- Fabricantes de medicamentos dos EUA recorrem a empresas chinesas diante da expiração de patentes
- Os acordos de licenciamento aceleram enquanto as fusões tradicionais diminuem
- Analistas dizem que empresas de biotecnologia chinesas estão desafiando concorrentes ocidentais
Enquanto as tradicionais fusões e aquisições diminuem, os acordos de licenciamento entre empresas farmacêuticas dos Estados Unidos e da China ganham tração e revelam uma reconfiguração silenciosa, porém estratégica, da indústria global de medicamentos.
Segundo dados da GlobalData, até junho deste ano, foram firmados 14 acordos de licenciamento entre empresas norte-americanas e farmacêuticas chinesas, avaliados em até US$ 18,3 bilhões — um salto em relação aos dois acordos celebrados no mesmo período do ano anterior. O motivo? A corrida contra o tempo para substituir US$ 200 bilhões em medicamentos prestes a perder a proteção de patente nos EUA. Informou a Reuters.
Licenciamento em alta: menor custo, maior velocidade
As farmacêuticas americanas vêm adotando acordos de licenciamento como alternativa mais barata e ágil aos longos processos internos de Pesquisa & Desenvolvimento. A aposta é ousada: transformar pagamentos iniciais que chegam a US$ 80 milhões em tratamentos blockbuster que movem bilhões.
“Estão encontrando ativos de altíssima qualidade na China, a preços muito mais competitivos”, afirma o analista Graig Suvannavejh, da Mizuho. O custo médio desses acordos nos EUA beira os US$ 85 bilhões, enquanto na China gira em torno de US$ 31 bilhões, de acordo com a GlobalData.
China sobe na cadeia de valor
Estimuladas por investimentos maciços do governo e centros de P&D modernos, empresas de biotecnologia chinesas estão ganhando protagonismo global. Elas lideram o desenvolvimento de medicamentos para obesidade, doenças cardíacas, câncer e terapias de última geração — como o taletrectinib, da AnHeart Therapeutics, que acaba de receber aprovação nos EUA.
“O setor chinês virou um celeiro global de inovação biomédica. É um chamado de despertar para o Ocidente”, diz Chen Yu, da TCGX.
Impacto geopolítico e futuro dos acordos
Apesar das tensões comerciais entre EUA e China, os contratos de licenciamento permanecem sólidos. A razão? Eles envolvem propriedade intelectual, e não bens físicos, escapando das tarifas comerciais impostas por governos.
Casos recentes confirmam essa tendência: a Pfizer pagou US$ 1,25 bilhão para licenciar um medicamento experimental da 3SBio, e a Regeneron firmou um acordo inicial de US$ 80 milhões com a Hansoh Pharmaceuticals por um tratamento contra obesidade.
Para o analista Arda Ural, da EY, a movimentação é estratégica: “Na China, os testes clínicos de estágio inicial são mais rápidos e baratos. Isso antecipa a obtenção de dados e pode acelerar o acesso ao mercado global”.
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