L´Oréal acompanha alta dos preços e dificuldades globais na cadeia de suprimentos, diz Alexis Perakis-Valat, presidente mundial da divisão de grande público da multinacional francesa
Alexis Perakis-Valat, presidente mundial da divisão de grande público da L’Oréal, passou a fazer menos viagens internacionais desde que os compromissos corporativos foram retomados. A multinacional do setor de beleza passou a ser mais criteriosa ao enviar seus executivos a campo. A prioridade são os mercados estratégicos para a companhia, caso do Brasil. O país foi o primeiro que o franco-greco visitou ao assumir a área, há cinco anos. Na semana passada, Valat voltou ao Rio e a São Paulo depois da eclosão da pandemia. Ainda que as vendas tenham retomado os níveis pré-covid-19, o cenário é diferente de antes de 2020. A inflação mundial e questões de suprimentos preocupam. O Brasil, garante, tem crescimento de dois dígitos e ganha participação de mercado em um ambiente de consumidores fiéis às marcas.
Acompanharam Valat na passagem de três dias pelo Brasil executivos responsáveis pelas marcas L’Oréal Paris e Garnier, que oferecem produtos para cabelo e pele. A divisão de grande público inclui a Niely, empresa nacional incorporada ao grupo francês em 2014, a Colorama, com foco em unhas, e a Maybelline, de maquiagem. Os produtos são encontrados em canais de varejo, como supermercados, farmácias e atacarejos.
Em 2021, a área foi responsável por 37,9% das vendas globais da L’Oréal, atrás apenas do segmento de luxo, que respondeu por 38,2%, segundo documentos da empresa. No total, o grupo atingiu € 38,3 bilhões em vendas. Em 2019, ano pré-pandemia, foram de € 29,87 bilhões e, em 2020, de € 27,99 bilhões. Considerando o resultado como um todo, as vendas na América Latina cresceram 20,6% no ano passado. A empresa não revela os números do Brasil
“Em médio e longo prazos, estamos extremamente confiantes no futuro de nossa divisão, tanto globalmente quanto no Brasil. O mercado tem muito potencial para se desenvolver. As brasileiras buscam mais transparência, performance, sustentabilidade. E, assim como no resto do mundo, o [canal] digital acelerou o conhecimento dos consumidores”, afirmou o executivo, em entrevista ao Valor. A L’Oréal e tem menos de 10% de participação do mercado local. O país é o quarto maior mercado de beleza do mundo.
O executivo afirma que o principal objetivo da L’Oréal é “desenvolver mercados”. Um exemplo atual são os séruns, cosméticos para o rosto que possuem textura leve e rápida absorção. Ainda há um baixo percentual de brasileiras que utilizam esse tipo de produto, afirma o executivo. “Nosso trabalho em nossa divisão é democratizar o sérum. Explicar o porquê de usá-lo e como usá-lo. Isso desenvolve o mercado porque é um gesto adicional. E quando desenvolvemos o mercado, ele cresce e queremos ganhar participação de mercado.”
No ano passado, a linha para cabelos Elsève Hidra Hialurônico representou o maior lançamento da história da indústria de produtos para cabelo no Brasil, de acordo com o executivo. O sucesso ajudou a empresa a ganhar participação de mercado. O próximo lançamento será um tratamento de cabelos voltados para cabelos cacheados, também marca Elsève, batizada de “Sonho dos Cachos”.
A conjuntura atual aumenta a complexidade dos negócios. A inflação, herança da grande injeção de liquidez por governos no auge da covid, é novidade em muitos países em que a multinacional atua. Ainda não há um histórico longo para analisar o comportamento de consumo nestes locais, mas Valat diz que no mercado de beleza, as pessoas estão propensas a pagar um pouco mais desde que a oferta seja melhor. No Brasil, embora o assunto seja um velho conhecido, atualmente o “dragão” corrói a renda da população local. “Se um tratamento de cabelo de R$ 30 a R$ 40 for o melhor produto, os brasileiros estão dispostos a pagar”, diz.
No mercado voltado ao grande público, os preços finais são fixados pelos varejistas. No entanto, a multinacional possui ferramentas para traçar cenário de preços diante do comportamento dos clientes. O objetivo é que os valores sugeridos ao varejo possam ser absorvidos pelo público consumidor: “Não vemos de maneira nenhuma marcas mais baratas ou marcas próprias crescendo desproporcionalmente nos últimos meses no mercado de cuidados de cabelos. No Brasil, a Elsève é a marca que cresce mais rapidamente do mercado de cabelo e não é uma marca de preços populares”, afirmou.
Segundo Valat, a empresa de beleza tem lidado muito bem na questão de problemas da cadeia global de suprimento, mas esse assunto requer mais esforços do que antes do início da pandemia. “Gastamos muito tempo com isso. A situação é complicada, mas evolui a cada dia. Espero que o cenário fique melhor, mas é desafiador”, afirma.
Os esforços atuais envolvem um acompanhamento mais intenso das matérias-primas e maior flexibilidade da empresa na busca por alternativas de fornecimento e diversificação das fontes de suprimento. O objetivo é reduzir a dependência de apenas uma parte do mundo.
Outro foco de crescente atenção mundial são as práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês). Diversidade, equidade de gênero e inclusão, e causas como o combate ao assédio nas ruas, estão entre os focos da empresa. E a L’Oréal pretende ser líder da indústria sobre questões relacionadas à sustentabilidade. Há, por exemplo, iniciativas para redução do uso de água nas fábricas. Além disso, ao lado de empresas como Unilever e Natura, a empresa está desenvolvendo uma avaliação de impacto ambiental em toda a indústria e um sistema de pontuação sustentável para produtos cosméticos. “A demanda dos consumidores por produtos mais sustentáveis está crescendo. Gerações mais novas estão liderando este movimento. Vemos preocupações sobre impactos também no Brasil”.
Fonte: Valor Ecônomico
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