Após recall mundial de implantes, ideia agora é identificar os registros e conhecer o tamanho do problema entre brasileiras

Em meio a um aumento de relatos de linfoma associado a próteses de mama, médicos brasileiros criaram uma força-tarefa para identificar os registros e conhecer o tamanho do problema no País. Na quarta-feira, 24, a Allergan, uma das marcas mais difundidas em todo o mundo, anunciou recall após recomendação da Food and Drug Administration (FDA), agência de controle sanitário dos Estados Unidos.

Especialistas ouvidos pelo Estado calculam que o País teve pelo menos uma dezena de casos de linfoma anaplásico de células grandes (ALCL) em pacientes com próteses. Como os registros são informais, nem todos têm evidências científicas de que foram os implantes que desencadearam a doença.

Esse número, porém, pode ser maior já, que o Brasil é um dos que mais colocam próteses no mundo. “Temos poucos casos catalogados e essa é uma das razões para criar uma força-tarefa. Queremos respostas adequadas, o que não temos ainda”, afirma Niveo Steffen, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

Após o anúncio do recall, a Anvisa informou que deve publicar medida cautelar nesta sexta-feira, 26, suspendendo a comercialização de próteses de silicone da Allergan no Brasil. Eram vendidos três produtos da empresa no País.

Os Estados Unidos calculam que a incidência desse linfoma esteja entre um caso a cada 3,8 mil e uma ocorrência a cada 30 mil. Segundo o FDA, foram 573 relatos de linfoma ligados a próteses e há registro de 33 mortes. Não está claro ainda o motivo.

“Uma das hipóteses é de que a prótese cause inflamação do tecido mamário e essa inflamação contínua desencadeia o linfoma”, diz Vanderson Rocha, professor de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular da Universidade de São Paulo (USP). “O organismo reage mandando células e essas se transformam em neoplásicas.”

Nos pacientes, a doença aparece anos após a cirurgia plástica, na forma de inchaço na mama, como foi o caso de uma mulher de São Paulo de 53 anos, diagnosticada com linfoma em 2017. Em 2012, ela havia colocado um implante da Allergan nas mamas. Em outro caso no Brasil, a paciente, de 44 anos, teve de retirar a prótese, mas optou por não passar por quimioterapia. Meses depois, foi identificada remissão da doença.

Segundo especialistas, é possível que certos tipos de próteses causem mais problemas. “Texturizações mais agressivas têm risco maior”, afirma o cirurgião plástico Bernardo Nogueira Batista, do Hospital Sírio-Libanês. As ranhuras no produto podem estar associadas a risco maior de inflamação. Próteses texturizadas, que dão um aspecto mais natural ao seio, são as preferidas das brasileiras.

A França já havia proibido próteses da Allergan e de outras marcas por risco de ALCL. No Brasil, a Anvisa chegou a suspender a marca no ano passado, mas recuou neste ano. Em nota, a Allergan informou que aconselha pacientes a falarem com seus médicos “caso tenham alguma preocupação”. Também informou que não há recomendação para a remoção dos implantes.

ENTENDA A SITUAÇÃO

Não são recomendadas remoções

Após associação de casos de linfoma com próteses, uma das marcas, a Allergan, anunciou recall, o que significa que os implantes deixarão de ser vendidos em todo o mundo. Segundo especialistas, o anúncio não é motivo de pânico – pacientes com próteses não devem removê-las, caso não haja sintomas.

Tipo de linfoma é pouco conhecido

No Brasil, o linfoma anaplásico de células grandes, ligado a próteses, é pouco conhecido e considerado raro. Pelos casos relatados, sabe-se que os sintomas incluem inchaço na mama anos após o implante. Nem todo inchaço, porém, é linfoma. Apenas o médico pode fazer o diagnóstico. Profissionais podem relatar ocorrências à Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). O hematologista Vanderson Rocha, da USP, também coleta os dados, que podem ser enviados para o e-mail vanderson.rocha@hc.fm.usp.br.

Tratamento inclui retirada da prótese

Caso seja detectado o linfoma, pode-se recomendar a retirada da prótese e da cápsula formada em volta. Nem sempre é indicada quimioterapia ou radioterapia.

Fonte: Terra

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