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Epilepsia pode ocorrer com qualquer pessoa e em qualquer idade. Foto: Pexels by Pixabay

Convulsão não é o único aspecto da condição; pessoas sofrem preconceito por falta de informações corretas

O senso comum tem uma visão estereotipada da epilepsia: pessoa doente que, de vez em quando, cai no chão com ataque epiléptico. Essa pessoa precisaria ficar longe do convívio social por ser incapaz de lidar com a condição. O que poucos sabem é que a crise convulsiva é apenas um dos aspectos da doença e 70% dos casos têm controle com medicamento.

Por conta do estigma, pacientes que convivem com os sintomas da epilepsia sofrem preconceito, tendem a ser inferiorizados e suas capacidades, mesmo que não relacionadas à doença, são colocadas em dúvida.

A artista plástica Joice da Paz Hatakeyama, de 24 anos, foi diagnosticada com a condição por volta dos 12 anos. Na fase adulta, ela passou por situações desagradáveis, mas hoje lida bem com a própria doença.

“É super tranquilo, mas acho que não me daria tão bem se não tivesse apoio do hospital, porque foi muito difícil pensar nisso tudo, ter acesso a informação e pensar de outra maneira. Mas a vida é super tranquila”, afirma.

Definição de epilepsia

A neurologista Vera Terra, presidente da Liga Brasileira de Epilepsia (LBE), explica que se trata de uma doença do cérebro relacionada ao funcionamento anormal dos neurônios. “As células do cérebro se comunicam por impulsos eletrônicos ou por neurotransmissores. Nas pessoas com epilepsia, essa comunicação é exagerada em algumas regiões do órgão, com liberação de muitos neurotransmissores. Os neurônios disparam de forma aleatória e gera a crise”, diz a especialista.

As causas da epilepsia, segundo a médica, são variadas, mas a doença pode ter origem em danos cerebrais, como um tumor, acidente vascular cerebral (AVC), trauma ou qualquer doença que afete a estrutura normal do órgão. Assim, qualquer pessoa pode desenvolver o quadro, mas aquelas que sofreram alguma lesão são mais propensas. Abuso de álcool e drogas também pode ser um fator.

Veja na imagem abaixo o que fazer e o que não fazer com uma pessoa em crise convulsiva:

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Primeiros socorros em caso de crise convulsiva. Foto: Associação Brasileira de Epilepsia/Divulgação

Quanto aos sintomas, a convulsão é apenas um tipo de crise – tem mais de 30 tipos, segundo Vera. Outra ocorrência é a crise de ausência, em que a pessoa ‘se desliga’ por até um minuto e depois volta à atividade como se nada tivesse acontecido. O paciente pode ainda experimentar sensações estranhas, como descontrole de movimento de uma parte do corpo, formigamento ou visão e audição alteradas.

“O que acontece é que, geralmente, esses sintomas mais brandos acabam evoluindo para outra coisa. Esse é só o início da crise”, afirma a neurologista, que afirma que o risco de convulsão sempre existe, mas, com o tratamento adequado, a possibilidade é baixa.


Diagnóstico de epilepsia

Quando a pessoa tem crises de ausência ou convulsivas, ela não percebe o que aconteceu, por isso é importante que um observador, geralmente um familiar, relate o que está acontecendo. Joice conta que a mãe dela a levou ao médico na primeira crise, quando ainda era bebê. “Na época, ela não quis fazer o tratamento porque receitaram Gardenal”, diz. Depois disso, ela teve uma nova crise aos 12 anos, mas antes já dava sinais que foram ignorados.

“Eu alertava minha mãe: ‘Estou tendo muito choquinho na mão’. Eu não conseguia tomar café da manhã direito, porque o talher e o copo caíam da minha mão”, relata a artista plástica. Um dia, depois de virar a noite estudando, ela acordou, sentou na cama e não teve vontade de levantar. “De repente, meu corpo travou. Começou pelo braço direito e, na minha cabeça, como não tinha acesso a informações na época, pensei que estava tendo uma possessão”, relembra Joice.

Ela ainda ficou acordada por um momento e sentiu a cabeça chacoalhar até cair no chão e perder os sentidos. Após esse episódio, ela foi encaminhada para um neurologista e levou três meses até encontrar um medicamento que controlasse as crises adequadamente.

Tratamento para epilepsia

Vera explica que o controle das crises é feito por medicamento que diminuem a reação exagerada dos neurônios. O Gardenal, embora ainda seja usado por alguns pacientes, é apenas uma entre as drogas antiepilépticas que são eficazes na maioria dos casos. Enquanto 70% das pessoas com epilepsia vivem normalmente com crises controladas, as outras 30% têm quadros de difícil controle.

A médica afirma que, se a pessoa fez tratamento por dois anos e não apresentou crises, além de passar anos posteriores sem medicação, ela está curada. Joice, porém, que está há cerca de sete anos sem crises, continua tomando remédios e evita, por exemplo, dirigir ou ter um ritmo de vida acelerado, pois sabe que o estresse e noites mal dormidas podem desencadear uma nova crise.

Importante ressaltar que cada caso é diferente do outro e o tratamento é feito individualmente. Quando a crise é de difícil controle, uma cirurgia no cérebro pode ser considerada. Por meio de um exame de ressonância, é possível identificar a parte cerebral afetada e retirá-la.

Sem preconceito

A neurologista menciona que uma dos mitos da epilepsia é o contágio. Joice lembra que, na infância, os pais dos amigos dela não permitiam que os filhos ficassem perto dela. Vera afirma que isso já está diminuindo. No mercado de trabalho, os pacientes podem enfrentar dificuldades pelo preconceito de se contratar alguém com a condição, mas a médica reforça que tudo tem controle.

“O mais importante é encarar [a epilepsia] como uma doença como outra qualquer. Esse movimento que existe tenta tirá-la das sombras”, diz a especialista. O movimento ao qual ela se refere é o Purple Day, ou Dia Roxo, celebrado em todo 26 de março para conscientizar sobre a epilepsia.

Joice enfatiza que a epilepsia é algo normal e faz comparação com quem tem hipertensão ou é vegano: “precisa de adaptação. É muito importante que entendam que determinados estilos de vida não servem para determinadas pessoas. É natural, não precisa mistificar”.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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