Pesquisadores do Google resolveram problema em 200 segundos usando computador quântico; PC tradicional levaria 10 mil anos
Por Felipe Ventura
Tecnoblog
Pesquisadores do Google publicaram um estudo na revista Nature sobre a “supremacia quântica”: eles resolveram um problema matemático em 200 segundos usando um computador quântico, dizendo que isso demoraria 10 mil anos em um supercomputador tradicional. A IBM acredita que a comparação está incorreta, mas cientistas ainda veem isso como um marco importante.
Computadores tradicionais armazenam dados em bits que assumem valores 0 e 1. Por sua vez, a computação quântica é baseada em um princípio chamado “superposição”: isso significa que um bit quântico (ou qubit) pode assumir os valores 0 e 1 ao mesmo tempo.
Isso não é exatamente intuitivo, mas é uma das características da física quântica. “O universo opera fundamentalmente em um nível quântico, mas os humanos não o percebem dessa maneira”, explica Sundar Pichai, CEO do Google, em comunicado. “Na verdade, muitos princípios da mecânica quântica contradizem diretamente nossas observações superficiais sobre a natureza.”
Como os qubits podem armazenar mais informações que bits tradicionais, um computador quântico é capaz de analisar múltiplas soluções para um mesmo problema ao mesmo tempo. Os pesquisadores do Google dizem que essa tecnologia enfim superou um computador tradicional.
O artigo publicado na Nature envolve um computador quântico chamado Sycamore com 53 qubits. Ele levou apenas 200 segundos para executar um cálculo envolvendo a geração de números aleatórios. Os pesquisadores dizem que o supercomputador mais rápido do mundo, o IBM Summit, faria o mesmo em 10 mil anos.
IBM: computador clássico resolveria problema em 2,5 dias
A IBM discorda. A empresa aponta uma falha no artigo: os pesquisadores do Google fizeram uma simulação para estimar que o supercomputador levaria 10 mil anos para resolver o problema, porém consideraram que ele só usaria RAM, não o armazenamento em disco.
Segundo a IBM, o Summit conseguiria chegar à solução em até 2,5 dias; ela diz que isso se trata de uma estimativa pessimista, e o prazo poderia ser menor com refinamentos adicionais.
O Google responde em um comunicado ao New York Times: “nós já nos descolamos da computação clássica e assumimos uma trajetória totalmente diferente; estamos abertos a propostas para melhorar as técnicas de simulação, embora seja crucial testá-las em um supercomputador real, como nós fizemos”.
A opinião do criador do termo “supremacia quântica”
John Preskill, que criou o termo “supremacia quântica” em 2012, nota em um artigo que os pesquisadores do Google escolheram um tema muito específico só para demonstrar como um computador quântico poderia ser superior; “não é um problema de muito interesse prático”.
Ainda assim, Preskill considera que essa demonstração é importante: “a equipe confirmou que entende o dispositivo e que ele funciona como deveria; agora que sabemos que o hardware está funcionando, podemos começar a busca por aplicações mais úteis”.
Hartmut Neven, diretor de engenharia da equipe Google AI Quantum, acredita que a computação quântica poderá ajudar a melhorar a inteligência artificial e o aprendizado de máquina. Ela também poderia resolver problemas como “projetar baterias melhores, descobrir quais moléculas poderiam produzir remédios eficazes, ou minimizar as emissões da criação de fertilizantes”.
Comentários