Fundo terá US$ 1 bilhão para combater superbactérias

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Valor Econômico 
Jornalista: Clive Cookson, do The Financial Times

10/07/20 - Vinte e três laboratórios farmacêuticos juntaram forças e investirão US$ 1 bilhão em um fundo para criar os novos antibióticos que precisam ser desenvolvidos com urgência para combater a maior incidência pelo mundo das superbactérias resistentes a drogas.

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O AMR Action Fund, criado nesta quinta-feira, pretende apoiar as pesquisas clínicas que deverão lançar entre dois e quatro novos antibióticos no mercado até 2030. O alvo serão as bactérias que provocam as doenças mais mortais e têm maior resistência às drogas atuais.

O executivo-chefe da Eli Lilly, David Ricks, que também preside a Federação Internacional de Associações e Fabricantes Farmacêuticos (IFPMA, na sigla em inglês), disse que o fundo dará sustentação à “cadeia de desenvolvimento de antibióticos, que está à beira do colapso, uma situação potencialmente devastadora, que poderia afetar milhões de pessoas ao redor do mundo”.

De acordo com a IFPMA, 700 mil pessoas morrem por ano de infecções que não podem ser tratadas porque as bactérias evoluíram e se tornaram resistentes aos antibióticos disponíveis - e “em alguns dos cenários mais alarmantes, estima-se que em 2050 a AMR (sigla em inglês para a resistência antibiótica) poderia matar até 10 milhões de vidas por ano”.

Entre as muitas “bactérias de pesadelo” surgindo está a Enterobacteriaceae, resistente à carbapenema, que pode matar até metade dos infectados, e a Pseudomonas aeruginosa, resistente a várias drogas, que é uma das maiores causas de infecções mortais de pulmão nas pessoas com fibrose cística.

O fundo almeja investir em 15 a 20 novos antibióticos que já iniciaram os testes clínicos e dos quais entre 20% e 25% poderiam mostrar a segurança e a eficácia suficientes para chegar ao mercado.

A iniciativa AMR estava quase por ser concluída no início do ano. Então, veio a covid-19, que levou a indústria farmacêutica e especialistas mundiais em doenças infecciosas a concentrar-se no combate ao coronavírus em vez de bactérias. Embora a pandemia tenha adiado o lançamento do fundo AMR, líderes setoriais disseram que também trouxe mais premência à busca por melhores tratamentos contra infecções, sejam bacterianas ou virais.

“Diferentemente da covid-19, a AMR é uma crise previsível e evitável”, disse Thomas Cueni, diretor-gerente da IFPMA. “Precisamos agir juntos para reconstruir a cadeia de desenvolvimento e garantir que os antibióticos mais promissores e inovadores consigam sair do laboratório e chegar aos pacientes.”

Espera-se que bancos de desenvolvimento e fundações agreguem recursos ao projeto, de forma que o fundo AMR possa contar com mais de US$ 1 bilhão. Werner Hoyer, presidente do Banco Europeu de Investimento (BEI), divulgou comunicado de apoio ao lançamento do fundo.

“O BEI está dando apoio ativo, com instrumentos financeiros inovadores, contra as falhas de mercado identificadas”, disse Hoyer. “A resistência antibiótica claramente é uma delas.”

O fundo terá sede em Boston e um centro adicional na Europa. Investirá em empresas de biotecnologia que tenham foco “no desenvolvimento de tratamentos inovadores antibacterianos que lidem com as necessidades de saúde pública de maior prioridade, façam diferença significativa na prática clínica e salvem vidas”.

A equipe de gestão e seus investidores também darão apoio técnico às empresas do portfólio, oferecendo a experiência e os recursos dos grandes laboratórios farmacêuticos que investiram no fundo.

O fundo AMR se somará aos recursos alocados por duas iniciativas menores já existentes, que buscam criar novos antibióticos e fazer com que superem a fase de testes clínicos.

A Carb-X, uma instituição internacional sem fins lucrativos com sede na Universidade de Boston, terá investido mais de US$ 500 milhões, de fontes públicas e filantrópicas entre 2016 e 2021, para levar projetos à primeira fase dos testes clínicos.

A Novo Holdings, da Dinamarca, lançou o Repair Impact Fund em 2018 para investir US$ 165 milhões em 20 iniciativas com foco na AMR, incluindo startups, firmas ainda em fase de criação e braços de empresas especificamente criados para esse fim.

Laboratórios farmacêuticos desistiram desse segmento nos últimos 20 anos por vários motivos, entre eles o baixo preço dos antibióticos genéricos, o fato de que os medicamentos precisam ser tomados apenas por curtos períodos - e a probabilidade de que os governos determinem um acesso limitado a qualquer novo tratamento efetivo que surja, mantendo-o em reserva apenas para tratar as infecções mais graves, evitando assim que o uso excessivo gere resistência à droga.

Sally Davies, encarregada especial do Reino Unido para assuntos de AMR e ex-assessora-chefe de medicina da Inglaterra, disse que o fundo é “um bom ponto de partida da indústria farmacêutica para compensar sua falta de investimentos em antibióticos no passado.”

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