Estoques e produção local ganharão força com crise

O Globo 
Jornalista: Cássia Almeida e Henrique Gomes Batista


19/04/20 - A crise sanitária, com disputa acirrada entre os países por insumos para remédios e equipamentos médicos, reforça um debate sobre ter a Ásia —em especial a China— como grande fornecedor de bens e equipamentos para todo o planeta.

Alguns especialistas veem o reforço de uma onda protecionista, com impactos no comércio internacional, como uma consequência da pandemia. Outros acham que acrise deve gerar mudanças pontuais na atual distribuição internacional da produção, pois a lógica capitalista de buscar a eficiência e especialização para alcançar menores custos vai se sobrepor.

O temor é que um protecionismo exacerbado intensifique a recessão mundial, como na Grande Depressão de 1929:

— O grande risco é repetirmos o isolacionismo que vimos após 1929, o que piora tudo, transforma recessões em depressões —diz Paulo Resende, da Fundação Dom Cabral.

Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos de Desenvolvimento Industrial (Iedi), observa que o Brasil importa 60% dos insumos para fabricação de medicamentos no país. Ele prevê descentralização da produção mundial, depois que ficou clara a dependência da China.

Outra tendência é a indústria voltara fabricar insumos para garantira produção final. Ele lembra que há forte atuação estatal na corrida tecnológica, um dos pontos mais nevrálgicos na guerra comercial entre EUA e China. Anova geração de telefonia móvel,5G,é um dos objetos de ação estratégica dos governos:

— A digitalização da economia e a automação avançada já são preocupações das nações. Isso pode gerar ganhos de produtividade tão grandes que permitiriam que a produção pudesse voltar para países de renda alta, como EUA e Alemanha.

Isso levaria a uma mudança profunda das cadeias produtivas. O coronavírus deve acelerar esse processo.

FABRICAÇÃO SEGMENTADA

A lógica industrial das últimas décadas tem sido a especialização como forma de cortar custos, o que integrou países em diferentes etapas da produção de bens. Isso despertou discursos nacionalistas e protecionistas, como o do americano Donald Trump, mas sem alterações radicais até agora.
—Deve haver mais pressão para que as empresas nacionalizem suas linhas de produção. Mas isso será bem-sucedido? Trump tenta isso desde que chegou à Casa Branca, sem sucesso em uma escala expressiva — diz Cláudia Trevisan, pesquisadora da Universidade Johns Hopkins, em Washington, lembrando que a China é origem de 90% dos antibióticos vendidos nos EUA.

— Talvez seja mais fácil em cadeias de produção de medicamentos e equipamentos médicos.
A crise atual tende a ampliar políticas industriais, em alta em países desenvolvidos. O Japão anunciou apoio governamental de US$ 2,5 bilhões a setores produtivos locais. No entanto, Carlos Langoni, presidente do Centro de Economia Mundial da FGV e ex-presidente do Banco Central, prevê integração produtiva mais segmentada, formada por acordos bilaterais, sem a participação dos organismos multilaterais, esvaziados pela tensão entre EUA e China:
—Apesar da retórica nacionalista, dificilmente os países vão abrir mão de um comércio mundial cada vez mais intenso. Não deve haver reversão dramática desse modelo. Deve haver uma globalização seletiva, com acordos bilaterais.

Para André Soares, pesquisador do centro de estudos Atlantic Council, há opções mais viáveis que reformulações de estruturas produtivas:
— Os países terem estoques fortes, reguladores, tem custo econômico, mas é mais fácil de ser adequado à lógica das cadeias globais de produção.

Clif Kupchan, presidente da Eurasia Group, vê a tendência:
— Governos armazenarão produtos essenciais.

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