da Saúde está com intensa e correta presença nos meios de comunicação, para passar informações úteis à população, e de forma constante. Parece haver, ainda, uma razoável articulação no setor, entre a pasta, secretarias estaduais, laboratórios públicos etc. Isso passa segurança à população, que paga a elevada conta da máquina estatal. Por enquanto, tudo funciona bem, mas nada indica que não funcionará se o número de infectados crescer.

Há uma outra área, vilipendiada e vista com desconfiança por extremistas do governo que renegam a ciência e consideram todo intelectual um esquerdista, que demonstra uma competência que provavelmente segmentos mais obscurantistas não conheciam. Quem sabe da capacidade de pesquisa de instituições brasileiras não se surpreendeu com o sequenciamento do genoma do coronavírus que chegou ao Brasil, 48 horas após sua identificação, feito por cientistas do Instituto Adolfo Lutz, do departamento de medicina tropical da Faculdade de Medicina da USP, em trabalho conjunto com a Universidade de Oxford. A descoberta pode ajudar no desenvolvimento de vacinas, objetivo que está sendo perseguido por cientistas no mundo, entre eles brasileiros. Existe um repertório de trabalhos já executados em laboratórios no país. Há três anos, a revista “Time” incluiu na lista de pesquisadores mais influentes do mundo a goiana Celina Turchi, também citada na relação dos dez cientistas mais importantes da revista “Nature”, em 2016. Celina, médica epidemiologista, pesquisadora convidada da Fundação Oswaldo Cruz de Pernambuco, foi pessoa-chave na construção de uma rede mundial de cientistas que, em três meses, identificou a associação do vírus da zika com a microcefalia em fetos.

Ainda assim, os recursos públicos de que a ciência necessita escasseiam. O orçamento do Ministério da Ciência de 2020 teve um aumento de 6,2%, mas as verbas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), para bolsas, foram cortadas em 30%, e o dinheiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para a compra de insumos e equipamentos destinados a laboratórios sofreu uma redução de 80%. Deve-se informar ao presidente Bolsonaro sobre este quadro, aproveitando o destaque do coronavírus na mídia. Inclusive em redes sociais, tão frequentadas por ele. Enfim, embora com atraso, ele apareceu ontem em cadeia nacional para falar à nação sobre a epidemia.

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