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Folha de S.Paulo

Jornalista: Giuliana Miranda

Com o objetivo de reduzir o número de animais mortos em experimentos científicos, pesquisadoras da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) desenvolveram um kit tecnológico que simula de forma realista cirurgias no cérebro de ratos.

O projeto brasileiro, que une elementos de impressão em 3D, um software especial e sensores de movimento, foi um dos selecionados para uma apresentação feita a investidores na Web Summit, um dos maiores eventos de tecnologia do mundo, que aconteceu entre 4 e 7 de novembro em Lisboa.

 

A proposta é que os cientistas usem este kit para simular o delicado procedimento de craniotomia --abertura do crânio dos ratinhos--, reduzindo a necessidade de usar bichos de verdade nas etapas não essenciais dos experimentos.

A craniotomia é um procedimento bem versátil nos ratos. Serve para diversas aplicações, como implementar uma determinada substância no cérebro dos bichos e criar uma lesão específica (como um AVC) que precise ser estudada. O modelo criado é para treinamento. 

"O modelo vem vinculado a um software, que identifica os movimentos da pessoa que está treinando o procedimento. Isso permite que, durante o treino, ela saiba se está fazendo a coisa certa ou não. No animal vivo, uma imperícia que perfure o cérebro da maneira errada acaba inutilizando a experiência", explica a pesquisadora Klena Sarges, uma das responsáveis pela iniciativa. 

Estima-se que o uso do kit poderia diminuir em pelo menos 12% o número de animais mortos nos testes. 

"O ICTB (Instituto de Ciência, Tecnologia e Biomodelos) da Fiocruz, onde eu trabalho, é uma unidade que essencialmente nasceu para fornecer animais para as pesquisas internas. Mas, há alguns anos, nós temos concentrado nossas atividades em métodos alternativos ao uso de animais", explica diz Klena Sarges. 

"A gente também sentiu necessidade de andar junto com que a sociedade pede, usando cada vez meninos animais, refinando os procedimentos para eles não morrerem durante os procedimentos e substituindo e evitando o uso dos animais sempre que a gente puder", completa. 

Além de reduzir as mortes dos bichos, o kit também pode representar uma boa economia financeira para os laboratórios. No Brasil, cada rato usado nos experimentos custa entre US$ 40 (R$ 163,80) e US$ 60 (R$ 245,78). Os animais só podem ser usados uma vez. 

Já o kit da Fiocruz custa R$ 500 e funciona para seis usos, o que poderia garantir uma economia de mais de 50% aos pesquisadores em alguns procedimentos. 

As pesquisadoras já submeteram o pedido de patente do kit e estudam agora a expansão do modelo para crânios de camundongos e de macacos, também comumente usados nos laboratórios de todo o mundo. 

A ideia de transformar em startup o trabalho acadêmico, nascido como um projeto de mestrado, veio da redução drástica de verbas para a pesquisa científica no Brasil. 

"Viemos para cá [evento de tecnologia] em busca de investidores. Nós estamos aqui em busca de um parceiro que possa nos ajudar a desenvolver comercialmente e a comercializar o kit", explica Klena Sarges, que fez a apresentação do projeto para o público internacional em Lisboa. 

No entanto, apesar de todos os esforços dos famosos "três Rs" (reduzir, refinar e substituir, ou replace, em inglês), é difícil, senão impossível, dispensar totalmente animais mais complexos dos estudos. No caso de testes de eficácia de mediamentos ou na elaboração de vacinas, por exemplo, esses estudos são necessários.

 

Os testes em animais geralmente têm duas funções. A primeira é a segurança. Se um produto não é seguro para um animal, há uma boa chance de também não fazer bem para seres humanos.

 

A segunda está relacionada à eficácia da substância que um dia entrará em contato com humanos. 

 

Na área de cosméticos, a redução já andou a passos largos, com uso de pele artificial para testar os produtos.

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