Falta de insulina pode colocar em risco a saúde de milhões de pessoas
Novo estudo revelou que cerca de 40 milhões pessoas com diabetes tipo 2 podem ficar sem acesso ao composto em 2030
Cerca de 40 milhões de pessoas com diabetes tipo 2 podem ficar sem acesso à insulina em 2030, alertou um estudo publicado recentemente na revista Lancet: Diabetes and Endocrinology. O motivo para a possível escassez é o crescimento mundial da doença, causado pela epidemia de obesidade que atinge a população. Atualmente o número de diabéticos tipo 2 é de 405,6 milhões de pessoas – das quais 33 milhões já não têm acesso ao medicamento – e estima-se que na próxima década esse número deva subir para 510,8 milhões.
O problema da insuficiência de insulina afeta principalmente países emergentes. Um estudo anterior revelou que seis países, entre eles o Brasil, já apresentam baixa disponibilidade do remédio. Segundo especialistas, a dificuldade global do acesso ao produto só não é maior porque muitos pacientes diagnosticados com o tipo 2 não necessitam da insulina, que é essencial para a sobrevivência de quem tem o tipo 1.
“O acesso é definido através da disponibilidade e acessibilidade. Além dos preços, também é necessário considerar a distribuição segura de um medicamento que necessita de refrigeração e acessórios como agulhas e seringas”, explicou Sanjay Basu, principal autor do estudo, à rede britânica BBC. O pesquisador ressaltou que 99% do mercado global de insulina é controlado por três multinacionais – Novo Nordisk, Eli Lilly and Company e Sanofi –, uma das razão pelas quais o valor da medicação permanece elevado.
A insulina ajuda a reduzir o risco de complicações como cegueira, amputação, insuficiência renal e acidente vascular cerebral (AVC). Por causa disso, Tim Reed, da Health Action International (HAI), empresa que financiou a pesquisa, ressaltou que os governos devem usar as novas informações para planejar melhor a coberta universal de saúde, ação que pode desempenhar papel fundamental na qualidade de vidas dos pacientes. “Isso é particularmente importante já que nossos dados mostram que a maior necessidade [de insulina] ocorre quando os sistemas de saúde são fracos e a disponibilidade e acessibilidade são ruins”, disse ao The Guardian.
Preço
De acordo com a BBC, apesar de a maioria dos países não cobrarem tarifas sobre a insulina, o medicamento ainda é caro para muitos pacientes já que há outros gastos envolvidos, como custo de produção e distribuição, lucro dos fabricantes e impostos. Todos esses fatores estão incluídos no valor de compra, elevam o preço do remédio e prejudicam a acessibilidade.
Nos Estados Unidos, por exemplo, onde há mais de 20 milhões de diabéticos – número que deve subir para 32 milhões em 2030 – as despesas extras com insulina aumentaram em 89% entre 2000 e 2010. O preço de um frasco de insulina, que dura apenas algumas semanas subiu de 40 dólares (cerca de 154 reais) para 130 dólares (cerca de 500 reais).
Disponibilidade
Para Henri Beran, da Universidade de Genebra, na Suíça, o controle global do mercado de insulina indica que os países têm um número restrito de fornecedores para escolher. Devido a isso, pacientes podem precisar trocar o tipo de insulina que utilizam, conforme as empresas retiram algumas fórmulas do mercado. O tipo de insulina prescrita varia de acordo com a necessidade do paciente, considerando fatores como resposta ao medicamento, estilo de vida, idade, metas de açúcar no sangue e número de injeções a serem tomadas diariamente.
Um estudo sobre a disponibilidade do produto concluiu que seis países apresentam problemas: Bangladesh, Brasil, Malawi, Nepal, Paquistão e Sri Lanka. Outro problema que afeta a disponibilidade é a má gestão e a distribuição ineficiente. Em Moçambique, por exemplo, 77% da oferta total de insulina permaneceu na capital, resultando em escassez no resto do país. “Globalmente, os problemas de acessibilidade e disponibilidade de insulina são ameaças à vida e desafiam o próprio conceito de direito à saúde”, comentou Beran.
E o genérico?
Medicamentos com alta demanda geralmente se tornam mais acessíveis depois que suas patentes expiram uma vez que as concorrentes passam a criar genéricos com preços mais baratos. No entanto, no caso da insulina, isso não aconteceu. A explicação está no fato de que a insulina é mais complexa e difícil de copiar. Além disso, as companhias de medicações genéricas não consideram “útil” investir nisso. A solução é a insulina biossimilar que está disponível no mercado com preços um pouco mais baixos, mas não se compara ao valor de um genérico.
Como solucionar o problema?
Apesar de a Organização da Nações Unidas (ONU) ter assumido o compromisso de tratar doenças não transmissíveis e garantir o acesso aos medicamentos para o diabetes, em grande parte do mundo, a insulina é escassa e de difícil acesso. Por isso, os pesquisadores sugerem que o remédio seja incluído nos pacotes de cobertura universal e empresas que financiam pesquisas sobre o diabetes devem realocar parte dos investimentos para melhorar a distribuição e o cuidado com a medicação.
A recomendação ainda se estende para os governos, que precisam melhorar os sistemas de saúde para que os pacientes tenham acesso fácil ao tratamento. “A menos que os governos criem iniciativas para tornar a insulina disponível e acessível, seu uso estará sempre longe do ideal”, alertou Sanjay Basu ao The Guardian.
Diabetes
Tipo 1
De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), o diabetes tipo 1 ocorre quando o sistema imunológico ataca as células betas, responsáveis pela produção de insulina – hormônio que controla os níveis de glicose –, reduzindo ou impedindo sua liberação para o corpo. Quando isso acontece, a glicose fica no sangue em vez de ser usada como energia.
O tipo 1, considerado uma doença autoimune, aparece geralmente na infância ou adolescência, embora haja casos em adultos. Essa variedade, que atinge cerca de 5% a 10% dos diabéticos, é tratada através da insulinoterapia, pela qual é possível controlar os níveis de glicose no sangue.
Tipo 2
Já o tipo 2 acontece quando o organismo não consegue usar adequadamente a insulina que produz ou não produz o suficiente para controla a taxa de glicemia. Segundo especialistas, os fatores de riscos para o tipo 2 são histórico familiar, idade, sedentarismo e excesso de peso. Esse tipo de diabetes corresponde por cerca de 90% dos diagnósticos.
Embora se manifeste com mais frequência em adultos, principalmente a partir dos 40 anos, pessoas mais jovens também podem apresentar a doença. Já o tratamento – de caráter medicamentoso – é mais personalizado, ou seja, considera as características e necessidades de cada paciente. No entanto, por ser uma doença progressiva, depois de alguns anos, os pacientes podem necessitar de principalmente de insulina para cuidar do diabetes.
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