Mais de quatro xícaras diárias de café com cafeína estão associadas a menor incidência de tumores na cavidade oral e orofaringe
Por Comunicação CFF
Pesquisas recentes indicam que o consumo de mais de quatro xícaras de café com cafeína por dia está associado a um menor risco de desenvolver câncer de cabeça e pescoço, especialmente nos subtipos de cavidade oral e orofaringe. Além disso, o café descafeinado e o chá também demonstraram efeitos protetores contra alguns tipos desses cânceres, embora o consumo excessivo de chá possa aumentar o risco de câncer de laringe.
O câncer de cabeça e pescoço, que inclui tumores na cavidade oral, orofaringe, hipofaringe e laringe, é o sétimo tipo de câncer mais comum no mundo. Em 2020, foram registrados aproximadamente 745.000 novos casos e 364.000 mortes relacionadas a essa doença. Embora a incidência geral esteja diminuindo em países de alta renda, os casos de câncer de orofaringe têm aumentado, impulsionados pela crescente prevalência de infecções por papilomavírus humano (HPV). Já em países de baixa e média renda, dois terços dos casos globais são registrados, principalmente devido à falta de recursos para prevenção e tratamento.
O café e o chá são duas das bebidas mais consumidas globalmente e contêm compostos bioativos com propriedades antioxidantes, anticancerígenas e anti-inflamatórias. O café, por exemplo, possui cafeína, polifenóis e ácidos clorogênicos, enquanto o chá contém catequinas, flavanóis e ácido fenólico. Estudos anteriores sobre a relação entre o consumo dessas bebidas e o risco de câncer de cabeça e pescoço apresentaram resultados inconsistentes, o que motivou uma investigação mais aprofundada.
Metodologia e Resultados
Uma análise abrangente, realizada com dados do Consórcio Internacional de Epidemiologia de Câncer de Cabeça e Pescoço (INHANCE), incluiu 9.548 casos de câncer e 15.783 indivíduos saudáveis como grupo de controle, provenientes de 14 estudos caso-controle. Os participantes forneceram informações sobre hábitos alimentares, consumo de bebidas alcoólicas, tabagismo e outros fatores de estilo de vida por meio de questionários. Todos os participantes assinaram termos de consentimento, e os estudos foram aprovados por comitês de ética.
Os resultados mostraram que o consumo diário de mais de quatro xícaras de café com cafeína foi associado a uma redução de 17% no risco de câncer de cabeça e pescoço (razão de chances [RC] de 0,83). Especificamente, o risco de câncer de cavidade oral diminuiu 30% (RC de 0,70), e o de orofaringe, 22% (RC de 0,78). O consumo de três a quatro xícaras de café também foi associado a uma redução de 41% no risco de câncer de hipofaringe (RC de 0,59).
O café descafeinado também apresentou benefícios, com uma redução de 25% no risco de câncer de cavidade oral (RC de 0,75). Já o chá mostrou efeitos protetores contra o câncer de hipofaringe (RC de 0,71), mas o consumo de mais de uma xícara por dia foi associado a um aumento de 38% no risco de câncer de laringe (RC de 1,38).
Implicações e Considerações
Os pesquisadores destacam que, embora os resultados sejam promissores, é necessário cautela ao interpretá-los. O estudo não estabelece uma relação de causa e efeito, mas sugere que os compostos bioativos presentes no café e no chá podem desempenhar um papel na proteção contra certos tipos de câncer. No entanto, o aumento do risco associado ao consumo excessivo de chá reforça a importância de um consumo moderado.
Essas descobertas abrem caminho para novas pesquisas sobre os mecanismos pelos quais o café e o chá podem influenciar o risco de câncer, além de destacar a necessidade de políticas públicas que promovam hábitos saudáveis e acesso a tratamentos, especialmente em países de baixa e média renda, onde a incidência desses cânceres é mais alta.
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