Com receita de R$ 12 bilhões ano passado, o Grupo DPSP opera 1.393 unidades no País – 867 sob a marca Drogaria São Paulo e 526 com a bandeira Pacheco. (Crédito:Divulgação)
Em um modelo inédito de negócio, o Grupo DPSP (drogarias Pacheco e São Paulo) lança marketplace de saúde que facilita o acesso à medicina privada para quem hoje depende do SUS. A meta é unir 150 mil médicos a 10 milhões de clientes em cinco anos.
by Hugo Cilo | Isto é Dinheiro Online
Desde julho do ano passado, quando assumiu a presidência do Grupo DPSP (formado pelas redes de drogarias Pacheco e São Paulo), o executivo Jonas Laurindvicius é um dos poucos entre os 26 mil funcionários da empresa que não aderiram ao home office nenhum dia sequer. Não que o CEO seja workaholic, negacionista da pandemia ou ativista antivacina. A assiduidade ao escritório-sede da companhia, na Vila Leopoldina, na capital paulista, se explica pelo tamanho e complexidade da missão sob sua responsabilidade: lançar um marketplace de saúde com investimentos de mais de meio bilhão de reais. Chamado de Viva Saúde, a plataforma digital nasce nesta semana com a proposta de unir em um único ambiente digital médicos, laboratórios, hospitais, planos de saúde e clientes, principalmente os 75% dos brasileiros que não possuem convênios privados. A meta é plugar 150 mil médicos na plataforma em cinco anos – o que representa 30% dos 500 mil profissionais do País – e alcançar 10 milhões de clientes.
Inspirado em um modelo semelhante ao do open banking, a plataforma aberta permitirá, por exemplo, que qualquer pessoa – cliente ou não – faça teleconsultas, agende exames, compare preços de produtos de saúde, crie um prontuário eletrônico único e receba informações sobre assuntos de seu interesse. Por outro lado, as empresas poderão ter acesso (se autorizado pelos clientes) a todo histórico de exames, doenças, vacinas e produtos associados ao estilo de vida da pessoa. Com isso, espera-se que cada empresa que integre o ecossistema do superapp da DPSP ofereça itens e serviços mais customizados. ‘É um modelo inédito de negócio no País, com imenso potencial de democratizar o acesso à saúde e desafogar hospitais, laboratórios e consultórios médicos’, afirmou Laurindvicius à DINHEIRO.
A nova estratégia da companhia, que fechou 2021 com faturamento estimado em R$ 12 bilhões, alta de 13% sobre o ano anterior (o balanço consolidado será divulgado em março), praticamente redefine o modelo de negócio do grupo. Todas as 1.393 unidades da empresa (867 sob a bandeira Drogaria São Paulo e 526 com a marca Pacheco) se tornarão gradativamente lojas figitais. Quem comprar pela internet, pode retirar na loja. Quem estiver na loja, terá acesso a todo estoque dos centros de distribuição por meio do superapp, com sistema integrado de machine learning e Inteligência Artificial. O salto tecnológico ganhou impulso com a aquisição da startup Ti. Saúde, com sede no Porto Digital do Recife. O valor da aquisição não foi revelado. Com mais tecnologia embarcada em seu sistema, a empresa afirma que conseguirá aprimorar toda sua estrutura logística e conseguirá garantir 70% das entregas em até quatro horas.
As drogarias também serão equipadas com salas de atendimento farmacêutico, com aparelhos que permitirão consultas remotas ou aplicação de vacinas. Esse formato, parecido com a de um consultório médico convencional, já vem sendo testado desde 2020, quando 180 unidades foram adaptadas para ter essas salas. No ano passado, esse total passou para 263 lojas. ‘Oferecer serviços num formato de omnicanalidade, e não apenas vender remédio, é nossa fórmula para incentivar a fidelidade dos clientes às nossas marcas e aumentar a rentabilidade’, disse Laurindvicius. ‘Queremos sair da guerra de descontos no balcão.’
