Carlos Henrique Ferreira, VP do Instituto Renault: capacitação de costureiras em comunidade carente de São José dos Pinhais (PR) | (Foto: Guilherme Pupo/VOCÊ S/A)
Companhias que se preocupam com a responsabilidade social não fazem bem apenas à comunidade, mas também aos negócios
Por Alexa Meirelles e Juliana Américo
VOCÊ S/A
As empresas devem olhar apenas o lucro ou precisam se comprometer com desenvolvimento sustentável, redução da desigualdade social, preservação do meio ambiente e preocupação com a sociedade? Esse questionamento tem sido cada vez mais frequente dentro e fora das companhias. E dados comprovam essa percepção.
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Do ponto de vista do consumo, os compradores estimulam empresas que se dedicam a temas socioambientais. Tanto que uma pesquisa realizada pela consultoria Nielsen em 2015 com 30 000 pessoas em 60 países revelou que 66% delas estavam dispostas a pagar mais por produtos e serviços de companhias comprometidas com essas questões.
No Brasil, os números são parecidos: 74% dos brasileiros preferem consumir produtos e serviços de empresas que tenham programas sustentáveis e 46% estão dispostos a pagar mais por produtos e serviços dessas empresas, segundo outro levantamento da consultoria feito em 2012.
Consequentemente, ter uma atuação engajada influencia positivamente nos resultados das organizações. Ainda de acordo com a Nielsen, as marcas sustentáveis cresceram 4% a mais em 2015 do que as que não tinham políticas desse tipo. Globalmente, 65% do total das vendas foi gerado por companhias com responsabilidade social.
Quando o assunto é investimento, essas organizações também se destacam como as mais valorizadas e confiáveis. De 2005 a 2018, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3 (bolsa de valores de São Paulo) — estabelecido para analisar a performance das empresas em aspectos sustentáveis — apresentou rentabilidade de 203,8%, ante 175,38% do Ibovespa. No mesmo período, o ISE teve a menor volatilidade: 24,67%, enquanto a do Ibovespa foi de 27,46%.
Por trás de tudo isso está a responsabilidade social — uma maneira de conduzir as atividades empresariais pensando holisticamente na sociedade e no ambiente, mas sem deixar de lado os indicadores positivos de negócio. Há redução de custo, melhoria da produtividade, crescimento da receita, acesso ao mercado de capitais e aumento das exportações.
“Também há indicadores intangíveis, como valorização da marca, lealdade do consumidor e engajamento dos funcionários”, diz Haroldo Mattos Lemos, coordenador do MBA em gestão ambiental e sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGV). Mas boa vontade não basta para criar ações desse tipo. “O desafio é contratar um profissional ou uma consultoria com profundo conhecimento desse ramo. Se você não sabe o que e como fazer, os resultados não vão ser bons e você acabará gastando muito dinheiro”, diz Haroldo.
Perto de casa
As companhias que estão nas 150 Melhores Empresas de 2019 já entendem a importância do engajamento em causas socioambientais. Tanto que todas realizam ações de cunho social e 95% delas possuem programas de preservação da natureza — esses índices caem para 89% e 62%, respectivamente, entre as empresas que não se classificaram neste Guia.
Na montadora Renault, por exemplo, as práticas são variadas. Há desde a adequação à ISO 26 000 até ações de educação no trânsito. Mas um projeto que chama a atenção é o de desenvolvimento do bairro Borda do Campo, região da fábrica da empresa em São José dos Pinhais (PR).
“A comunidade é uma das mais violentas da cidade, com sérios problemas de prostituição, tráfico de drogas e agressão contra as mulheres”, explica Carlos Henrique Ferreira, vice-presidente do Instituto Renault (criado em 2010 para reunir as ações de sustentabilidade social e ambiental da companhia).
Há quatro anos, a empresa se uniu ao Borda Viva, uma associação de bairro criada por mulheres da comunidade que usa a costura para arrecadar dinheiro e distribuir alimentos.
A Renault construiu uma nova sede para o grupo de ativistas com direito a ateliê, cozinha industrial e restaurante que atende gratuitamente crianças em idade escolar e que vivem em situação de vulnerabilidade social — são oferecidas mais de 37 000 refeições por ano. Além disso, a montadora treinou as costureiras levando para a Casa da Costura uma designer de produtos e uma estilista, que ensinaram a desenvolver modelos, desenhar peças e garantir a qualidade do produto.
Mas por trás disso havia uma inovação: criar peças com materiais usados na fabricação de automóveis que, antes, seriam descartados. “Dois fornecedores de bancos começaram a doar sobras de tecido, de couro e cintos de segurança”, diz Carlos Henrique.



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