Correio Braziliense
19/12/19 - Ainda que a terapia antirretroviral tenha amenizado os impactos da infecção por HIV em crianças, estudos mostram que o vírus segue afetando o desenvolvimento cerebral dessas pessoas. Ele pode afetar áreas como a aprendizagem e o planejamento, com implicações ao longo da vida. Na tentativa de avaliar esses prejuízos cognitivos, pesquisadores da Universidade do Estado de Michigan, nos Estados Unidos, acompanharam voluntários com idade entre 5 e 11 anos ao longo de dois anos.
Os meninos e as meninas, que viviam em quatro países da África Subsaariana, região com maior quantidade de crianças soropositivas, foram divididos em três grupos: tratados com terapia antirretroviral, expostos ao vírus, mas não soropositivos, e nunca expostos ao HIV. A equipe detectou que, mesmo diante do tratamento precoce e de bons cuidados clínicos, ainda existem problemas neuropsicológicos significativos para as crianças infectadas.
“Elas entraram no estudo com um deficit, em comparação com suas contrapartes. O deficit permaneceu praticamente o mesmo ao longo dos dois anos, exceto em uma área importante, que envolve raciocínio e planejamento. Nesse domínio, as crianças que vivem com HIV não progrediram ao longo do tempo”, detalha Michael Boivin, professor e diretor do Programa de Pesquisa em Psiquiatria da Faculdade de Medicina da universidade americana e integrante do estudo.
Em crianças saudáveis, essa área cognitiva tende a florescer nos anos em idade escolar. O deficit, no caso das soropositivas, pode, inclusive, comprometer o tratamento. “Em termos de probabilidade de tomar os medicamentos, tomar boas decisões, abster-se de comportamentos de risco como atividade sexual precoce, questões psicossociais”, ilustra Boivin.
A equipe trabalha, agora, em busca de medidas que possam amenizar essas dificuldades. Jogos cognitivos de computador desenvolvidos pela universidade estadunidense poderão servir como ferramentas para avaliação, enriquecimento e potencial reabilitação neurocognitivos das crianças. “Vamos ter que complementar o atendimento e o apoio a longo prazo com intervenções comportamentais reais”, diz o cientista.
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