Gestores de pessoas estão ansiosos e não cuidam da saúde

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por Stela Campos

Valor Econômico

 

09/01/20 - Os gestores da área de recursos humanos, responsáveis por cuidar do bem-estar dos funcionários, andam insatisfeitos com o próprio trabalho. Entre eles, a saúde anda cambaleante e há um crescimento generalizado da ansiedade causada pelos efeitos da crise econômica, pelas mudanças constantes de cenários e pela falta de reconhecimento e de clareza por parte da liderança.

Esses dados estão em uma pesquisa feita com 342 gestores de RH, de coordenadores até o C-level, de empresas de diversos setores da economia, 70% mulheres, a maior parte entre 35 e 40 anos de idade. O levantamento foi conduzido pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH- Brasil) e pelas consultorias Mapa de Talentos e Waggl Brasil. Eles usaram metodologia desenvolvida por pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, que tem como base a análise de dimensões que afetam o desempenho humano no trabalho, definidas por Martin Seligman, pensador da psicologia positiva.

A insatisfação dos gestores de RH pode ser entendida sob vários aspectos, incluindo o contexto econômico do país. “Estamos começando a sair da crise mais grave da nossa história, o que obrigou as empresas a reduzirem seus quadros. Quem permaneceu ficou com uma carga de trabalho muito maior e o RH teve que lidar com tudo isso”, afirma Luiz Edmundo Rosa, diretor de desenvolvimento de pessoas da ABRH-Brasil. “A pressão por resultados só aumentou.”

Nos últimos anos, sobrou pouco tempo para os gestores de pessoas cuidarem da própria saúde, o que fez com que apenas 15% dos pesquisados afirmarem estar satisfeitos com sua condição física. Ele lembra que o Brasil é o país com o maior índice de sedentarismo da América Latina, segundo estudo da OMS - 47% da população não pratica atividades físicas.

Entre os gestores de RH, as razões para justificar o abandono das boas práticas de prevenção na saúde - tão incentivadas entre os funcionários- são muitas. Elas incluem desde o tempo de deslocamento até o trabalho nos grandes centros até a dupla jornada das mulheres, entre a família e o emprego. Mas uma das principais, segundo os pesquisadores, é o estilo de vida. Passamos cada vez mais horas sentados diante do computador ou dirigindo o carro.


O que mais aflige os pesquisados, no entanto, não é o sobrepeso ou os transtornos físicos decorrentes da falta de cuidado com a saúde, mas a ansiedade, citada por 73%. “O ambiente de negócios incerto afeta profissionais em todo o mundo, assim como a busca por resultados contínuos”, afirma Miguel Nisembaum, diretor da Mapa de Talentos.

Um aspecto particular e positivo dos brasileiros, segundo o consultor, é que embora os respondentes tenham afirmado sentir ansiedade e irritação constante no trabalho, apenas 8% disseram que se sentem tristes no emprego. “É justamente a soma desses três sintomas que leva à síndrome do Burnout, que está se espalhando pelo mundo. Então, nesse aspecto estamos um pouco melhor.”

A solidão não aparece como um problema para os gestores. O que não quer dizer que não existam problemas nos relacionamentos profissionais. Apenas 38% afirmaram que recebem apoio e ajuda dos colegas quando precisam. “Ainda supervalorizamos as avaliações individuais em detrimento das metas compartilhadas por equipes, o que nos leva a um ambiente de pouca cooperação”, diz Luiz Edmundo Rosa. Ele lembra que, com os novos formatos de trabalho, onde há menos hierarquia e mais pessoas trabalhando em grupo e por projeto, será preciso repensar esse modelo de avaliação.

A questão, segundo os pesquisadores, é que as mudanças precisam vir de quem está na liderança. “Se a direção só pressiona e não reconhece os gestores, como eles vão reconhecer as equipes?”, questiona Paulo Sardinha, presidente da ABRH-Brasil. Apenas 18% dos pesquisados disseram que se sentem reconhecidos em suas companhias. Mesmo na crise, Sardinha lembra que é possível valorizar um bom trabalho. “As pessoas entendem que não é hora de aumentar o salário ou dar promoções, mas existem outras formas de reconhecimento. Essa é uma ferramenta importante da liderança.”

A falta de clareza de quem está no comando na hora de estabelecer metas é um dos pontos de maior insatisfação dos gestores. Quase 30% não enxergam uma direção clara por parte da liderança para o seu trabalho. “Há muito desperdício de energia quando não se sabe o que se espera de cada um na empresa”, afirma Nisembaum.

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