Valor Econômico
Jornalista: Beth Koike
07/04/20 - Diante da expectativa de que os casos do novo coronavírus atinjam seu ápice nas próximas semanas, os médicos e hospitais pesquisam medicamentos para tratar os pacientes acometidos pela doença que já fez mais de 550 vítimas fatais no Brasil. Um desses medicamentos é a hidroxicloroquina, princípio ativo usado para tratamento de malária há 70 anos.
A hidroxicloroquina já vem sendo usada em pacientes em estágio inicial da covid-19 em hospitais como da Rede D’Or e Sancta Maggiore. Há uma linha de tratamento que acredita que o remédio nessa etapa da doença é mais eficaz. Outros hospitais como Albert Einstein, BP (ex-Beneficência Portuguesa), HCor e Alemão Oswaldo Cruz dão preferência por ministrar essa medicação apenas em situações em que o paciente encontra-se em estado grave.
Os hospitais relatam que alguns pacientes apresentaram resultados positivos, mas ainda não é possível concluir que a medicação foi a responsável pela melhora no quadro clínico. Os médicos são unânimes em afirmar que ainda faltam estudos com um contingente populacional relevante e comparações para se chegar a conclusões. Até o momento, há apenas um estudo realizado em laboratório na França e outro na China com cerca de 30 pessoas mostrando que a hidroxicloroquina foi eficaz, mas essas pesquisas não são consideradas conclusivas. Há questionamentos sobre os efeitos colaterais como arritmia, que pode ser fatal em pacientes com covid-19.
“Há pacientes que usam a medicação e tem uma melhora sensacional. Outros tomam a hidroxicloroquina, mas vão para a UTI, são entubados. Ainda não dá para ter conclusões”, disse Álvaro Avezum, coordenador do centro de pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Segundo Leandro Tavares, diretor médico da Rede D’Or, o grupo optou por adotar a medicação já na etapa inicial da doença, quando os resultados preliminares têm sido mais positivos. “A hidroxicloroquina é uma droga já conhecida e usada de forma controlada para outros tratamentos há muitos anos. Além disso, não temos outra opção de medicamento neste momento. O uso da hidroxicloroquina é decidido caso a caso entre o médico e o paciente”, disse Tavares.
Nos hospitais Sancta Maggiore, onde pelo menos 79 pessoas morreram de covid-19, todos os pacientes infectados são tratados com hidroxicloroquina. Os primeiros resultados, ainda preliminares, mostram melhora no quadro clínico daqueles que iniciaram o tratamento no começo da doença, segundo Pedro Batista, diretor médico da Prevent Senior, operadora voltada para idodos dona dos hospitais Sancta Maggiore.
No Albert Einstein, cerca de 70% dos pacientes internados na UTI estão tratados com hidroxicloroquina em associação com o antibiótico azitromicina. “É muito difícil dizer se a melhora do paciente está relacionada à medicação. Mas hoje, não temos alternativa terapêutica”, disse Miguel Cendoroglo, diretor superintendente do Hospital Albert Einstein.
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