Jef Feeley
(Bloomberg) -- O Departamento de Justiça dos EUA abriu uma investigação criminal para apurar se a Johnson & Johnson mentiu para o público sobre os possíveis riscos de câncer com o uso do talco fabricado pela empresa, de acordo com pessoas com conhecimento do caso.
A investigação criminal coincide com uma investigação regulatória e queixas civis movidas por milhares de vítimas de câncer, que alegam que o talco para bebês da J&J foi responsável por suas doenças. Agora, um grupo de jurados está examinando documentos que tratam do que a empresa sabia sobre ingredientes cancerígenos em seus produtos, informaram as fontes.
O talco para bebês representa uma fração ínfima da receita anual da J&J, mas é uma marca importante para a companhia há mais de um século. Questões sobre sua segurança motivaram mais de 14.000 processos judiciais alegando que o talco causou câncer de ovário ou mesotelioma (um tipo raro da doença ligado à exposição a amianto).
Em fevereiro, a J&J informou que recebeu intimações, mas que pouco sabia da investigação por trás delas, nem sabia se a questão seria civil ou criminal.
Em comunicado divulgado nesta sexta-feira, a companhia informou que não há novos desdobramentos no caso. "Estamos cooperando totalmente com a investigação já noticiada pelo Departamento de Justiça e continuaremos fazendo isso", afirmou a porta-voz da J&J, Kim Montagnino. "O talco para bebês da Johnson não contém amianto nem causa câncer, o que é sustentado por décadas de evidências clínicas independentes."
O Departamento de Justiça não retornou solicitações de comentário da reportagem.
Memorandos internos
A maior fabricante mundial de produtos de saúde afirma que testes de segurança com o talco para bebês conduzidos durante várias décadas não mostraram presença de amianto. No entanto, alguns dos processos revelaram memorandos internos das décadas de 1960 e 1970 nos quais cientistas da companhia alertaram que o amianto detectado no talco da J&J representava um "perigo severo para a saúde", que poderia resultar em risco jurídico.
Segundo especialistas em direito, promotores do Departamento de Justiça, agentes do FBI e autoridades da Comissão de Valores Mobiliários (SEC) provavelmente estão avaliando se eram verdadeiras as afirmações públicas da J&J de que os produtos à base de talco nunca tiveram amianto.
Uma dezena de júris concluíram que a J&J estava ciente de que alguns dos produtos tinham pelo menos quantias residuais de amianto e não revelou isso aos consumidores. Nos últimos três anos, jurados concederam mais de US$ 5 bilhões em indenizações a pessoas que atribuíram seu câncer ao talco.
A companhia admitiu ter separado dinheiro para despesas legais associadas aos processos envolvendo o talco, mas não informou quanto. A Bloomberg Intelligence estima que acordos para encerrar processos civis podem custar até US$ 15 bilhões à J&J.
--Com a colaboração de Michelle Fay Cortez, Matt Robinson e Tom Schoenberg.
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