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Imagem de Marijana por Pixabay

 

A Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein e o Instituto Butantan, órgão ligado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, identificaram uma molécula obtida por um processo inovador com potencial para tratar o câncer extraída do veneno da aranha caranguejeira Vitalius wacketi, que habita o litoral paulista. A substância, sintetizada em laboratório no Butantan e purificada (ou seja, foram eliminados eventuais contaminantes, potencializando seu efeito) pelo Einstein, foi capaz de eliminar células de leucemia em testes in vitro. Resultado de uma trajetória de mais de 20 anos de estudos, a ferramenta que resultou na obtenção da molécula foi patenteada – processo conduzido pelas áreas de inovação de ambas as organizações. Agora, a pesquisa está madura o suficiente para alçar novos estágios de desenvolvimento, com novos parceiros.

A síntese da substância em laboratório, uma união de duas moléculas já conhecidas, feita pelo grupo do pesquisador Pedro Ismael da Silva Junior, do Laboratório de Toxinologia Aplicada do Butantan, permite obtê-la sem precisar extrair o veneno do animal, tornando o processo muito mais rápido. “Nós sintetizamos a molécula e observamos que a versão sintética mantém a atividade antitumoral detectada na toxina natural do veneno”, afirma o cientista.

Um dos grandes diferenciais do composto é que ele conseguiu matar as células tumorais por apoptose (morte programada), e não por necrose. Isso significa que a célula se autodestrói de forma controlada, sem causar uma reação inflamatória, diferente do mecanismo de grande parte dos medicamentos quimioterápicos hoje disponíveis.

“A morte por necrose é uma morte não programada na qual a célula colapsa, levando a um estado inflamatório importante. Já na apoptose a célula tumoral sinaliza ao sistema imune que está morrendo, para que ele remova posteriormente os fragmentos celulares”, explica o pesquisador do Einstein, Thomaz Rocha e Silva, responsável pelos testes de ação antitumoral.

Existem outras estratégias no mercado capazes de induzir apoptose em células de câncer, como os anticorpos monoclonais, por exemplo, mas são tecnologias que exigem grande investimento e demandam tempo para produzir. De acordo com Thomaz, a nova molécula é pequena e o processo de síntese é muito mais simples e mais barato, o que pode facilitar uma eventual ida ao mercado e acesso ao produto.

“Outra vantagem é que, devido ao baixo peso molecular, é muito menos provável que haja problema de imunogenicidade – quando uma substância estranha no organismo provoca uma reação do sistema imune”, completa Pedro.

O composto conseguiu eliminar, inclusive, células leucêmicas resistentes a quimioterápicos. O próximo passo é fazer testes em células de câncer de pulmão e de ossos. Além disso, a tecnologia será estudada em células humanas saudáveis para confirmar se não há toxicidade, isto é, se ela é seletiva e danifica somente as células cancerosas.

Devido ao potencial da invenção, as instituições patentearam o processo de produção da molécula. O objetivo é licenciar a tecnologia para uma empresa com capacidade de produzir em maior escala e desenvolver testes em animais – e, futuramente, em humanos, caso se prove segura e eficaz.

“Já fizemos um mapeamento de potenciais interessados e estamos em contato com algumas empresas. Isso poderá acelerar o estudo para que ele se torne um produto e possa chegar mais rápido aos pacientes”, diz o gerente de Inovação do Butantan, Cristiano Gonçalves.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer é a segunda maior causa de morte no mundo, sendo responsável por cerca de 9,6 milhões de óbitos anualmente. “Com uma população em envelhecimento, a tendência é que na próxima década o câncer se torne a principal causa de morte, superando as doenças cardiovasculares”, aponta Thomaz.

A molécula obtida da aranha Vitalius wacketi é uma poliamina, um tipo de toxina abundante nos venenos. A equipe do pesquisador do Butantan Pedro Ismael, responsável pela síntese, é especializada em sintetizar moléculas extraídas da natureza para testar sua atividade contra microrganismos e identificar aquelas com potencial terapêutico. O cientista tem se dedicado, principalmente, ao estudo de substâncias provenientes da peçonha e do sangue de aranhas.

Nos últimos anos, em parceria com o grupo do Einstein liderado por Thomaz Rocha e Silva, os pesquisadores analisaram uma diversidade de toxinas extraídas de outras espécies do gênero Vitalius, e a de Vitalius wacketi mostrou uma atividade mais promissora. A purificação da molécula foi possível graças a uma nova técnica de cromatografia desenvolvida por Thomaz em 2010, específica para poliaminas. Ele estuda a atividade biológica do veneno de aranhas caranguejeiras há cerca de 20 anos. Em colaboração com a área de inovação do Einstein, foi possível avançar um degrau importante nesse desenvolvimento.

“Somos um ecossistema de inovação em saúde capaz de enxergar e analisar essas oportunidades, estudar o potencial de comercialização e transformá-las de fato em patentes, de forma que tenham um impacto real no sistema de saúde”, afirma Denise Rahal, gerente de parcerias e operações de inovação da organização.

 

Fonte: Medicina SA

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