Fleury processa exames quatro vezes mais rápido

Valor Econômico

Jornalista: Rodrigo Carro

09/12/19 - A popularização de algoritmos e sistemas de inteligência artificial impulsiona a produtividade de companhias em segmentos específicos do setor de serviços.
Empresas especializadas em exames médicos, seguradoras e varejistas são exemplos de negócios que vêm ganhando eficiência e reduzindo custos, mas o nível educacional da mão de obra é um desafio.


Na rede de medicina diagnóstica Grupo Fleury, uma tecnologia recém-implementada para maximizar a transmissão de dados - a multiplexação - permite o processamento de exames numa velocidade quatro vezes maior, conta a diretora executiva Jeane Tsutsui.


Adquirida pelo Fleury há um ano, a consultoria de gestão na área de saúde SantéCorp iniciou este ano a implementação de uma plataforma digital que ampliou em 35% a capacidade de atendimento do corpo médico da rede, explica o presidente executivo Eduardo Oliveira. Após a incorporação da SantéCorp, o Fleury deu início a uma estratégia para estruturar uma plataforma de atenção primária por meio de ambulatórios.


O acesso às ferramentas digitais está sendo gradualmente estendido às mais de 200 unidades do grupo espalhadas pelo país. A expansão abrange as marcas as marcas a+ Medicina Diagnóstica e Fleury Medicina e Saúde.


Jeane diz ainda que, com o auxílio de um algoritmo e de informações contidas em seu banco de dados, a unidade de genômica - ramo que estuda o material genético completo - é capaz de identificar doenças de maneira precoce. O diagnóstico preventivo, antes mesmo de a enfermidade se manifestar, permite uma mudança de hábitos por parte do paciente, o que pode reduzir a necessidade de internações e cirurgias futuras, por exemplo, e com isto diminuir custos.


Presidente da empresa de tecnologia voltada à área de seguros Gr1D Insurance, Renato Terzi, cita o exemplo de um projeto no qual trabalhou, envolvendo uma grande seguradora brasileira. Ainda em 2014, a seguradora incorporou à operação um módulo de inteligência artificial com capacidade de aprender a partir de seus próprios erros.


Se antes a documentação de um total de 50 mil sinistros por mês era feita caso a caso por funcionários, passou a ser realizada por um software de inteligência artificial que indica justamente quais sinistros devem ser auditados. A análise leva em consideração os documentos com maior possibilidade de conter erros. “O projeto tinha cinco anos para se pagar e se pagou no primeiro mês”, disse.


Num segundo caso, uma empresa que oferece a possibilidade de abertura de sinistro de seguro residencial por meio de um aplicativo de celular passou a empregar inteligência artificial para analisar fotos e outros dados relacionados a cada uma das ocorrências. “Cinquenta por cento dos sinistros abertos dessa forma foram pagos em 24 horas”, diz Terzi.


No segmento de varejo, a crise aguda - decorrente da contração do PIB brasileiro em 2015 e 2016 - trouxe uma conscientização sobre “o problema da produtividade”, frisa Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC). Cortes de pessoal levaram os varejistas a procurar alternativas para fazer mais com menos mão de obra. “A conta da tecnologia não está deficitária [no varejo nacional]”, diz Terra, que chama atenção para o que classifica como “problemas crônicos”. Na esfera da capacitação, cita as deficiências de educação como obstáculo ao aumento da produtividade. “Para treinar, é preciso [que o empregado tenha] boa cognição”. A falta de uma cultura de processos no país é outro empecilho, diz Terra.

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