O Globo
Jornalista: Ana Lucia Azevedo
10/07/20 - Há hoje 235 vacinas contra o coronavírus em alguma fase de teste no mundo.
Mas um estudo apresentado ontem sugere que uma velha aliada da medicina, a vacina contra a tuberculose BCG, pode ter reduzido a taxa de mortalidade da Covid-19 em países com o Brasil.
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Os cientistas dizem que ainda é muito precipitado recomendar a BCG para evitar o agravamento da Covid-19, mas que seus efeitos devem ser mais bem investigados.
Realizado por pesquisadores do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos e da Universidade Estadual da Virgínia, o estudo foi publicado na revista PNAS, da Academ ia Americana de Ciências.
Ele analisa e compara a taxa de mortalidade por Covid-19 de países europeus, dos EUA, do Brasil e do México.
Verificaram que a taxa de mortos por milhão era negativamente correlacionada com a imunização por BCG. Quanto maior o percentual de pessoas vacinadas por BCG, menor a mortalidade por Covid-19. Ela não preveniria a doença, mas evitaria seu agravamento, ao menos, em tese.
Rio x NY
Segundo Carolina BarillasMury e seus colegas, isso explicaria por que estados e cidades densam ente povoados, com altas de taxas de infecção por coronavírus, mas com alta imunização por BCG, com o São Paulo e Rio de Janeiro, registraram menor taxa de mortalidade do que Nova York, por exemplo.
Os cientistas descobriram que a mortalidade por C ovid-19 nos estados americanos de Nova York, Illinois, Louisiana, Alabama e Flórida, todos sem vacinação universal contra BCG, era significativam ente mais alta do que em estados de países com essa imunização, com o Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo; e o Estado do México e a capital mexicana.
“Isso é excepcional se considerarmos que esses lugares na América Latina têm densidade populacional maior que a dos estados americanos analisados, incluindo Nova York”, escreveram os cientistas.
Na Europa, foram encontrados resultados semelhantes. Na Europa Ocidental, onde nunca houve vacinação em massa com a BCG, a taxa de mortalidade por Covid-19 é 9,92 vezes maior que a de países da Europa Oriental, onde os países em sua maioria tem programas ativos de vacinação com BCG.
A BCG teria um efeito contra a Covid-19 por limitar a ação do coronavírus. Ela estimularia a resposta inata do sistema imunológico não apenas contra o bacilo da tuberculose, mas contra a infecção por outros patógenos e agressões, com o o câncer. Já havia sido observada ação da BCG para ativar o sistema de defesa contra o câncer da bexiga, por exemplo.
Em seu estudo, os cientistas dizem que a identificação dessa relação de redução de mortalidade e BCG evidencia a “necessidade de mais pesquisas sobre os efeitos da vacinação pela BCG sobre a Covid-19 e também com o forma de evitar a forma grave da doença”. (A.LA.)
Esse não é o primeiro estudo a fazer a associação entre a BCG e o combate da Covid-19, mas é o maior até agora.
Os cientistas destacaram que a “associação consistente” entre a imunização por BCG e a redução da severidade da Covid-19 observada nesses estudos epidemiológicos é surpreendente, mas não suficiente para estabelecer uma relação de causalidade.
Eles acrescentaram que estudos clínicos em curso na Holanda e na Austrália, em que profissionais de saúde recebem ou BCG ou uma injeção de placebo (inócua), poderão determinar em que medida a imunização contra a tuberculose confere proteção contra a Covid-19.

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