Folha de S.Paulo
Jornalista: Isabela Palhares


17/04/20 - Há dois meses o Hospital das Clínicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e o hospital da Faculdade de Medicina de Botucatu, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), aguardam a liberação de recursos do governo do estado de São Paulo para ampliar o número de leitos de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) para atender casos graves de pacientes contaminados pelo novo coronavírus.

Os diretores dos dois hospitais temem que a demora na liberação dos recursos dificulte a compra dos equipamentos médicos necessários para instalação das novas unidades. Devido ao aumento da procura por conta da pandemia, muitos desses equipamentos estão em falta no mercado.

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde disse estar em diálogo com os hospitais e “analisando as necessidades da rede de saúde e a viabilidade de ativação de mais leitos”, mas não informou se há previsão de envio do dinheiro.

Os hospitais são referência para atender pacientes do novo coronavírus nas suas regiões, que nos últimos 15 dias tiveram um salto de casos confirmados e atendem cidades que são consideradas polos de dispersão do vírus pelo estado.

Na região de Campinas, o número de infecções confirmadas passou de 50, no dia 1º de abril, para 240 até a última terça (14). No mesmo período, a região também passou de 1 para 19 mortes. Na região de Botucatu, o número de casos foi de 6 para 78 nesse período. As mortes, de 1 para 6.

O Hospital das Clínicas da Unicamp tem atualmente 40 leitos de UTI para adultos e 20 de UTI pediátrica. Inicialmente, havia a negociação com a secretaria para a liberação de recursos para mais 40 leitos. Passados dois meses, hoje a pasta negocia enviar dinheiro para ativar apenas mais 20, apesar de nem mesmo esse recurso ter sido liberado.

O hospital de Botucatu tem 33 leitos de UTI e solicitou a ativação de mais 30. A secretaria não informou se pretende abrir novos leitos e quantos seriam, informando apenas que analisa as necessidades da rede de saúde na região.

A Folha apurou que há preocupação entre as equipes médicas desses hospitais de que o recurso só seja liberado quando a situação estiver crítica. Temem ainda que a atenção da Secretaria de Estado da Saúde esteja mais voltada para a capital neste momento.

Enquanto não há liberação do recurso do governo estadual, as unidades tentam arrecadar doações para viabilizar a abertura dos leitos de UTI. Na Unicamp, por exemplo, até esta quarta (15), cerca de R$ 10 milhões haviam sido arrecadados. O valor, contudo, também é utilizado para a compra de equipamentos de proteção individual, como máscaras e aventais.

A implementação de um leito de UTI custa cerca de R$ 180 mil, e sua manutenção, entre R$ 2.500 e R$ 3.000. A abertura dos 20 leitos esperados pelo hospital da Unicamp e o recurso para mantê-los por um mês equivaleria a R$ 5,1 milhões. Os 30 leitos do hospital de Botucatu, R$ 7,6 milhões.

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