Correio Braziliense
Jornalistas: Catarina Loiola e Cristiane Noberto
30/10/19 - Uma em cada oito mulheres terá câncer de mama ao longo da vida, de acordo com o Instituto Brasileiro de Câncer (Inca), que estima em 59,7 mil o número de ocorrência da doença no Brasil em 2019, o que significa que, de cada 100 mil mulheres, 56 vão desenvolver a doença.
Sem considerar os tumores de pele não melanoma, esse tipo de câncer é o primeiro mais frequente nas mulheres das Regiões Sul (73,07 em cada 100 mil), Sudeste (69,50/ 100 mil), Centro-Oeste (51,96/100 mil) e Nordeste (40,36/ 100 mil) e Norte (19,21/100 mil).
Para a chefe do Serviço de Mastologia do Hospital do Câncer III , unidade exclusiva para tratamento de câncer de mama, doutora Fabiana Tonellotto, é preciso fazer campanhas mais efetivas, disseminar com mais clareza as informações e melhorar o treinamento dos médicos e profissionais de saúde para que estejam aptos a fazer diagnósticos de forma adequada, além de melhores políticas públicas.
“É preciso avançar as campanhas, para a população em geral, relacionadas à melhora da qualidade de vida, como, controle da obesidade, principalmente em pessoas mais velhas, uso de álcool, atividades físicas regulares, entre outros fatores”, disse. Segundo ela, atividade física regular pode reduzir em 30% o risco de desenvolver a doença.
Além disso, a médica esclarece que diagnóstico precoce é fundamental. Além disso, segundo ela, é preciso iniciar o tratamento o mais rápido possível e, sobretudo, ter acesso ao tratamento. Segundo ela, quando a doença ocorre antes dos 40 anos, fatores genéticos podem explicar o desenvolvimento da doença, embora fatores hereditários representem apenas 10% dos casos.
Outros fatores que influenciam o aparecimento da doença são o envelhecimento da população, sedentarismo, alimentação, não ter filhos ou tê-los em idade mais avançada, uso de álcool e obesidade após a menopausa são alguns dos fatores que influenciam a disfunção.
Ativismo
Joana Jeker foi diagnosticada em 2007, aos 30 anos. Na época, ela estudava na Austrália e voltou para o Brasil em busca de tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS). Ela conta que, pelo fato de a mãe e uma tia terem desenvolvido a doença, esteve sempre atenta e, durante um autoexame, sentiu um nódulo diferente. “Quando você é muito jovem, é muito sofrido. A fase do diagnóstico é muito difícil, mas tive apoio da família, amigos e de Deus”, contou.
Ela lembra que o diagnóstico precoce foi essencial para o sucesso do tratamento, que durou seis meses, entre quimioterapia e cirurgia de reconstrução da mama. Joana transformou a dura experiência em ativismo e fundou a organização não governamental (ONG) Recomeçar, em 2010. “O cabelo cresceu e fundamos a ONG. Hoje a vida tem outro significado. Eu nem precisei fazer radioterapia e fiz apenas uma etapa de quimioterapia”.
Os objetivos da ONG são incentivar a autoestima, conseguir doação de próteses de silicone no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) e fazer parcerias com a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de apoio à Saúde da Mama (Femama), e outras agências governamentais, para a coordenação e alinhamento dos estados para criar uma agenda nacional para o combate ao câncer de Mama.
A Recomeçar também incentiva o desenvolvimento de políticas públicas, como o projeto de lei aprovado no Senado no último dia 10, que que fixa prazo de 30 dias para a realização de exames de diagnóstico de câncer pelo SUS. A matéria segue para sanção presidencial. A mudança será incluída na Lei nº 12.732, que estipula o início do tratamento pelo SUS em, no máximo, 60 dias a partir do diagnóstico.
Diagnosticada aos 68 anos, a aposentada Neide Maria Teixeira, hoje com 74, conta que a doença foi um período difícil, mas que conseguiu superar com tranquilidade e apoio de familiares. Ela descobriu o tumor por meio de uma mamografia, em 2013. “Não sentia nada pelo toque porque o tumor estava bem pequeno ainda. Fazer o exame foi essencial”. Assim que descobriu o câncer, ela tomou a decisão de se submeter à mastectomia para a retirada das duas mamas.
Ela conta que enfrentar a doença a deixou mais forte e mais decidida a ajudar outras mulheres. Atualmente, Neide é voluntária na Associação Brasiliense Paciente Câncer, onde auxilia outras mulheres. “Tem que ter muita fé e acreditar que tudo vai melhorar. Se a pessoa não tiver tranquilidade, e não receber apoio da família ou de associações como a nossa, pode ser mais difícil superar”.
* Estagiárias sob supervisão de Cláudia Dianni
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