O Estado de S.Paulo
Se a pandemia parece controlada em algumas partes do mundo, na Europa a sensação é de que ela vem ressurgindo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 500 mil pessoas morrerão nos próximos meses de inverno na região. Para conter o avanço, a Letônia se tornou o primeiro país europeu a restabelecer um lockdown, em outubro. Nos últimos dias, Holanda, Croácia e Romênia apertaram as restrições e a Alemanha aconselhou uma dose de reforço.
Para a OMS, a Europa voltou a ser o epicentro da pandemia no mundo. Isso ocorre porque a vacinação é muito desigual no continente. Metade da população europeia foi totalmente imunizada, segundo o último registro do site Our World In Data, da Universidade de Oxford. No entanto, se a taxa dentro de alguns países da União Europeia chega a 70%, no Leste Europeu e na Europa Central, a adesão ainda é baixa.
A Eslováquia, onde apenas 46% da população está totalmente imunizada, registrou o maior número de infecções diárias desde o início da pandemia. Na Polônia, que imunizou 53% de seus habitantes, o número de novos casos deu um salto de 50% ontem, depois de quadruplicar nas três semanas anteriores.
A Romênia, que tem um terço da população vacinada, teve o maior número de mortes per capita no mundo nos últimos sete dias. A vizinha Bulgária, o país menos vacinado da UE, atingiu um novo recorde de mortes diárias esta semana. Em toda a Europa, o número de casos diários se aproxima de 300 mil. A tragédia só não é maior, segundo autoridades, por conta da vacinação, que segura a quantidade de mortes.
CRESCIMENTO
Na Europa, 80 mil pessoas morreram em decorrência da covid em outubro. O número está acima dos meses anteriores, mas ainda é menor do que as 150 mil vítimas por mês no auge da pandemia, no começo do ano. A maioria das mortes, segundo autoridades de saúde de vários países, é registrada em pessoas não vacinadas, mais suscetíveis a desenvolver a forma grave da covid.
“A expectativa de queda das temperaturas, a redução da eficácia das vacinas e as diferenças na cobertura de imunização dificultam prever a evolução da epidemia”, disse Arnaud Fontanet, epidemiologista do Institut Pasteur, que assessora o governo francês. “As próximas três a seis semanas serão fundamentais.”
A Alemanha foi um dos primeiros países da Europa a tentar controlar esta nova onda.
Jens Spahn, o ministro da Saúde, determinou que todos deveriam receber uma dose de reforço da vacina.
Mas, além de buracos no mapa da vacinação, autoridades temem o cansaço e a complacência da população, especialmente entre os vacinados. O relaxamento faz as pessoas ignorarem as novas restrições e não usarem máscaras. O Reino Unido, que liderou a imunização e eliminou a maioria das restrições, já registra o maior número de casos desde julho. Na Alemanha, as infecções estão no nível mais alto desde o início da pandemia.
Na Grécia, as UTIs já estão com 84% da capacidade, ante 67% há um mês. Em resposta, o governo grego aumentou as restrições. A partir de hoje, todas as pessoas não vacinadas serão obrigadas a apresentar um teste negativo para entrar em espaços fechados, incluindo bancos, a maioria das lojas e repartições públicas.
LOCKDOWN
A Letônia voltou ao modo crise: restaurantes e salões de beleza foram fechados, os estudantes voltaram a ter aulas online e foi restabelecido um toque de recolher depois das 20 horas. Na Holanda, o uso de máscara voltou a ser obrigatório em espaços públicos e os museus já exigem novamente certificados de vacinação.
Fergus Sweeney, chefe da divisão de estudos clínicos da Agência Europeia de Medicamentos, disse que era muito preocupante que os indicadores estivessem aumentando à medida que o inverno se aproxima. Ele pediu que todos os europeus completem o esquema de vacinação o mais rápido possível.
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