Valor Econômico
Jornalistas: Gustavo Brigatto, Alexandre Melo e Cibelle Bouças
06/02/20 - Ainda sem nenhum caso confirmado de coronavírus, o Brasil começa a sentir efeitos colaterais do surto na China, com fabricantes relatando dificuldades na importação de componentes e planejando paradas, ou desaceleração na produção.
Responsável pela fabricação dos celulares da Motorola, a Flextronics enviou carta ao Sindicato dos Metalúrgicos de Jaguariúna no fim da semana passada informando que precisaria parar a produção entre os dias 17 e 26 de fevereiro. “Em decorrência da grave crise de saúde que acomete a China, em razão do Coronavírus, a solicitante esclarece que os produtos utilizados em sua manufatura são importados do referido país e, em razão do grave quadro internacional, poderá ter suas atividades fabris suspensas por falta de matéria-prima”, disse a companhia, na carta.
A expectativa é que a paralisação afete cerca de 80% das atividades da fábrica, segundo o presidente do SindMetal, José Francisco Salvino. A Flextronics informou ainda que as férias coletivas - que podem ser canceladas ou alteradas dependendo da normalização do cenário - são importantes para dar tempo às autoridades chinesas de concluir se existe, ou não, a possibilidade de transmissão do vírus por meio de peças e equipamentos exportados pelo país.
Procurada, a Motorola informou que “se planejou, antecipando a produção em decorrência do feriado do Ano Novo Chinês”. E não prevê “impacto na entrega de produtos para parceiros comerciais e consumidores”.
Na Samsung, o plano é parar a produção por três dias na semana que vem, com perspectiva de reposição em dois sábados mais adiante, segundo Sidalino Orsi Júnior, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas. O sindicato chegou a propor a reposição de apenas um dia, ou mesmo um dia e meio, mas a fabricante não aceitou. Hoje, os trabalhadores vão avaliar a proposta. Procurada, a Samsung não se pronunciou.
Humberto Barbato, presidente da associação de eletroeletrônicos (Abinee), diz que há grande preocupação com o abastecimento. Ontem, a Abinee começou a ouvir os associados sobre o tema. Avaliação preliminar indica que muitas empresas estão sendo afetadas e que algumas falam em parar a produção nos próximos dias.
Executivos do setor ouvidos pelo Valor dizem que ainda é cedo para medir o tamanho do impacto e que estão em busca de alternativas de suprimento. A indústria de eletrônicos trabalha com estoques de componentes de cerca de 60 dias - bem maior do que na cadeia global devido à burocracia brasileira em portos e aeroportos. Segundo a empresa de pesquisas IDC, a epidemia do coronavírus terá impacto negativo na cadeia de tecnologia na América Latina. E um dos efeitos possíveis é o aumento do preço dos celulares.
O impacto vai além do setor de tecnologia. A Calçados Bibi, de Parobé (RS), reduziu a produção de uma linha de tênis devido à falta de uma luz de LED importada da China. “A entrega atrasou por causa do surto de coronavírus na China. A companhia reduziu a produção da linha que usa esse componente e atrasou de 50 a 20 dias o prazo de entrega para o varejo”, disse Andrea Kohlrausch, presidente da Bibi. “É difícil trocar de fornecedor de repente, sem garantia de qualidade. É preferível readequar a produção e esperar o fornecedor voltar ao trabalho”, disse Andrea.
Comentários
...ô texto mal redigido! Difícil de entender na primeira tentativa de leitura. Como a nossa língua está sendo desqualificada. Dikajob tem que escolher melhor o que publica.