GranBio vira fornecedora de tecnologia

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Valor Econômico 

Jornalistas: Camila Souza Ramos e Ivo Ribeiro

18/02/20 - Depois de um ciclo de sete anos em que buscou inventar e reinventar formas de transformar biomassa em fonte de carbono segura alternativa ao petróleo, a GranBio, da família Gradin, dá início nesta semana a um novo capítulo de sua história. A companhia passa a ser presidida por um executivo de fora da família controladora - Paulo Nigro, que passou a fazer parte do conselho de administração em novembro - e tentará se consolidar como uma fornecedora de tecnologia industrial para processos de conversão de biomassa.

 

Nigro, que liderou por 25 anos a Tetra Pak na América Latina e nas Américas, e por quatro anos a Aché Laboratórios no Brasil, terá a tarefa de garantir retorno a uma empresa que se tornou famosa pelo pioneirismo em etanol celulósico, mas que agora terá como principal atividade o fornecimento de tecnologias a indústrias que queiram produzir bioquímicos e biocombustíveis a partir de biomassas como madeira, palha e outros resíduos do campo. A GranBio ainda não divulgou o balanço de 2019, mas em 2018 faturou R$ 24 milhões, teve lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de R$ 18 milhões e acumulava prejuízos desde foi criada de R$ 456 milhões.

As mudanças vêm num momento em que a GranBio se prepara para listar ações na B3, onde entrará no segmento Bovespa Mais, e considera abrir seu capital no Brasil ou no exterior. A iniciativa deve ser uma porta de saída para a BNDESPar, que tem 15% de participação na companhia e já revelou sua intenção de se desfazer da fatia. O primeiro passo para a listagem será hoje, quando os acionistas se reúnem para ratificar a decisão.

Criada em 2013 para fabricar etanol de resíduos dos canaviais (bagaço e palha), a GranBio acabou desenvolvendo e patenteando tecnologias para superar as travas que surgiram no processo, o que a transformou na detentora de conhecimentos únicos para quebra e transformação de biomassa. É esse “capital” que é considerado pelos acionistas como um bom chamariz para os investidores.

Ao Valor, Nigro disse que entra na GranBio em um momento particular não apenas pela metamorfose pela qual passa a companhia, mas também pelo contexto corporativo, em que grandes grupos - como a gestora BlackRock e a petroleira BP - anunciam compromissos de descarbonização. Esse discurso de que há uma “virada sustentável” no circuito empresarial pode, enfim, materializar a demanda por energias alternativas que a GranBio busca atender.

O que dá mais segurança ao novo modelo de negócio são as políticas de descarbonização em curso, ressaltou o sócio da companhia, Bernardo Gradin - sobretudo na Europa, que recém-anunciou a meta de ser neutra em carbono até 2050. Segundo o empresário, a perspectiva é que o continente construa 40 fábricas de conversão de biomassa até 2030 para atender suas metas de emissões.

É certo que a nova aposta guarda algum grau de incerteza, sobretudo por causa das várias rotas que a descarbonização da economia pode seguir, mas Gradin acredita que tem pela frente um chão mais firme do que há sete anos, quando iniciou o projeto de etanol celulósico. “O mercado está começando a determinar uma demanda sem ter a solução. E somos uma empresa que há sete anos constrói uma solução para um mercado que ainda não existia.”

Desde que adquiriu no ano passado as tecnologias e ativos da American Process - na qual tinha inicialmente 25% de participação -, a GranBio passou a deter uma gama de 200 patentes industriais capazes de superar entraves como os vividos por sua planta em São Miguel dos Campos (AL), a Bioflex.

Entre as tecnologias patenteadas estão equipamentos e processos para homogeneizar a biomassa e de controle de pressão. Quando começar a licenciar as patentes, a GranBio cobrará royalties proporcionais aos ganhos de produtividade nas fábricas usuárias.

A unidade de Alagoas continua em operação, mas os planos de replicá-la foram descartados. “A Bioflex passa a ser uma planta mais demonstrativa”, afirmou Gradin. Em 2019, a planta operou mais com queima de bagaço para cogerar energia e, recentemente, bateu recorde diário de produção de etanol celulósico, com mais de 100 mil litros em 24 horas. Até 2021, a companhia investirá R$ 30 milhões para retirar gargalos da indústria.

A principal unidade da GranBio passa a ser agora a de Atlanta, de sua subsidiária GranBio Tech. É lá que a companhia testa e desenvolve processos de quebra da biomassa para obter sua nanocelulose que, diferentemente da de outras indústrias, não absorve água. O produto tem diversos usos e pode substituir, por exemplo, sílica e negro de fumo em pneus, ou mesmo a celulose em papelões. Já foram testadas mais de 27 tipos de biomassa, incluindo 15 de madeira.

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