A ofensiva da DPSP é uma forma de reduzir a distância entre a companhia e a líder do segmento, a Raia Drogasil (RD). A concorrente tem quase 2 mil lojas e fechou 2020 (último dado disponível) com receita de R$ 18,3 bilhões, alta de 15,6%. Assim como a DPSP, a companhia tem intensificado exponencialmente sua digitalização, principalmente depois da pandemia. ‘O processo de transformação de farmácias em centros de bem-estar, que vinha ocorrendo antes da pandemia, foi acelerado em um cenário de busca por mais saúde’, disse o consultor de varejo Marco Quintarelli, professor da FGV-RJ e diretor da Associação Brasileira de Marcas Próprias e Terceirização (Abmapro). ‘O consumidor, de maneira geral, quer resolver todos os seus problemas num lugar só. A rede que oferecer a melhor experiência de serviço vai sair na frente da concorrência.’
MERCADO AQUECIDO O empenho das redes de farmácias e drogarias em melhorar a experiência do cliente não significa que as empresas começaram a morrer de amores pelos consumidores. A procura por medicamentos, vitaminas e testes de Covid desde o início da pandemia turbinou o faturamento das farmácias e acirrou a concorrência entre elas. Em 2020, o varejo farmacêutico registrou crescimento no faturamento de 15,6%, segundo dados divulgados pela multinacional de pesquisas IQVIA. Pelos números mais recentes, as vendas somaram R$ 139,3 bilhões no ano de 2020, contra R$ 120,5 bilhões no ano anterior, antes da pandemia.
ESTRATÉGIA FIGITAL Todas as lojas do grupo serão gradativamente integradas à operação on-line para melhorar a experiência de compra dos clientes. (Crédito:Divulgação)
O movimento maior nas lojas físicas ajudou a proliferar também as vendas pelo e-commerce. No ano passado, os canais digitais da DPSP aumentaram as vendas em 400% na comparação com 2020, e passaram a responder por 10% do faturamento do grupo. ‘Não existe mais concorrência entre a operação física e a digital. Dentro do conceito figital, um formato vai complementar o outro, e ambos serão retroalimentados por uma plataforma aberta, escalável e 100% na nuvem’, afirmou o CEO.
A boa performance da DPSP no varejo digital tem ficado muito acima da média do setor. No ano passado, por causa do aumento nos casos de Covid-19 e da explosão de novas infecções por influenza no Brasil, a receita do e-commerce nas vendas de remédios pela internet aumentou 86,9% em relação ao ano anterior, conforme levantamento da Neotrust, empresa responsável pelo monitoramento de mais de 85% do e-commerce brasileiro e pertencente ao T.group.
Na comparação entre 2020 e 2019, o crescimento do faturamento nas vendas on-line de remédios chegou a atingir 102%, comprovando a mudança nos hábitos de compra da população. Nesse mesmo período, as vendas gerais do segmento de saúde tiveram aumento de 60% em comparação a 2020. Entre os medicamentos, o destaque foi o Tamiflu, remédio indicado para tratamento de gripe, que atingiu um pico de vendas em dezembro de 2021, e em janeiro de 2022 já vendeu mais que todos os meses do ano passado.
SALAS DE ATENDIMENTO A companhia vai investir em serviços médicos, como teleconsultas e vacinação, com informações integradas ao sistema do SUS. (Crédito:Divulgação)
A revolução digital do varejo de medicamentos está apenas no começo. A Abrafarma, associação que representa o setor, projeta que 50% do faturamento das redes virá dos canais digitais dentro dos próximos cinco anos, sem prejuízo ao desempenho das lojas físicas. Como a tecnologia ainda não inventou vacina ou injeção virtual e não substituiu a experiência da interação presencial, o plano de unir o físico e o digital deverá ter, ao menos nas farmácias, uma vida longa.
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