( O Estado de S.Paulo )
Jornalista: Roberta Jansen
20/11/19 - O que existe no ar que respiramos? A verdade é que até bem pouco tempo atrás ninguém sabia. Embora os microrganismos presentes no solo e nos oceanos estejam bem mapeados, o bioma do ar nunca havia sido estudado em larga escala. Agora, pela primeira vez, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio (UFRJ) e da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, conseguiu fazer esse levantamento. A resposta: são mais de mil espécies de micróbios diferentes, muitas desconhecidas.
Segundo os pesquisadores, esse detalhamento inédito pode ajudar a criar ambientes com determinadas características, como o de hospitais, por exemplo. Também será possível estimar os efeitos do aquecimento global sobre esse bioma. O trabalho foi publicado no mês passado na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
“A gente se preocupa muito com a água que bebe e muito pouco com o ar que respira”, disse Ana Carolina Junqueira, professora do Departamento de Genética do Instituto de Biologia da UFRJ, uma das autoras.
Estudar o ecossistema do ar sempre foi um desafio para os cientistas por causa das baixas quantidades de material genético – o que dificulta a aquisição de DNA suficiente para ser testado. Por esse motivo, o microbioma da atmosfera era o menos estudado em escala global.
O mapeamento foi possível agora por causa da descoberta de um novo método de coleta do ar e análise genética em amostras mínimas, até 50 vezes menores do que um fio de cabelo. Os poucos estudos disponíveis até hoje haviam sido feitos em países de clima temperado.
O novo levantamento foi realizado em Cingapura, um país de clima tropical como o Brasil.
Mil
Os pesquisadores concluíram que há mais de mil espécies de micróbios no ar e, ainda, que essa diversidade responde a padrões específicos nos trópicos: o ar diurno é dominado pelas bactérias, enquanto o noturno é predominantemente constituído por fungos. “Grande parte da população é alérgica”, lembra Ana Carolina. “Com essas informações, podemos determinar padrões de incidência de alergias em diferentes regiões. Também podemos orientar para que deixem a janela aberta à noite ou de dia, dependendo da alergia. E usar filtros de ar para não permitir a proliferação de determinados fungos”, diz.
O novo estudo revela que o ar tropical tem complexidade microbiana semelhante à dos oceanos, solos e trato gastrointestinal humano. Fatores ambientais como temperatura, umidade e radiação solar influenciam a composição e abundância das comunidades. Por isso, o trabalho também é importante para o entendimento de processos relacionados às mudanças climáticas globais e à qualidade do ar. “Subestimamos a diversidade de microrganismos na atmosfera”, diz Ana Carolina.
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