Estudo mostra que reações adversas às vacinas são raras

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Dos centenas de milhões de americanos que receberam vacinas nos 30 anos mais recentes, 6.600 receberam compensações depois de terem sido supostamente afetados pelos efeitos colaterais. Foto: Johannes Eisele/Agence France-Presse – Getty Images


Em um momento em que a recusa em seguir o calendário de vacinas infantis está resultando no maior surto de sarampo em décadas, um banco de dados pouco conhecido oferece uma maneira de avaliar o quanto essas vacinas são seguras. Nos 12 últimos anos, os americanos receberam cerca de 126 milhões de doses de vacinas contra o sarampo, doença que infectava milhões de crianças nos Estados Unidos, matando entre 400 e 500 pessoas ao ano.

Durante esse período, 284 apresentaram reivindicações alegando terem sido prejudicadas por essas imunizações por meio de um programa federal criado para compensar as pessoas afetadas negativamente pelas vacinas. Das queixas apresentadas, cerca de metade foi arquivada. Os dados são do Programa Nacional de Indenização por Vacinas. São cobertas as queixas ligadas a 15 vacinas da infância e à vacina sazonal da gripe.

Nas três décadas mais recentes, quando bilhões de doses foram dadas a centenas de milhões de americanos, o programa compensou cerca de 6.600 pessoas por efeitos negativos que teriam sido causados pelas vacinas. Cerca de 70% das indenizações envolveram casos encerrados por acordo nos quais os funcionários do programa não encontraram evidências suficientes para atribuir a culpa às vacinas.

“Os efeitos nocivos das vacinas são raros”, disse Renée Gentry, advogada que defende há quase 18 anos clientes que se dizem prejudicados. Ainda assim, disse ela, “estamos falando de produtos farmacêuticos, aos quais as pessoas podem apresentar reações – pode-se ter uma reação muito adversa à aspirina, por exemplo”.

Nos anos mais recentes, muitas das indenizações pagas pelo programa foram ligadas à vacina contra a gripe, envolvendo geralmente adultos. O programa já fez pagamentos no valor total de US$ 4,15 bilhões. Em 30 anos, cerca de 520 indenizações por óbito foram pagas. Quase metade envolvia uma vacina antiga contra coqueluche que não é mais usada há duas décadas.

Os Centros para Controle e Prevenção de Doenças estimam que as vacinas evitaram mais de 21 milhões de hospitalizações e 732 mil mortes entre crianças no decorrer de um período de 20 anos. Os dados mostram que a probabilidade de uma lesão grave em alguém que contrai sarampo é muito maior do que a probabilidade de sofrer uma lesão decorrente da vacina contra o sarampo.

Cerca de uma em cada quatro pessoas que contraem sarampo precisa de hospitalização, e uma ou duas em mil pessoas com a doença acabam morrendo em decorrência dela. Em comparação, reivindicações por lesões causadas pela vacina contra o sarampo foram apresentadas para aproximadamente duas doses a cada milhão de doses aplicadas.

Foram apresentadas aproximadamente duas reivindicações de lesão decorrente de vacina para cada milhão de doses de todas as vacinas distribuídas nos EUA de 2006 a 2017. O programa apresenta uma lista de lesões e complicações que podem ser causadas por cada vacina.

Elas incluem desmaios e inflamação no cérebro. O autismo não está na lista, já que tribunais federais decidiram que as evidências mostram que o autismo não é causado pelas vacinas. Os opositores das vacinas alegam que a existência do programa seria indício de que as vacinas seriam mais perigosas do que apontam as evidências médicas.

“Se as vacinas não causam lesões, por que o fundo de compensação para lesões decorrentes de vacinas pagou US$ 4.061.322.557,08 como compensação por lesões causadas por vacinas?” indagou o deputado republicano Bill Posey, da Flórida, em uma carta defendendo o direito dos pais de tomar as próprias decisões em relação às vacinas.

Mas especialistas em saúde pública apontam que os dados são, na verdade, uma prova do quanto as vacinas são seguras. “A esmagadora maioria das vacinas injetadas é perfeitamente segura, não havendo nenhum efeito colateral ou adverso associado a elas”, disse H. Cody Meissner, funcionário de uma comissão consultiva do programa de compensações.

“Isso é muito diferente daquilo que o movimento antivacinas tenta apresentar.” Cerca da metade das reivindicações apresentadas desde 2017 envolve lesões no ombro, geralmente em adultos, ocorridas quando um funcionário de saúde injeta a vacina em uma parte muito alta do ombro, ou no espaço das juntas em vez do tecido muscular.

A professora Angela Barry, 58 anos, da Flórida, disse ter sentido imediatamente dor intensa depois de receber uma vacina contra tétano, mal conseguindo erguer o braço. Precisou de injeções de cortisona, cirurgia e meses de fisioterapia. O programa de compensação por lesões pagou pelo custo do tratamento. Angela disse que continua tomando vacinas. “Não quero que alguém tome conhecimento do meu caso e pense, ‘Eis aí outro motivo para evitar as vacinas’”, disse ela.

O programa é financiado por um imposto pago pelos fabricantes de vacinas (US$ 0,75 por dose). A lei funciona como uma proteção para as empresas farmacêuticas: as pessoas devem buscar reparação por parte do programa de vacinação antes de processarem uma fabricante.

Renée, diretora de uma clínica de lesões causadas por vacinas na faculdade de direito da Universidade George Washington, em Washington, disse que a maioria das queixas era apresentada por pessoas que não duvidam da eficácia das vacinas. “Já fomos chamadas de todo tipo de loucura, e até de inimigas da vacinação”, disse ela. “Não somos. A irmã da minha sócia passou a vida na cadeira de rodas porque teve pólio; que bom seria se ela tivesse tomado aquela vacina.”

Fonte: O Estado de S. Paulo

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