Na esclerose múltipla, a bainha de mielina dos neurônios é afetada (Ilustração: Otávio Silveira/SAÚDE é Vital)
Remédio oral pode facilitar adesão ao tratamento e recebeu recomendação positiva de comissão do Ministério da Saúde
Um novo tratamento para esclerose múltipla, focado em reduzir sintomas e melhorar a qualidade de vida, está para chegar ao Sistema Único de Saúde (SUS) em breve. Trata-se da cladribina oral.
O medicamento recebeu avaliação positiva da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), entidade que norteia a inclusão de remédios na rede pública.
Ele está indicado para pacientes com esclerose múltipla remitente-recorrente altamente ativa, uma forma grave da doença.
A decisão ocorreu nesta terça-feira, 19, após deliberação, por unanimidade, dos membros presentes na reunião extraordinária da Conitec, com a participação de representantes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais (Conasems).
O remédio deverá ser efetivamente ofertado no SUS num prazo máximo de 180 dias após a publicação da decisão (que ainda não ocorreu).
“Este prazo se faz necessário para os trâmites operacionais de negociação de preço, compra, distribuição e elaboração de protocolo clínico para orientar o uso racional”, afirmou em nota o Ministério da Saúde.
A esclerose múltipla
A esclerose múltipla (EM) é uma doença inflamatória crônica, que afeta o sistema nervoso central. A condição degenerativa atinge principalmente jovens e adultos entre 18 e 55 anos e afeta o organismo de diversas maneiras.
O Brasil apresenta uma prevalência média de 8,7 casos por 100 mil habitantes. A Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM) calcula que há mais de 40 mil brasileiros vivendo com EM.
O diagnóstico é feito com avaliações clínicas e laboratoriais, que incluem o relato do indivíduo, exames neurológicos e de imagem e avaliação do líquido cefalorraquidiano retirado da coluna.
As causas não são totalmente esclarecidas, mas ela está associada a fatores genéticos e ambientais, como exposições a vírus e substâncias tóxicas, por exemplo.
A EM é caracterizada por danos em uma estrutura chamada bainha de mielina, que envolve as células nervosas, por onde passam os impulsos elétricos que controlam as funções do corpo humano.
A doença é classificada de acordo com o grau de evolução, a incapacidade e frequência dos sintomas. São três tipos: esclerose múltipla remitente-recorrente (EM-RR), a forma mais comum e que representa 85% de todos os casos, a primariamente progressiva (EM-PP) e a secundária progressiva (EM-SP).
Como funciona a cladribina
Entre os indivíduos com o tipo mais frequente, a EM-RR, há um subgrupo que apresenta surtos frequentes e graves, com déficits físicos e cognitivos significativos. Essa forma da condição é definida tecnicamente como “altamente ativa”.
É justamente para essa parcela que será indicada a medicação no SUS.
De acordo com a Conitec, o mecanismo pelo qual o fármaco exerce ação terapêutica não é completamente esclarecido.
Contudo, entende-se que ele desencadeia reações químicas que levam à morte dos linfócitos B e T, células de defesa do organismo envolvidas nas reações inflamatórias da doença. A forma oral do remédio facilita sua administração.
“É uma aprovação muito importante. As pessoas que apresentam alta atividade de doença têm apenas uma opção de tratamento no SUS, que é o natalizumabe. Agora, caso tenham alguma contraindicação ou problema de continuidade do uso, o que pode acontecer, serão candidatas do uso de cladribina”, avalia a neurologista Raquel Vassão, de Belo Horizonte, consultora científica da associação Amigos Múltiplos pela Esclerose (AME).
Vale destacar que, por ser uma doença que não tem cura e compromete diversas partes do corpo, a esclerose múltipla requer um tratamento multiprofissional. A abordagem ideal inclui estratégias que ajudam a ampliar a autonomia do indivíduo, incluindo medicamentos e fisioterapia.
Os remédios, como a cladribina, têm como objetivo trazer melhoras nos sintomas e impedir o surgimento de novos surtos, que podem piorar a degeneração do sistema nervoso do indivíduo.
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