EDITORIAL: Segunda onda de Covid na Europa é alerta ao Brasil

O Globo 

28/10/20 - No início cio ano, quando a Covid-19 se alastrava de forma dramática pela Europa, o Brasil era um espectador do que estava por vir —poderia ter tirado vantagem disso, mas não tirou. A medida que os meses foram avançando, o número de infectados e mortos nos países europeus decaiu, enquanto no Brasil a curva da doença entrou em escalada. Agora, os papéis novamente se invertem.

Depois de controlar a doença, a Europa vive uma segunda onda de Covid-19. Países do continente registraram recordes de casos diários desde o início da pandemia —embora a mortalidade seja menor. Na tentativa de frear esse novo avanço do vírus, tiveram de retomar medidas duras de restrição, como toques de recolher na Itália, Espanha e França. No Brasil, ao contrário, as curvas estão em queda ou estáveis em quase todos os estados. De modo geral, os números dos últimos dias são os menores desde o início de maio.

Porém, no Amazonas, a situação volta a preocupar. Na contramão de quase todo o país, o estado vem registrando aumento no número de casos. Na capital, Manaus, uma das cidades mais severamente atingidas, as UTIs já estão lotadas novamente, lembrandoasitua- ção de meses atrás. Não há indícios de que a letal idade seja tão alta quanto a da primeira onda, tanto pelo aprendizado no tratamento da doença quanto pela proteção aos grupos mais vulneráveis. Mas as autoridades precisam estudar o que acontece por lá. É fundamental saber os motivos da inflexão.

Alheios ao que se passa no país, candidatos nas eleições de novembro ignoram a pandemia e promovem aglomerações. Como mostrou reportagem do GLOBO, as próprias campanhas publicam vídeos nas redes, demonstrando não ter vergonha de desrespeitar os protocolos básicos de prevenção à doença. Não deveria surpreender num país onde o próprio presidente Jair Bol- sonaro nunca deixou de provocar aglomerações, estender a mão a apoiadores e violar todas as normas sanitárias.

Esses atos de campanha evidenciam que políticos vivem num mundo à parte, desprezando os anseios reais dos eleitores. Como podem prometer uma saúde melhor —preocupação número um dos cidadãos segundo pesquisas de opinião —se não conseguem respeitar os protocolos sanitários em meio à mais letal pandemia em cem anos?

O que acontece na Europa e em Manaus serve de alerta ao país e aos políticos incautos. E fato que os números estão em declínio. Mas, a despeito do comportamento de boa parte da população brasileira, que afrouxou as regras de prevenção, a epidemia não acabou. Como ressalta a pneumologista Mar- gareth Dalcolmo na coluna “A Hora da Ciência”, no GLOBO: “Se observamos hoje uma redução no número de casos no país, nos vemos estacionados em patamar alto de transmissão, com mais de 20 mil casos e cerca de 500 brasileiros mortos por dia, decorridos quase nove meses”. A Covid-19 pode ter dado uma trégua, mas, enquanto hão houver vacinas de eficácia comprovada, o vírus circulará, não se sabe por quanto tempo. Mais uma vez, a Europa hoje pode ser o Brasil amanhã.

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