por Leila de Souza Lima
Valor Econômico
07/01/20 - As despesas públicas e das famílias brasileiras com saúde equivalem a um terço da média dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), ou a dois terços do que se gasta no Chile, apontam dados da Conta-Satélite de Saúde, referente a 2017, divulgada no mês passado pelo IBGE.
há 14 minutos Brasil Para chegar a essa conta, o instituto fez a conversão das despesas com saúde per capita, no valor de R$ 2.941 em 2017, para o dólar daquele ano, usando o critério da paridade de poder de compra, que busca eliminar as diferenças de custo de vida, facilitando a comparação. A conclusão é que as despesas brasileiras com saúde são relativamente modestas na comparação a outros países selecionados.
O Brasil aparece um pouco melhor, no entanto, do que outros países emergentes.
México e Colômbia gastam, respectivamente, 20% e 30% a menos do que as famílias e o governo brasileiros somados. O instituto ressalta que, além do desenvolvimento e riqueza de cada nação, pesa no gasto com saúde o perfil demográfico.
Países com mais idosos tendem a ter despesas mais elevadas na área. Por esse e outros fatores, as despesas com saúde também superam a brasileira em países como Suíça (5,5 vezes acima), França (3,7 vezes), Canadá (3,6 vezes) e Hungria (1,5 vez).
É para essa dinâmica que o economista Rudi Rocha, coordenador de pesquisa do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps) e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), chama a atenção. “O Estado está quebrado e falta dinheiro, de fato.
Mas uma das nossas contas vai continuar a aumentar, que é a da saúde, seja por questões demográficas, pela expansão do acesso, seja pelos custos médicos crescentes. Essa força existe em todos os lugares do mundo. Não é um problema só no Brasil”, observa.
Ele ressalta que a tarefa de definir de onde vão sair os recursos para um sistema que é reconhecidamente subfinanciado é uma escolha social. “A mobilização precisa ser urgente, porque essa conta vai recair sobre todos; não somente sobre os mais pobres. A classe média também vai sentir, pagando planos cada vez mais caros e eventualmente demandando mais serviços do SUS.” Para o diretor-executivo do Iesp, Miguel Lago, os atritos entre aqueles que defendem a saúde pública e o setor privado são naturais devido ao desenho do sistema que, em sua visão, a despeito desse debate, chegou a um ponto em que há acomodação relativamente confortável para todos.
Professor visitante nas universidades de Columbia (EUA) e Saint-Paul (França), ele tem buscado conhecer mais as experiências de fora na área para agregar propostas para o Brasil. “Acho difícil redefinir o modelo como um todo. Sistemas de saúde são configurados segundo vontades setoriais, além de questões circunstanciais e econômicas de cada época e país”, diz. “A contribuição que pode ser dada é formular políticas que olhem com cuidado para a questão da eficiência, qualidade de serviços e equidade. Nessa perspectiva, é possível aprender com o passado e a atualidade também em outros países. Não existe um modelo perfeito no mundo; todos estão em busca de soluções.”
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