Valor Econômico

 

09/01/20 - Uma informação surpreendentemente positiva sobre o papel das empresas na produção científica no Brasil pode servir de alento em um momento da vida nacional em que se cortam recursos destinados à inovação e tecnologia. Nos últimos anos, por causa da recessão econômica desencadeada pelas medidas adotadas pelo governo Dilma Rousseff, tanto o governo federal quanto muitas companhias reduziram os investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

 

Na contramão dessa tendência, na edição do dia 6, o Valor publicou importante material sobre um levantamento feito pelo diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique Brito Cruz sobre o relacionamento entre universidades públicas e o setor empresarial. O trabalho mostra que o número de artigos científicos realizados em coautoria por pesquisadores da academia e da indústria cresceu a uma taxa média de 14% ao ano no período entre 1980 e 2018, passando de pouco mais de uma dezena para mais de 1,5 mil ao final do período.

 

Os números, inéditos no país e que integram levantamento do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), contrariam a tese de ineficiência das universidades brasileiras. Brito Cruz informou ao repórter Gabriel Vasconcelos que não existem indicadores confiáveis sobre a interação entre universidades e companhias no país, o que abre espaço, no seu entender, para juízos equivocados. “Ainda é comum ouvirmos as pessoas falarem que é muito complicado fazer os contratos de colaboração ou que a universidade não quer interagir. Isso não é mais assim. Há desconhecimento por parte do governo, mas também dentro da própria academia, influenciado por impressões pessoais que vêm dos anos 1970”, comentou Brito Cruz.

 

Para levar adiante seu levantamento, ele criou um algoritmo para refinar buscas na plataforma Web of Science, que reúne informações extraídas de bancos de dados sobre artigos acadêmicos do mundo inteiro, que permite mensurar a interação entre a academia e um grupo limitado de companhias. Com esses recursos, foi possível identificar empresas brasileiras nesse universo.

 

A despeito do crescimento na produção conjunta de conhecimento por empresas e universidades, chama a atenção a concentração: nos últimos dez anos pesquisados (2009-2018), 72% do total de artigos escritos nesses termos pertencem a dez universidades. Isolada à frente está a Universidade de São Paulo (USP), com 2,7 mil artigos em coautoria no período, mais que o dobro da segunda instituição que mais interagiu com empresas, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com 1,1 mil artigos. A lista ainda traz as universidades estaduais de Campinas (Unicamp) e Paulista (Unesp), além das federais de São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná, Viçosa (MG) e Santa Catarina.

 

Parcerias com universidades podem ser uma opção interessante para o desenvolvimento tecnológico para pequenas e médias empresas e aquelas com maior dificuldade de acesso a financiadores de projetos nessa área. Tornou-se um mote no mundo empresarial ressaltar a importância de investimentos em inovação, mas nem sempre as companhias dispõem de ferramentas para desenvolver pesquisas nesse sentido. Poder contar com pesquisadores de primeira linha, alocados em faculdades, é um passo importante nesse sentido.

 

Como se sabe, os desafios tecnológicos só aumentam e os empresários sabem que correm graves riscos se os seus negócios ficarem para trás. Uma grande preocupação da sociedade como um todo - e não apenas dos dirigentes de empresas e de instituições financeiras - é o impacto que o avanço tecnológico está tendo e terá no mercado de trabalho a curto e médio prazos.

 

Estudo divulgado recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que até 56% das ocupações de emprego formal no Brasil deverão ser afetadas pelo processo de automação em decorrência das novas tecnologias, além de poderem sofrer eventuais ameaças de extinção. A análise teve como metodologia uma abordagem inovadora para classificar as ocupações com maior risco de automação ao considerar a importância (dada pela frequência) e a relevância das tarefas desempenhadas em cada ocupação. Os pesquisadores consideraram tecnologias já consolidadas e passíveis de implantação do ponto de vista regulatório num prazo de até cinco anos no cenário brasileiro.

 

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