Hospitais no RJ variam de caos a leitos vazios

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Folha de S.Paulo 
Jornalistas: Ana Luiza Albuquerque e Júlia Barbon


07/04/20 - Enquanto se prepara para o pico de casos do novo coronavírus, o Rio de Janeiro oscila entre cenários contrastantes. De um lado, uma unidade de referência com dificuldade para isolar pacientes. Do outro, um hospital totalmente voltado para a doença onde ainda sobram leitos vazios.

Alguns hospitais também estão dividindo seus espaços físicos em dois, para tentar suprir a demanda tanto da Covid-19 quanto das enfermidades de que já tratavam. Isso tem sido feito com a desocupação de alas inteiras e construção de novos prédios.

O Rio de Janeiro é o segundo estado mais afetado pelo novo coronavírus, ficando atrás apenas de SãoPaulo. A situação está controlada na maior parte dos hospitais, mas deve mudar com o avanço da doença.

O médico Raphael Câmara, conselheiro do Cremerj e do CFM (Conselho Federal de Medicina), tem fiscalizado a preparação das unidades de referência desde o mês passado.

“Pela demanda, consegue se fazer um fluxo de atendimento tranquilo, mas daqui a pouco tenho certeza que esse fluxo vai embora”, diz.

Uma das unidades que já tem falhado no isolamento de pacientes é o Hospital Federal de Bonsucesso, que se adequa para receber pacientes graves de Covid-19 após ter sido anunciado como referência pelo Ministério da Saúde.

Planilhas da emergência do hospital mostram que, nos últimos dias, doentes com sintomas do vírus dividiram a mesma sala com assintomáticos. Foi o caso de uma mulher grávida, admitida na emergência na terça (31) em estado grave e apontada como possível portadora da doença.

Agora isolada na sala verde, a gestante teve seu quadro agravado e chegou a ser intubada na sala vermelha, dedicada a pacientes graves. Nesta semana, o número de doentes que permaneceram no cômodo, sem Covid-19, variou diariamente entre dois e cinco.

“Um hospital que está se preparando para ser referência em hipótese nenhuma poderia ter ali uma mistura de Covid e não-Covid”, afirma o médico Julio Noronha, diretor do corpo clínico do hospital.

Um dos prédios já foi quase que totalmente esvaziado para disponibilizar leitos para os casos graves de coronavírus. Pacientes transplantados renais ainda estão no edifício, mas serão transferidos para outras unidades de saúde.

No total, serão liberados pelo menos 170 leitos, inclusive de terapia intensiva, para tratar doentes da Covid.

O atendimento aos doentes esbarra, no entanto, na insuficiência de profissionais de saúde, respiradores e EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) para todos os leitos.

Em ofício ao Ministério da Saúde, a diretora do hospital, Cristiane Gomes, diz que será preciso deslocar 210 médicos e 235 enfermeiros para abrir 220 leitos na unidade, número já aventado pela pasta. Ela também afirma que é necessário um respirador para cada leito, mais 70 na reserva.

O MPF (Ministério Público Federal) e a DPU (Defensoria Pública da União) ingressaram com ação civil pública para pedir que a União, o estado e o município resolvam o problema da insuficiência de profissionais e insumos nas unidades federais.

As dificuldades de isolamento e a falta de insumos são problemas também enfrentados em outras unidades de saúde, como nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento).

Na UPA da Tijuca, zona norte do Rio, um tubo envolvido em peças de algodão foi utilizado como respirador pelo taxista Gladston Neto, 36. Ele foi internado na quarta com dificuldade respiratória, um dos sintomas mais graves do vírus.

A alguns quilômetros dali, no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari (zona norte), o cenário é diferente. A unidade, por enquanto, é uma das que mais se assemelham ao que seria um QG do coronavírus na capital fluminense. O local foi esvaziado no último dia 22 para receber apenas pessoas infectadas.

Os profissionais estão sendo incentivados a aumentar a carga horária e têm acompanhado os pacientes atentamente. “Temos que ficar verificando parâmetros vitais o tempo todo, para se necessário fazer uma intervenção muito rápida e intubar”, conta o clínico Alexandre Telles, 28, que trabalha na unidade.

Por enquanto, 58 dos 128 leitos disponíveis no hospital estão ocupados, número que tem crescido rapidamente.

Outra unidade que ainda está se preparando é o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, ligado à UFRJ. Hoje há apenas cinco pacientes internados por Covid-19 numa sala provisória. Por enquanto, o hospital está recebendo somente doentes que já faziam acompanhamento no local.

A unidade terá duas estruturas e equipes: uma para casos de coronavírus, com entrada e saída próprias, e outra para as demais doenças.

“Vão ser quase dois hospitais”, diz o infectologista Alberto Chebabo, chefe da divisão médica do Fundão.

Ele calcula que precisará de mais 300 funcionários para dar conta da demanda, a maioria de enfermagem. Ao menos 15 estão afastados após a confirmação de que foram infectados pelo vírus (segundo Chebabo, fora do hospital).

Em nota, o Hospital Federal de Bonsucesso afirmou que adota todos os protocolos e fluxos de atendimentos do Ministério da Saúde e da Anvisa para possíveis casos de Covid-19, além do treinamento diário das equipes.

A unidade também afirma que todos os pacientes que entram na emergência com sintomas do coronavírus são recebidos por funcionários com máscaras e imediatamente transferidos para leitos de isolamento.

O hospital afirma, ainda, que já solicitou ao Ministério da Saúde a contratação de novos profissionais, assim como a compra de respiradores para os leitos que serão abertos.

O Hospital Ronaldo Gazolla também afirma que seus profissionais receberam treinamento intensivo para conter a disseminação do vírus.

A unidade diz que a RioSaúde, gestora do hospital, abriu processo seletivo emergencial para contratar cerca de mil profissionais para reforçar a equipe, conforme novos leitos forem abertos.

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