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A intenção, segundo os pesquisadores, é que a substância analisada possa resultar em novos medicamentos para controlar a vontade de comer

 
by Karine Dalla Valle - Zero Hora

 

Insistir que os exercícios físicos ajudam a emagrecer pode ser cansativo para quem tem dificuldade em deixar de lado a vida sedentária. Mas existe um novo e bom argumento para isso.

Uma descoberta recente de cientistas da Universidade de Stanford e da Escola de Medicina de Baylor, nos Estados Unidos, mostra que a prática intensa de atividades é capaz de produzir uma molécula que inibe a fome.

Segundo os pesquisadores, a molécula é um híbrido de dois compostos químicos que já existem no corpo humano, o lactato e a fenilalanina, e foi chamada de Lac-Phe. Ela foi identificada em ratos que apresentaram altos níveis da substância após serem submetidos a uma corrida na esteira.

Depois, essa molécula foi isolada e dada a ratos obesos, que comeram 50% a menos, nas primeiras 12 horas após a ingestão, do que os animais que receberam placebo. Mas não se observou nenhum efeito em ratos que não estavam obesos. A intenção, segundo os pesquisadores, é que essa substância possa resultar em novos medicamentos para controlar a vontade de comer.

Antes dessa descoberta, já se sabia que a prática diária de atividades, se não tem relação direta com a fome, é capaz de produzir uma sensação de bem estar e alívio da ansiedade – o que, por sua vez, dá mais vontade de cuidar do corpo e escolher melhor os alimentos, como aponta o nutricionista do esporte Giuseppe Potrick Stefani, que é professor de Nutrição Esportiva na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

– É importante falar que o exercício físico traz uma mudança no estilo de vida. Gera bem estar, alívio da ansiedade. É uma vontade de cuidar mais do corpo, de não cometer excessos – reforça Stefani.

Embora o estudo fale dos benefícios da prática intensa de atividades, não é necessário investir somente em exercícios de alto impacto para algum efeito benéfico na saúde. Na avaliação da educadora física Rejane Marcon, especialista em obesidade e exercícios físicos e que atende a pacientes de cirurgia bariátrica no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, qualquer prática pode ser vantajosa e trazer resultados – ainda que não se saiba o quanto irá impactar na fome.

– Esse estudo sobre a Lac-Phe aponta para o benefício do exercício de alta intensidade, mas faz parecer que não há ganho em exercícios de menor intensidade. E não é isso. Exercícios de 10 minutos seguidos são capazes de fazer a diferença, também. Precisamos tornar nossa população ativa, e não atleta. O objetivo é que as pessoas façam atividades, e não que tenham alta performance – diz.

Na avaliação de Rejane, o caminho mais seguro para deixar de ser sedentário é começar aos poucos, fazendo mudanças sutis na rotina. Descer do ônibus uma parada antes vai encompridar a caminhada, gastando mais energia, assim como usar as escadas em vez do elevador.

Depois que esses pequenos esforços virarem habituais, dá para investir em atividades que exigem mais do corpo, como a própria caminhada, além de andar de bicicleta, fazer alongamentos no parque, jogar bola, entre outras opções. Difícil é querer que uma pessoa que não se mexe todos os dias já parta para um treino exaustivo.

– O sedentário olha alguém correndo meia maratona e pensa: “Eu nunca vou conseguir”. Mas se a gente falar para ele começar aos poucos, com 10 minutos por dia, ele vai se adaptando. É uma questão de saber incentivar – diz a profissional.

O recomendado é que cada pessoa faça 150 minutos por semana dessas atividades mais leves, além de duas a três vezes de exercícios de força. A escolha deve ser guiada pelo prazer, e não pela obrigação, observa Rejane.

Assim, haverá mais chance de abandonar para sempre a vida ociosa, fazendo da prática de exercícios um compromisso com a saúde:

– A gente deixa de tomar banho quando está frio? Deixa de escovar os dentes? Com o exercício é a mesma coisa. Isso precisa ser encarado como condição de saúde. E tem que ter prazer. As pessoas só seguem com o que elas têm prazer de fazer.

E embora a ciência esteja tentando entender de que jeito as atividades físicas podem inibir a vontade de comer, alimentar-se antes e depois de se exercitar é fundamental. Ficar com o estômago vazio depois de um treino não trará bons resultados, frisa Stefani:

– O exercício é altamente estressante para o corpo. O ideal é comer algo mais leve antes de se movimentar e, quando terminar o treino, repor esses estoques de forma mais adequada possível. Se ficar comendo pouco, os estoques de energia do músculo e do fígado se tornam insuficientes. É como se nunca completássemos o tanque de gasolina.

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