Valor Econômico
Jornalista: Raquel Brandão
17/04/20 - Desde de segunda-feira parte dos funcionários da indústria de cidades da Serra Gaúcha, como Caxias do Sul e Farroupillha, deixou o isolamento social e voltou ao trabalho. Randon, Marcopolo e Grendene foram algumas que anunciaram a retomada parcial de suas atividades, com 25% de suas equipes voltando a trabalhar, após negociação de entidades com autoridades municipais. A cerca de 350 quilômetros dali, a Kepler Weber, de silos e armazéns, anunciou a volta ao trabalho de sua unidade de Panambi, outro município do Rio Grande do Sul.
O movimento de retomada observado entre os gaúchos se estende para a indústria de outros Estados, em especial Santa Catarina, onde decreto estadual já autorizava que as fábricas funcionassem com 50% da capacidade, e Paraná, no qual sindicatos patronais têm se articulado para negociar com municípios e o Estado.
A volta do comércio de rua foi uma das medidas adotadas pelo governo catarinense nesta semana, estabelecendo regras de distanciamento e contra aglomerações. Segundo o presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Mario Cezar de Aguiar, a medida deve melhorar as perspectivas para a indústria local, que de 17 de março a 16 de abril reduziu sua produção em 28%, correspondente a perdas de R$ 3,4 bilhões. As informações foram levantadas junto a 740 empresas.
A pesquisa aponta que 165 mil postos de trabalho foram cortados na indústria de Santa Catarina, recuo de 21%. Ao menos um quarto das empresas entrevistadas disse ser favorável ao isolamento vertical e 11% à retomada gradual das atividades. Para o presidente da Fiesc, “isolamento total não é a medida mais adequada” e seria possível adotar restrição de acesso a algumas cidades cujo número de casos é baixo e retomar atividades integralmente.
No Paraná, menos de 50% das empresas do setor industrial voltaram a operar, segundo Carlos Martins Pedro, presidente da federação da indústria parananense, a Fiep. “O Estado está começando a reativação mais gradual, com em média 30% a 50% do corpo de funcionários da indústria. No entanto, dependemos de ter o comércio local ativo, pois muitas empresas perderam pedidos”, explica.
Em Curitiba, algumas empresas que atendem setores essenciais retomaram atividades, como as de embalagem, cita Martins Pedro. Em Maringá, um decreto municipal permitiu que as empresas retomassem atividades parcialmente e proporcionalmente ao quadro de funcionários: até 70% para empresas com mais de 100 funcionários e até 30% para o restante. Na última semana, a Fiep e outros sindicatos patronais enviaram ao governador Ratinho Jr. (PSD) documento solicitando medidas para auxiliar na retomada das atividades.
A paranaense Positivo, fabricante de computadores e celulares, mantém fábricas em Curitiba e na Zona Franca de Manaus (AM), mas não teve de parar as atividades para os cerca de 700 funcionários. Adotou, porém, medidas adicionais de segurança, como medição de temperatura e uso de equipamentos de proteção. “Tivemos de adaptar o volume de produção à menor demanda, produzindo cerca de 70% da capacidade média de abril”, diz Mauricio Roorda, vice-presidente de operações.
O retorno das atividades na Serra Gaúcha foi costurado pelo Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs), que representa mais de 3.300 empresas em 17 municípios da região, e outras entidades patronais, como o Sindivest (vestuário) e Simplás (plástico), por exemplo.
Por decreto municipal, Caxias do Sul autorizou a retomada de 25% das atividades industriais a partir de 6 de abril, com a adoção de medidas extras de proteção e higiene. A fabricante de carrocerias e ônibus Marcopolo retomou as atividades na segunda-feira, com 25% da equipe diurna e 25% da equipe noturna. A companhia afirma que “para que o processo produtivo seja minimamente eficiente esse índice de 25% precisaria ser maior”. A previsão é de produzir 350 unidades até o fim de abril.
Os funcionários que não retornaram entraram em flexibilização da jornada, medida prevista na Convenção Coletiva de Trabalho Extraordinária. “Nesta situação que envolve cinco dias de flexibilização, a empresa pagará 50% do valor dos salários”, explica a Marcopolo em nota afirmando que novas medidas podem ser anunciadas na próxima semana.
A Randon, que fabrica implementos rodoviários, retomou 25% de sua atividade em Caxias do Sul também nesta semana. Em unidades da empresa em outras cidades, a retomada vai ocorrendo conforme conclusão das férias ou autorizações dos municípios ou estados. Assim, como a Marcopolo, a empresa concedeu férias e adotou flexibilização de até 10 dias por mês, quando o colaborador fica em casa, recebendo 50% da remuneração daqueles dias.
Em Farroupilha, a fabricante de calçados Grendene retomou atividades com 25% dos funcionários e com redução de jornada e salários em 50%. A empresa possui outras 10 fábricas, nove no Ceará e uma na Bahia, onde os funcionários devem retornar das férias coletivas em 13 de maio. Fora da Serra Gaúcha, em Panambi, a Kepler Weber retomou as atividades para 30% dos trabalhadores na produção e logística, mantendo o restante em férias coletivas e áreas administrativas em home office. “Este número é adequado para que possamos validar com segurança e evoluir os protocolos planejados pelo nosso comitê de gestão de riscos. Temos uma curva de retomada de acordo com as atualizações da situação de saúde pública. Se não tivermos novidades pretendemos retornar a normalidade até o dia 15 de maio”, diz Piero Abbondi, presidente.
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