O Globo
Jornalista: Constança Tatsch
05/02/20 - No Dia Mundial do Câncer, celebrado nesta terça-feira, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) divulgou as estimativas da doença no Brasil. Em 2020, o país deve ter 625 mil casos novos de câncer. Excluindo os de pele não melanoma, de menor gravidade, serão 450 mil.
Estes excluídos, os cânceres mais comuns são os de mama e próstata (66 mil cada), cólon e reto (41 mil), pulmão (30 mil) e estômago (21 mil).
Em 2018, a estimativa para o biênio era de 582.590 casos novos, mas o Inca informa que a metodologia do estudo mudou e, portanto, os dados não são comparáveis.
— A estimativa de 600 mil é compatível com o que se espera em países em desenvolvimento. Se formos comparar com o resto do mundo, diríamos que estamos numa situação intermediária — afirma Marceli de Oliveira Santos, técnica da Divisão de Vigilância do INCA.
Especialistas do Inca destacaram as diferenças entre os diferentes tipos de câncer de acordo com as regiões brasileiras.
— O câncer é um indicador socioeconômico claro, e o Brasil é muito desigual. Onde o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é mais baixo, como na região Norte, estão lá o câncer de útero e de estômago — diz a oncologista Maria Inez Gadelha, diretora do Departamento de Atenção Especializada da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde. — Já quando falamos de Sul e Sudeste, os cânceres que incidem mais são os ligados aos hábitos de vida.
A oncologista reforça que o câncer tem relação com a idade. Por tanto, com a expectativa de vida crescendo, o número de casos deve mesmo aumentar.
Segundo ela, câncer de cabeça, pescoço, cavidade bucal, faringe, estômago e colo do útero são ligados à condição socioeconômica. Outros ocorrem mais na população acima dos 60 anos e dependem da exposição aos fatores externos, como sedentarismo, fumo, exposição ao sol, bebida alcoólica e obesidade, sendo que 85% dos cânceres são provocados por causas externas.
Um dos tipos que mais vem crescendo no mundo é o câncer cólon retal (também conhecido como câncer de intestino) "altamente relacionado a hábitos de vida não saudáveis como obesidade, sedentarismo e consumo de alimentos altamente industrializados”.
— Uma das novidades que o estudo traz é uma inversão. Até na região Norte o câncer de mama superou o câncer de colo do útero. Isso é sinal que o SUS está chegando à população. É sinal de avanço — diz a diretora-geral do Inca, Ana Cristina Pinho.
Por outro lado, o fato do câncer de colo de útero aparecer como o segundo mais frequente no Norte, Nordeste e Centro-Oeste mostra que há muito caminho a percorrer.
— Conhecemos o fator de risco, temos exames que detectam e tratam a lesão antes de se transformar em câncer. Tem até vacina. Não era nem para estar ocorrendo ainda e, no entanto, ainda temos tantos no país. É um indicador do que estamos oferecendo em termos de saúde — afirma Liz Almeida, chefe da Divisão de Pesquisa Populacional do Inca.
O câncer infanto-juvenil representa 3% no geral. O risco é maior no Sul e Sudeste o que, segundo especialistas, estaria ligado ao acesso maior a diagnóstico.
No mundo
O câncer é o principal problema de saúde pública no mundo e já está entre as quatro principais causas de morte prematura (antes dos 70 anos de idade) na maioria dos países.
Segundo o Inca, 7,6 milhões de pessoas morrem em todo o mundo por causa do câncer a cada ano. Mais da metade delas, 4 milhões, têm entre 30 e 69 anos.
A previsão, segundo o instituto, é que 6 milhões de pessoas morram prematuramente por ano até 2025, caso não sejam adotadas medidas de prevenção.
Nesta terça, a OMS também divulgou dados sobre o câncer. Segundo a organização, os registros da doença aumentarão cerca de 81% nos países em desenvolvimento até 2040.
Em um comunicado divulgado nesta segunda-feira (3), a ONU alerta que se as tendências atuais se mantiverem, o mundo registrará um aumento global de 60% dos casos de câncer nas próximas décadas.
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