Insônia: médicos falam sobre as terapias mais modernas

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Terapias para dormir Foto: Shutterstock

No início da segunda temporada da série “Big Little Lies” (HBO), Celeste, personagem de Nicole Kidman, bate o carro e diz aos policiais não se lembrar de ter saído da garagem de casa. Em conversa com a amiga Madeleine (Reese Witherspoon), recordou apenas ter tomado remédio para dormir. “Você precisa tomar cuidado com o Ambien”, recomendou Madeleine.

O conselho da personagem de Reese diz respeito a um popular medicamento nos Estados Unidos à base de zolpidem, uma substância que também é vendida no Brasil e tem sido a salvação de muitos insones. O princípio ativo ajuda a dormir rapidamente, sem deixar o usuário prostrado no dia seguinte. A promessa é boa, mas os efeitos colaterais e o excesso do uso têm sido preocupantes. Segundo a Anvisa e a Associação Brasileira do Sono (ABS), entre 2011 e 2018,a venda de zolpidem cresceu 560% no Brasil, sendo o terceiro medicamento mais vendido no ano passado.

Muito desse consumo é feito sem orientação médica, o que leva, para a vida real, incidentes como o da série. O publicitário carioca Ricardo Aragão, de 31 anos, não fez um estrago no carro, mas um rombo na conta bancária. Usuário de zolpidem há três anos, um dia ele tomou o remédio e demorou a se dirigir para cama. Resultado: entrou no site Ali Express e comprou um monte de bugigangas. “Não esqueci das compras no dia seguinte, mas era algo que não queria ter feito. Comprei até um escudo do Capitão América, coisa que não fazia o menor sentido”, diz ele.

A neurologista Andrea Bacelar, presidente da ABS, afirma que as chamadas “drogas Z” (o zolpidem é uma delas) já existem há mais de 30 anos, mas o boom tem sido visto só agora. “Antes, eram utilizadas de maneira seletiva. Hoje, a população ficou sabendo que existem essas medicações e começou a usá-las de maneira inadequada.”

Diferentemente dos benzodiazepínicos (o exemplo mais comum é o Rivotril), as drogas Z não são ansiolíticas, ou seja, não influenciam no grau de ansiedade. Consideradas hipnóticas, elas são apenas indutoras de sono — o que faz com que o paciente tenha que ingeri-las em condições adequadas, para evitar alterações comportamentais como a de Celeste e Ricardo. “Tomar o remédio sem estar deitado e fora da janela de sono pode trazer problemas”, diz Andrea.

As drogas Z não são classificadas como tarjas pretas e, em tese, causam menos dependência, mas é nessa percepção que dorme o perigo. “Os remédios de hoje são melhores na indução do sono, mas sabemos que, se usados por muito tempo, pacientes podem ter alterações de memória e demência”, afirma o neurologista Fernando Morgadinho, professor do Setor de Medicina do Sono da Unifesp, de São Paulo.
Atualmente, especialistas têm sido unânimes ao citar como melhor abordagem para o tratamento de insônia a terapia cognitivo-comportamental (TCC), uma vertente da psicologia que se debruça sobre um comportamento específico. “O uso crônico de remédio é prejudicial. Hoje, falamos muito do tratamento sem drogas, mas com psicólogos e psiquiatras, que ajudam o paciente a mudar os hábitos de sono”, diz Fernando.

Quem rola na cama a noite inteira chega aos consultórios querendo uma solução rápida, e a maior dificuldade dos médicos é convencer um “insone profissional” de que o bom repouso não está na farmácia. “A história do sono tem que ser avaliada de maneira ampla”, diz Andrea. Segundo ela, há percepções similares entre aqueles que sofrem com o mal: a pessoa acha que dorme menos do que realmente dorme e atribui os problemas da vida à insônia, como se ela tivesse culpa de tudo que dá errado. “A terapia faz com que nós comecemos a fazer as pazes com esse contexto.”

Para os impacientes e não-alopáticos, o amplo mercado anti-insônia também oferece outras opções. Quem viaja para os Estados Unidos costuma trazer na mala frascos de melatonina, uma versão do hormônio que regula nosso relógio biológico e sinaliza para o corpo que é o momento de entrar em repouso.

Um comprimido, dizem os leigos, ajuda a pegar no sono, mas só se o problema for bem leve. “A melatonina não é hipnótica, é sincronizadora de ritmo. Erroneamente, as pessoas acham que vai fazê-las dormir”, diz Andrea, esclarecendo que, no Brasil, a substância só é permitida em farmácias de manipulação.

Tem gente jurando de pés juntos que chocolates específicos para sono, vendidos em lojas de produtos naturais, também dão jeito nas noites em claro. Fernando Morgadinho explica que, em quantidades adequadas, o doce pode até ajudar no relaxamento e, consequentemente, no sono, por ter um aminoácido chamado triptofano, que desencadeia a produção de serotonina.

“Os açúcares possuem uma ação ansiolítica de maneira geral. O chocolate pode aumentar a serotonina e, em doses baixas, ser benéfico. No entanto, uma barra inteira vai piorar a condição.”

Fonte: O Globo

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