Femme%20enceinte_0.Jpeg?width=590Gestantes devem evitar remédios durante a gravidez.

O jornal francês Canard Enchaîné afirma nesta quarta-feira (10) que 10 mil mulheres grávidas podem ter tomado na França o medicamento antiepilético Dépakine (no Brasil, Depakene, do laboratório Abbott) entre 2007 e 2014. A droga é apontada como responsável por má-formações em fetos e problemas comportamentais em crianças cujas mães utilizaram o produto.

O princípio ativo do Dépakine, o valproato de sódio, está há vários meses no centro de uma grande polêmica na França. Segundo o Canard Enchaîné, esse número elevado de usuárias foi identificado em "um estudo alarmante da agência do medicamento ANSM e da Caixa Nacional de Assistência Médica". A publicação afirma que o dado de 10 mil mulheres "foi cuidadosamente escondido das famílias".

Fabricado há quase meio século, até o ano passado a bula do Dépakine vendido na França não informava claramente sobre os riscos para bebês. Dizia apenas que a droga não era aconselhada no tratamento de mulheres grávidas. Depois de várias denúncias, o Ministério da Saúde abriu uma investigação em julho de 2015 e restringiu a prescrição do valproato de sódio a pacientes fora do espectro de risco.

Advogado contesta versão do jornal

O Ministério da Saúde não confirma a informação divulgada hoje pelo Canard Enchainé. Apenas informa que uma primeira parte do estudo será divulgada no dia 24 de agosto para uma associação de vítimas.


O advogado Charles Joseph Oudin, que representa 850 mães supostamente vítimas do Dépakine, disse não estar surpreso com o volume de casos levantados. Ele defende a rápida criação de um sistema de indenização às vítimas, como aconteceu no caso do Mediator, um medicamento para diabéticos que causou a morte de centenas de pacientes no país.

Oudin discorda da versão do Canard Enchainé de que as autoridades francesas ocultaram o estudo. "O ministério não escondeu nada", disse à agência AFP. O advogado acompanha os processos de quatro mulheres que prestaram queixa crime contra o fabricante do Dépakine, além de outros 15 processos civis.

O valproato de sódio está presente em várias marcas comercializadas no Brasil pelos laboratórios Abbott, Sanofi Aventis e Torrent, com os nomes Dekapene, Depakote, Torval ou Valpakine. Há vários anos, estudos mostram que gestantes medicadas com a droga têm 10% de chances de ter filhos com má-formações neurológicas e na coluna vertebral, como a espinha bífida, por exemplo, assim como um risco elevado de atraso intelectual ou motor e até casos de autismo, que podem atingir 40% das crianças expostas ao antiepilético.

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