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Via JOTA

 

A Merck Sharp & Dohme Farmacêutica Ltda. (MSD) apresenta nesta sexta-feira (23/9) na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia no Sistema Único de Saúde (Conitec) recurso contra a decisão de negar a incorporação do antiviral molnupiravir para tratamento de pacientes com Covid-19.

Em entrevista ao JOTA, o presidente da companhia no Brasil, Hugo Nisenbom, afirmou ter ficado surpreso com o veto do colegiado à incorporação. Disse ainda que, além de retirar uma alternativa de tratamento para pacientes vulneráveis e não hospitalizados, a decisão coloca em risco a continuidade do acordo de cooperação técnica entre o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos)/Fiocruz e MSD.

Formalizado em abril, o acordo prevê a transferência de tecnologia para produção do molnupiravir para Fiocruz. Com isso, o Farmanguinhos ficaria responsável pela produção e fornecimento do medicamento no SUS. A cooperação prevê também a realização de estudos sobre o uso de medicamentos para dengue e chikungunya.

A decisão da Conitec foi publicada na primeira quinzena deste mês. A sugestão era a de incorporar o medicamento para uso entre pacientes com Covid-19 leve à moderada, não hospitalizados. Para fundamentar a recusa da incorporação, a comissão afirmou não haver evidências suficientes sobre desfecho e segurança do medicamento.

O uso do molnupiravir foi aprovado de forma emergencial pela Anvisa, entre pacientes considerados vulneráveis. O presidente da MSD no Brasil afirmou que o produto deverá ser comercializado a partir de outubro no mercado privado. “Mas esperamos que também haja oportunidade de incorporação no SUS”, completou.

Na entrevista, concedida nesta quarta, Nisenbom também falou sobre estratégias para melhorar a cobertura vacinal. Citou como exemplo a relevância de se exigir a carteira de imunização em dia como contrapartida para programas de transferência de renda. A seguir, principais trechos:

Como o senhor avalia a redução das taxas de cobertura vacinal no Brasil?

Tome o exemplo da vacina contra Hepatite. Em 2015, a cobertura era de 97%. Ano passado, a taxa foi para 66%. A vacina contra pólio, por sua vez, exibia uma taxa de cobertura de 98%, em 2015 e hoje está em 49%. No caso de HPV, os dados melhoram, mas apenas porque vão se acumulando. Entre meninas de 9 a 14 anos, 57% completaram a segunda dose. Entre meninos de 11 a 14, 37%.

Numa situação diametralmente oposta está a Covid. As pessoas no país se vacinaram de forma massiva. Era uma vacina que não existia antes da pandemia. Embora fosse nova, a ameaça estava presente. E na sociedade havia um esforço, sobretudo da mídia, para mostrar a importância da vacinação. O descompasso preocupa, porque algumas ameaças, embora pareçam um pouco distantes, estão se aproximando. Basta ver o sarampo.

Houve uma mudança recente na vacinação contra HPV no Programa Nacional de Imunizações

A faixa etária para indicação da vacina foi igualada entre meninos e meninas. Mas de nada adianta ter a vacina disponível, aumentar o público alvo se as pessoas não se vacinarem. Durante toda a vida, sonhamos com uma vacina contra o câncer. E o imunizante protege, não apenas contra câncer de colo de útero, como também, contra câncer de boca, pênis pescoço. Mas a adesão ainda não é boa. Por quê? Eu vi pessoas de cadeira de rodas porque tiveram poliomielite numa época em que não havia vacina. Mas falta consciência. No caso da HPV: quantos são realmente os médicos que recomendam a vacina?

No caso específico da vacina contra HPV, o senhor acha que a onda conservadora e a falsa associação entre o imunizante e início da vida sexual pode contribuir para resistência à recomendação?

Se isso existe, é menor. Porque a resistência é generalizada. Ela está entre todas as vacinas. O que é inquestionável é que enfrentamos um problema de comunicação. Quando há um esforço, um chamado para indicar a necessidade de vacinação, a população atende. No caso da Covid-19, houve um trabalho fantástico da mídia. E os resultados vieram, com bons indicadores de vacinação.

Mas há outros aspectos. No passado, havia no país uma política pública que incentivava as pessoas a se vacinarem. A não deixar passar a oportunidade. Isso é essencial.  Há alguns estudos que deixam claro que quanto maior o intervalo entre a recomendação da vacina e a ida efetiva ao ponto de vacinação, menor a probabilidade de se vacinar. Daí a necessidade de se garantir o acesso, de forma rápida. E daí também a importância da vacinação nas escolas. É preciso manter o senso de urgência.

Por que a urgência se perdeu?

Em parte, porque muitas das doenças ficaram menos comuns. Mas o risco existe. Se houver um surto de hepatite, em qualquer lugar, todos correm. E não é para ser assim. É preciso haver uma coalizão, onde todos se comprometam. Melhor comunicação, maior acesso, maior aconselhamento. Isso é poder público, classe médica, profissionais de saúde, mídia. Todos fazendo sua parte.

Nós iniciamos uma parceria com o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde para mostrar a importância da vacinação. Uma campanha de conscientização. Lembrar as famílias quando chegou o momento da dose de reforço. Tudo isso ajuda. E todos profissionais precisam atuar. Todos os médicos. Eu mesmo. Numa consulta, fui aconselhado a tomar duas vacinas, pneumocócica e contra herpes zoster.

O senhor é favorável a manter a contrapartida da carteira de vacinação em dia nos programas de transferência de renda?

Totalmente. Pelo bem comum. Primeiro porque salvam vidas, sobretudo num momento em que há desinformação em torno dessa maravilhosa ferramenta que é a vacinação. Vacinação é uma estratégia custo-efetiva. Ela é boa para o Estado, não há prevenção melhor do que vacina. Você evita doenças. Você evita que milhões de pessoas adoeçam. Há economia de recursos, além de redução de riscos.

A Conitec rejeitou a incorporação do molnupiravir. Se a decisão for mantida, como ficará o acordo com a Fiocruz?

Ficamos surpresos. E, respeitosamente, vamos recorrer. A decisão, da forma como está, retira o direito a uma solução para pacientes que são mais vulneráveis, como idosos, com complicações cardiovasculares. O medicamento está em uso em outros países, com bons resultados. Além disso, acreditamos que o preço oferecido era bom para o país. Avaliamos ainda que, se a medida não for revista, perde força o embasamento em torno do acordo de cooperação. Se não houver uso no SUS, não há razão para transferência de tecnologia.

 
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