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A professora Vanessa do Nascimento, da UFF.| Foto: Arquivo Pessoal"

Fábio Luporini, especial para a Gazeta do Povo

Vanessa do Nascimento é adjunta no Departamento de Química Orgânica da Universidade Federal Fluminense (UFF) há quase quatro anos. Aos 32 anos – dos quais 11 dedicados à graduação, ao mestrado, doutorado e ao pós-doutorado –, a docente implementou, a partir de 2016, uma linha de pesquisa nova estratégica para a ciência no Brasil e que já tem dado resultados no Laboratório SupraSelen, no Instituto de Química da UFF. A pesquisa virou destaque internacional, recentemente, ao receber o prêmio PeerJ Award, no 8º Workshop da Rede Científica Internacional Selênio Enxofre e Catálise Redox (WSeS-8), ocorrido em junho deste ano na Itália.

Mas o que exatamente ela e sua equipe conseguiram? Por que o trabalho chamou a atenção da comunidade científica internacional? Resumidamente, em termos populares, os professores e alunos, coordenados por Vanessa no SupraSelen, obtiveram eficácia no teste de moléculas derivadas da vitamina K contendo selênio no combate à tuberculose. Hoje, grande parte dos medicamentos para o tratamento da doença é produzido a partir de antibióticos já existentes, pois a bactéria já é resistente aos remédios disponíveis no mercado.

A equipe do laboratório é formada, além dos alunos, por outros dois professores do Departamento de Química, Marcela Cristina de Moraes e Fernando de Carvalho da Silva, e um do Departamento de Tecnologia Farmacêutica, Vitor Francisco Ferreira, além dos professores Luiz Augusto Basso (PUCRS) e Luiz Cláudio R. P. da Silva (UFRJ), sob coordenação de Vanessa.

“Obtivemos nove substâncias derivadas da vitamina K. Três dessas nove moléculas se mostraram efetivas. Mais ainda que o fármaco utilizado contra a tuberculose. Essas três foram testadas em cepas isoladas e resistentes a medicamentos utilizados. E os resultados foram positivos. Duas delas passaram no teste de toxicidade”, ressalta a professora.

Isso quer dizer que, a despeito do reconhecimento e da divulgação científica em curto prazo, num longo período é possível que alguma indústria farmacêutica se interesse em produzir algum medicamento em larga escala. “Com os resultados que obtivemos, a gente vislumbra um cenário que podemos ter obtido um medicamento capaz de combater essa enfermidade”, afirma Vanessa.

Tempo e recursos


Em média, o processo de produção de um fármaco pode levar 14 anos ou mais e, durante esse período, passa por ao menos quatro etapas muito rigorosas, dede a pesquisa até os testes clínicos. “Nesse processo estão envolvidos vários agentes como governo, universidades, laboratórios, agências regulatórias e a realização de testes em cobaias animais ou humanas. Ainda estamos na pesquisa básica, mas estamos bem avançados. Já temos testes em cepas resistentes, ensaios de toxidade e divulgação dos resultados científicos.”

A premiação recebida contempla um espaço para publicação gratuita na revista inglesa de divulgação científica PeerJ Life & Environment, além de uma entrevista para a versão online sobre o trabalho desenvolvido no SupraSelen. Entretanto, se por um lado a pesquisa já ganhou reconhecimento e incentivo internacional, por outro aqui no Brasil sofre com a falta de recursos.

“A gente depende de recursos públicos, que no momento estão escassos ou zerados. E aí fica difícil avançarmos para outras fases, que já seria a fase de testes em animais”, avalia Vanessa.

Sem recursos de editais públicos, Vanessa sente que o esforço dela e de toda a equipe está ameaçado. “Apesar do otimismo que eu tenho, não posso deixar de dizer que tudo o que a gente vem fazendo parece que não é prioridade para o governo brasileiro. Nossa pesquisa e o meu trabalho foram reconhecidos com mais calor na Europa, não aqui no Brasil”, aponta. A professora conta que semanalmente tira dinheiro do próprio bolso para comprar produtos para o laboratório. “Não temos apoio de quem deveria nos dar sustentação.”

O prêmio, de acordo com Vanessa, é uma injeção de ânimo. “Mas não paga as contas do laboratório. Isso não é o suficiente.” A aluna Pâmella da Silva Cordeiro, que trabalha no laboratório há alguns anos, também acredita que o resultado é impressionante em comparação com os recursos disponíveis. “No meio de um cenário de corte financeiro relacionado à pesquisa, o prêmio traz ânimo para continuarmos nosso trabalho mesmo em tempos difíceis. O grupo consegue excelentes resultados porque somos unidos e focados no objetivo de utilizar a ciência em benefício da sociedade”, comemora.

Fonte: Gazetadopovo

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